Quando há uns anos atrás treinava acerrimamente a bendita musculação no imaculado Lisboa Ginásio Clube, estava longe de presumir que, uns anos depois, viria a constituir as primeiras enxadadas de um movimento, fundamentalmente conceptual, com o objectivo de relevar o mundo do fitness enquanto indústria do corpo e maleita social.
É bem sabido que o mundo dos ginásios está em premente evolução, crescimento económico exponencial inquestionável... O que é menos bem sabido, sub-repticiamente conhecido, é que labora, por trás desse negócio do fitness, uma poderosa barganha desconstrutiva, um insaturável poder kitsch de atracção maquiavélica das mentes mais débeis, uma arma de destruição do corpo na sua vertente estrutural mais sensível e profunda.
Tentemos explicar aquilo que ainda não foi compreendido... É indubitável que, em termos funcionais, a prática desportiva apresenta vantagens para a saúde humana. Estas vantagens estão bem condimentadas, demonstradas e justificadas por estudos, fundamentalmente anglo-saxónicos, bem estruturados e mais ou menos qualificados em termos metodológicos. Como é óbvio, esses mesmos estudos tratam de questões puramente funcionantes, de variáveis de funções corpóreas como a frequência cardíaca ou a tensão arterial, assim como o feedback relativo ao estado de dor/sofrimento e/ou de bem-estar. Referimo-nos a factores facilmente mensuráveis, a dados facilmente modificáveis pelas condições de treino e as constantes de condicionamento físico. Assim, só pode ser perfeitamente óbvio que um treino de força muscular resulte no aumento da força, assim como um treino cardiovascular resulte no aumento da resistência cardíaca, tendo sempre em conta que essa mesma força e essa mesma resistência são facilmente mensuráveis, mediante a utilização de instrumentos adequados.
Porém, e é aqui que a ‘história’ verdadeiramente começa, é muito limitativo se falarmos só das variáveis funcionais pelas quais se rege o nosso corpo. Para além da “forma física” enquanto sinónimo de força masculina e elegância dionisíaca, existe uma outra “forma”, aquela que foi assumida pelas mais requintadas expressões artísticas do Renascimento, a “forma” enquanto “estrutura”, enquanto “morfologia”, enquanto “postura”. Fiquemos, portanto, ancorados nesta última palavra: postura. Definida de muitas e variadas maneiras, todos os profissionais de saúde (os verdadeiros profissionais) sabem que o termo postura se refere a uma forma de enquadramento estrutural corporal que varia muito consoante o corpo e a Pessoa que o compõe. A postura, ou seja, o alinhamento corporal, o arrumo posicional, o arranjo estrutural, a morfologia, é diferente de pessoa para pessoa e não há quem possua uma que possa ser considerada perfeita.
Na realidade, a postura, muito mais do que um determinado posicionamento corporal, e decerto muito mais do que uma mera posição da coluna vertebral, depende do estado de mais ou menos tensão e mais ou menos flexibilidade do conjunto das cadeias de músculos e fáscias (cadeias musculares) que desenham e configuram o nosso corpo. Estas mesmas “cadeias musculares” não são enquadráveis nos livros de anatomia e nos manuais convencionais. Aliás, quando a Madame Mézières, uma fisioterapeuta francesa que fundou um método de trabalho postural em 1947, fundou o conceito de “cadeia muscular”, como base explicativa de um conjunto de músculos presentes na parte de trás do corpo sempre fortes e curtos demais, estava já consciente de que o seu modelo, a sua visão, seria profundamente revolucionário. Talvez por isso a sua grande obra tenha recebido o nome, eventualmente pomposo, de “Révolution en Gymnastique Orthopédique”.
O método Mézières, mãe dos métodos de Reeducação Postural, um método que viria a abalar os conceitos da antiga “ginástica sueca” de Per Henrik Ling (1766-1839), viria estabelecer que a postura, e a deformidade postural, deriva do estado de tensão da musculatura posterior. Segundo Mézières, são os excessos musculares que provocam as deformidades posturais, e somente um trabalho holístico de alongamento global das cadeias musculares encurtadas pode trazer “ordem estrutural” a um corpo corrompido pelas hegemonias músculo-tendinosas.
O método Mézières é, portanto, o grande método de Reeducação Postural. Mas não é o único, pois uma série de outros métodos viriam a ser encabeçados por discípulos de Mézières (Bertherat, Godelieve Denys-Struyf, Peyrot, Souchard, Busquet, Nisand, entre outros). E para além disso, paralelamente estaria a ser desenvolvida a “integração estrutural” ou rolfing de Ida Rolf, método anglo-saxónico que viria igualmente a dar origem a uma série de outros métodos-filhos.
Todos estes métodos de Reeducação Postural baseiam-se em princípios de alongamento, relaxamento e libertação mio-fascial. Todos eles se baseiam numa visão individuada do sujeito, sendo que a saúde do corpo músculo-esquelético está dependente do alongamento global de conjuntos musculares diferentemente retraídos em diferentes indivíduos. Para os citados métodos, quase todo o esforço físico significa deformação. Por exemplo, os proponentes de Mézières defendem que o mais leve trabalho com pesos irá aumentar a tensão da cadeia muscular posterior, funcionando tal como uma porta de entrada para a deformidade. Estes argumentos são já uma realidade científica, desde que os estudos electromiográficos demonstraram que é real que a musculatura posterior e da coluna está em tensão permanente. Sendo assim, o paradigma da “fraqueza muscular” como causa para a dor da coluna (ou outras a nível esquelético), secularmente defendido, aparece fortemente abalado. Também abaladas ficam, a meu ver, todas as visões de “saúde” existentes no trabalho de fortalecimento muscular. Ora, é precisamente aqui que surge a grande “questão”... Se o reforço muscular desrespeita as leis da “postura corporal”, então em que pé ficam todas aquelas actividades desportivas praticadas nos ginásios e clubes desportivos, actividades essas quase totalmente baseadas num modelo de fortalecimento e esforço físico condicionante?...
Pena, e isso preocupa-me bastante, é que os diversos profissionais da Educação Física e do desporto, nem sequer conheçam os paradigmas da Reeducação Postural; como tal, a questão colocada atrás não lhes ocorre. Aliás, a grande maioria dos profissionais do desporto permanece ainda no mundo simples de quem pensa que “postura” significa manter as “costas direitas” (os mesmos profissionais que cada vez mais se querem assumir como profissionais de saúde).
Ora, os argumentos apresentados justificam a necessidade de uma revisão dos conceitos da “ginástica sueca”, aliás de todos os conceitos que premeiam a actividade física realizada neste mundo moderno. Se, de certa maneira, certas actividades como o Yoga, o Tai-chi e o Pilates, já poderão constituir um “outro olhar” da questão, não posso deixar de dizer que ainda estamos muito longe de ter uma prática desportiva movida pelas leis Mézières (ou seja, uma prática mais leve, baseada nos princípios do alongamento global e do relaxamento psicossomático, uma prática mais próxima de certos conteúdos holísticos e humanistas...). A meu ver, é mesmo necessária uma verdadeira revolução da prática desportiva, pois uma nova práxis, mais holística e alicerçada na pessoalidade intrínseca a cada sujeito, surge como emergente necessidade.
Mas não é isso o que se passa. A revolução da prática desportiva está a ocorrer precisamente num sentido oposto. A pessoalidade está cada vez mais em jogo e as novas actividades do fitness aparecem desenhadas para reforçar, fortalecer... deformar...
Para além do mais, o fitness aparece, cada vez mais, como um conceito, um produto, e não uma salvaguarda da saúde humana. O fitness reveste-se, crescentemente, de uma linguagem cada vez mais associada ao marketing, sendo que vai vestindo a capa de uma verdadeira indústria. Recentemente, tenho defendido que o fitness consubstancia um exemplo do conceito de “indústria cultural” defendido por Theodor Adorno. E, a julgar pela magnitude do fenómeno, não podemos deixar de ver o mundo do fitness como mais uma expressão da “sociedade de mercado” ou da “cultura de massas”.
No seio desta cultura massificada, em que a obsessão pela “forma física” vai permeando as necessidades íntimas de um cada vez maior número de pessoas, o lugar para o trabalho corporal com vista à saúde está cada vez menos presente na sociedade. Parece só haver lugar para os “termos” mais esteticizantes, que são precisamente aqueles que mais tornam tudo tão maquinal e simplista.
O contexto atrás explicado aparece bem definido pelo conjunto crescente, e bem prolixo, de pessoas que apresentam um corpo maculado pela prática desportiva exagerada, que mais não é do que um corpo cheio de lesões e dores, assim como de desequilíbrios musculares e assimetrias esqueléticas. Muitas pessoas procuram os meus serviços com vista a resolverem problemas que a indústria do fitness gravou nos seus corpos, sem dó nem piedade. E se estas pessoas não estiverem prontas para entrar num trabalho que é claramente morfoanalítico, e como tal lento e pouco dado à atracção própria do marketing, irão facilmente abandonar as sessões de terapia que tenho para lhes dar (preferindo mergulhar no mundo da fisioterapia clássica, concebida para tratar sintomas e não as causas dos problemas, ou então, preferindo mergulhar no mundo mais atractivo das medicinas não convencionais, sendo que estas perpetuam a questão da imagética cultural massificada).
Claro que aquilo que está mal no fitness não é só o facto de o mesmo se basear num conceito de anti-saúde postural. O que está mal no fitness não é só também o facto de perpetuar um pouco essa forma massificada e pop de se viver na sociedade moderna. Outras questões mais específicas advertem para a minha preocupação. O mau profissionalismo, o facto de os diversos instrutores beberem todos da mesma cartilha e eternizarem e propagarem a mesma forma errática de treinar, alongar, mexer... A débil formação dos mesmos instrutores, com muitos deles a não possuírem formação superior, o desrespeito das actividades físicas mais variadas pela normal biomecânica do corpo, a realização de exercícios com intrepidez e risco indubitável para a saúde das estruturas, as denominadas Lesões por Esforço Repetido, e todo um conjunto interminável de razões...
E não podemos esquecer a máquina financeira que alicerça esse mesmo mundo. Por exemplo, os instrutores e empregados do Holmes Place parecem ser tirados do submundo do ‘Metrópolis’ de Fritz Lang ou dos “clones” do ‘Admirável Mundo Novo’ de Huxley: falam todos da mesma maneira, parecem todos funcionar de forma artificial e anti-humana, perdem-se em estratégias de imagem e de mercado (até mesmo no momento de dar as aulas) e gastam um tempo ilimitado em tácticas auto-promocionais.
Ora, não é este o mundo que eu quero para mim! Quero um mundo onde a complexidade, a unicidade e o respeito pelo “corpo frágil” de cada um sejam tidos em conta com uma certa normalidade. Quero um mundo onde figure uma certa atitude reflexiva, assim como uma constante batalha contra o simplismo e a ilusão social.
É bem sabido que o mundo dos ginásios está em premente evolução, crescimento económico exponencial inquestionável... O que é menos bem sabido, sub-repticiamente conhecido, é que labora, por trás desse negócio do fitness, uma poderosa barganha desconstrutiva, um insaturável poder kitsch de atracção maquiavélica das mentes mais débeis, uma arma de destruição do corpo na sua vertente estrutural mais sensível e profunda.
Tentemos explicar aquilo que ainda não foi compreendido... É indubitável que, em termos funcionais, a prática desportiva apresenta vantagens para a saúde humana. Estas vantagens estão bem condimentadas, demonstradas e justificadas por estudos, fundamentalmente anglo-saxónicos, bem estruturados e mais ou menos qualificados em termos metodológicos. Como é óbvio, esses mesmos estudos tratam de questões puramente funcionantes, de variáveis de funções corpóreas como a frequência cardíaca ou a tensão arterial, assim como o feedback relativo ao estado de dor/sofrimento e/ou de bem-estar. Referimo-nos a factores facilmente mensuráveis, a dados facilmente modificáveis pelas condições de treino e as constantes de condicionamento físico. Assim, só pode ser perfeitamente óbvio que um treino de força muscular resulte no aumento da força, assim como um treino cardiovascular resulte no aumento da resistência cardíaca, tendo sempre em conta que essa mesma força e essa mesma resistência são facilmente mensuráveis, mediante a utilização de instrumentos adequados.
Porém, e é aqui que a ‘história’ verdadeiramente começa, é muito limitativo se falarmos só das variáveis funcionais pelas quais se rege o nosso corpo. Para além da “forma física” enquanto sinónimo de força masculina e elegância dionisíaca, existe uma outra “forma”, aquela que foi assumida pelas mais requintadas expressões artísticas do Renascimento, a “forma” enquanto “estrutura”, enquanto “morfologia”, enquanto “postura”. Fiquemos, portanto, ancorados nesta última palavra: postura. Definida de muitas e variadas maneiras, todos os profissionais de saúde (os verdadeiros profissionais) sabem que o termo postura se refere a uma forma de enquadramento estrutural corporal que varia muito consoante o corpo e a Pessoa que o compõe. A postura, ou seja, o alinhamento corporal, o arrumo posicional, o arranjo estrutural, a morfologia, é diferente de pessoa para pessoa e não há quem possua uma que possa ser considerada perfeita.
Na realidade, a postura, muito mais do que um determinado posicionamento corporal, e decerto muito mais do que uma mera posição da coluna vertebral, depende do estado de mais ou menos tensão e mais ou menos flexibilidade do conjunto das cadeias de músculos e fáscias (cadeias musculares) que desenham e configuram o nosso corpo. Estas mesmas “cadeias musculares” não são enquadráveis nos livros de anatomia e nos manuais convencionais. Aliás, quando a Madame Mézières, uma fisioterapeuta francesa que fundou um método de trabalho postural em 1947, fundou o conceito de “cadeia muscular”, como base explicativa de um conjunto de músculos presentes na parte de trás do corpo sempre fortes e curtos demais, estava já consciente de que o seu modelo, a sua visão, seria profundamente revolucionário. Talvez por isso a sua grande obra tenha recebido o nome, eventualmente pomposo, de “Révolution en Gymnastique Orthopédique”.
O método Mézières, mãe dos métodos de Reeducação Postural, um método que viria a abalar os conceitos da antiga “ginástica sueca” de Per Henrik Ling (1766-1839), viria estabelecer que a postura, e a deformidade postural, deriva do estado de tensão da musculatura posterior. Segundo Mézières, são os excessos musculares que provocam as deformidades posturais, e somente um trabalho holístico de alongamento global das cadeias musculares encurtadas pode trazer “ordem estrutural” a um corpo corrompido pelas hegemonias músculo-tendinosas.
O método Mézières é, portanto, o grande método de Reeducação Postural. Mas não é o único, pois uma série de outros métodos viriam a ser encabeçados por discípulos de Mézières (Bertherat, Godelieve Denys-Struyf, Peyrot, Souchard, Busquet, Nisand, entre outros). E para além disso, paralelamente estaria a ser desenvolvida a “integração estrutural” ou rolfing de Ida Rolf, método anglo-saxónico que viria igualmente a dar origem a uma série de outros métodos-filhos.
Todos estes métodos de Reeducação Postural baseiam-se em princípios de alongamento, relaxamento e libertação mio-fascial. Todos eles se baseiam numa visão individuada do sujeito, sendo que a saúde do corpo músculo-esquelético está dependente do alongamento global de conjuntos musculares diferentemente retraídos em diferentes indivíduos. Para os citados métodos, quase todo o esforço físico significa deformação. Por exemplo, os proponentes de Mézières defendem que o mais leve trabalho com pesos irá aumentar a tensão da cadeia muscular posterior, funcionando tal como uma porta de entrada para a deformidade. Estes argumentos são já uma realidade científica, desde que os estudos electromiográficos demonstraram que é real que a musculatura posterior e da coluna está em tensão permanente. Sendo assim, o paradigma da “fraqueza muscular” como causa para a dor da coluna (ou outras a nível esquelético), secularmente defendido, aparece fortemente abalado. Também abaladas ficam, a meu ver, todas as visões de “saúde” existentes no trabalho de fortalecimento muscular. Ora, é precisamente aqui que surge a grande “questão”... Se o reforço muscular desrespeita as leis da “postura corporal”, então em que pé ficam todas aquelas actividades desportivas praticadas nos ginásios e clubes desportivos, actividades essas quase totalmente baseadas num modelo de fortalecimento e esforço físico condicionante?...
Pena, e isso preocupa-me bastante, é que os diversos profissionais da Educação Física e do desporto, nem sequer conheçam os paradigmas da Reeducação Postural; como tal, a questão colocada atrás não lhes ocorre. Aliás, a grande maioria dos profissionais do desporto permanece ainda no mundo simples de quem pensa que “postura” significa manter as “costas direitas” (os mesmos profissionais que cada vez mais se querem assumir como profissionais de saúde).
Ora, os argumentos apresentados justificam a necessidade de uma revisão dos conceitos da “ginástica sueca”, aliás de todos os conceitos que premeiam a actividade física realizada neste mundo moderno. Se, de certa maneira, certas actividades como o Yoga, o Tai-chi e o Pilates, já poderão constituir um “outro olhar” da questão, não posso deixar de dizer que ainda estamos muito longe de ter uma prática desportiva movida pelas leis Mézières (ou seja, uma prática mais leve, baseada nos princípios do alongamento global e do relaxamento psicossomático, uma prática mais próxima de certos conteúdos holísticos e humanistas...). A meu ver, é mesmo necessária uma verdadeira revolução da prática desportiva, pois uma nova práxis, mais holística e alicerçada na pessoalidade intrínseca a cada sujeito, surge como emergente necessidade.
Mas não é isso o que se passa. A revolução da prática desportiva está a ocorrer precisamente num sentido oposto. A pessoalidade está cada vez mais em jogo e as novas actividades do fitness aparecem desenhadas para reforçar, fortalecer... deformar...
Para além do mais, o fitness aparece, cada vez mais, como um conceito, um produto, e não uma salvaguarda da saúde humana. O fitness reveste-se, crescentemente, de uma linguagem cada vez mais associada ao marketing, sendo que vai vestindo a capa de uma verdadeira indústria. Recentemente, tenho defendido que o fitness consubstancia um exemplo do conceito de “indústria cultural” defendido por Theodor Adorno. E, a julgar pela magnitude do fenómeno, não podemos deixar de ver o mundo do fitness como mais uma expressão da “sociedade de mercado” ou da “cultura de massas”.
No seio desta cultura massificada, em que a obsessão pela “forma física” vai permeando as necessidades íntimas de um cada vez maior número de pessoas, o lugar para o trabalho corporal com vista à saúde está cada vez menos presente na sociedade. Parece só haver lugar para os “termos” mais esteticizantes, que são precisamente aqueles que mais tornam tudo tão maquinal e simplista.
O contexto atrás explicado aparece bem definido pelo conjunto crescente, e bem prolixo, de pessoas que apresentam um corpo maculado pela prática desportiva exagerada, que mais não é do que um corpo cheio de lesões e dores, assim como de desequilíbrios musculares e assimetrias esqueléticas. Muitas pessoas procuram os meus serviços com vista a resolverem problemas que a indústria do fitness gravou nos seus corpos, sem dó nem piedade. E se estas pessoas não estiverem prontas para entrar num trabalho que é claramente morfoanalítico, e como tal lento e pouco dado à atracção própria do marketing, irão facilmente abandonar as sessões de terapia que tenho para lhes dar (preferindo mergulhar no mundo da fisioterapia clássica, concebida para tratar sintomas e não as causas dos problemas, ou então, preferindo mergulhar no mundo mais atractivo das medicinas não convencionais, sendo que estas perpetuam a questão da imagética cultural massificada).
Claro que aquilo que está mal no fitness não é só o facto de o mesmo se basear num conceito de anti-saúde postural. O que está mal no fitness não é só também o facto de perpetuar um pouco essa forma massificada e pop de se viver na sociedade moderna. Outras questões mais específicas advertem para a minha preocupação. O mau profissionalismo, o facto de os diversos instrutores beberem todos da mesma cartilha e eternizarem e propagarem a mesma forma errática de treinar, alongar, mexer... A débil formação dos mesmos instrutores, com muitos deles a não possuírem formação superior, o desrespeito das actividades físicas mais variadas pela normal biomecânica do corpo, a realização de exercícios com intrepidez e risco indubitável para a saúde das estruturas, as denominadas Lesões por Esforço Repetido, e todo um conjunto interminável de razões...
E não podemos esquecer a máquina financeira que alicerça esse mesmo mundo. Por exemplo, os instrutores e empregados do Holmes Place parecem ser tirados do submundo do ‘Metrópolis’ de Fritz Lang ou dos “clones” do ‘Admirável Mundo Novo’ de Huxley: falam todos da mesma maneira, parecem todos funcionar de forma artificial e anti-humana, perdem-se em estratégias de imagem e de mercado (até mesmo no momento de dar as aulas) e gastam um tempo ilimitado em tácticas auto-promocionais.
Ora, não é este o mundo que eu quero para mim! Quero um mundo onde a complexidade, a unicidade e o respeito pelo “corpo frágil” de cada um sejam tidos em conta com uma certa normalidade. Quero um mundo onde figure uma certa atitude reflexiva, assim como uma constante batalha contra o simplismo e a ilusão social.
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Publicado no Jornal 'Semanário', dia 25 de Julho de 2008
3 comentários:
Este post é uma palhaçada. O treino de força só vem melhorar a saúde das pessoas. Para além de fortalecer a massa muscular k é fundamental para o suporte e postura do corpo humano aumenta tb a densidade óssea que é óptimo para quem sofre de problemas a esse nível. è preciso é de treinar com orientação de alguem preparado para isso. e o k falha muito ainda é o profissionalismo e competencias dos instrutores de muitos ginásios.
Meu caro.
Como Licenciado que sou na área do exercício e saúde, ao ler este artigo só posso ficar triste, pela sua visão redutora e completamente deturpada do que se passa no mundo do fitness.
Mais uma vez demonstra, que o grande problema da sua classe, é a de não conseguir conviver com as outras classes profissionais, até podia compreender se você tivesse 50 anos, agora com 27.
Penso que devia começar a ler alguma coisa sobre multidisciplinaridade, para tentar perceber a importância de cada um, em vez de tentar denegrir uma classe que pelo que percebi, o assusta e muito.
Estarei sempre disponível para debater questões que julgue pertinentes, e assim evitar que escreva tamanhos disparates.
hugocipriano@iol.pt
Ficarei a aguardar um contacto seu.
Cumprimentos
Hugo Eduardo Cipriano
Caro Luis.
Fiquei muito feliz em ler sua visão a respeito do que acontece dentro das academias de ginastica.Inúmeras pessoas passam boa parte das suas vidas com essa sobrecarga em ossos e articulações sem a menor organização corporal.Essa falta de organização como voce mesmo citou em outras palavras fortalece ainda mais as assimetrias. A longo prazo isso deteriora ossos, tecidos articulações levando muitas vezes a lesões crônicas. A avaliação física de uma academia(ginasio) deve orientar seus clientes de forma que as atividades não acelerem ou perpetuem condições desfavoráveis para o corpo. Eu entendo os comentários anteriores. Já trabalhei alguns anos e infelizmente essa é a mentalidade que impera nesses centros. Uma visão reducionista onde o conceito de postura ainda é visto como a muitos anos atrás. Onde fortalecer a musculatura posterior ainda é a maneira mais coerente de se tratar lombalgias.
Parabéns,
Luiz (são paulo, brasil)
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