segunda-feira, junho 25, 2007

Por que não publicam os fisioterapeutas portugueses?

Aqui está uma questão que me faço diariamente e para a qual não possuo resposta evidente. Por que razão há tão poucos artigos de fisioterapeutas em revistas de referência nacional ou internacional?... Esta questão, sempre que a faço, leva-me a níveis de angústia indescritíveis. Temos por aí uma longa e escamosa faixa de fisioterapeutas académicos, que dão aulas nas mais ou menos prestigiosas escolas superiores de saúde e Fisioterapia, homens e mulheres sem um verdadeiro sentido do dever académico; dão aulas, fazem os seus testes, mas não investigam, ou então, se investigam não publicam aquilo que estudaram.
Por que razão os fisioterapeutas têm tanto medo de publicar? Será que não sabem escrever?... Mas a linguagem científica é tão simples... Será que não têm conhecimentos suficientes de estatística e de metodologia de investigação?... Mas teriam sempre os artigos de revisão bibliográfica e outros de opinião... Será que estão desmotivados?... Nos Estados Unidos da América, os professores que não publicam são convidados a sair das universidades... Será esta uma motivação suficiente? Ou falta simplesmente a vontade de dar nas vistas?...
Ora, eu já há muito que perdi todas as ilusões relativamente à pertença a um clima académico. Os meios académicos são somente para os “amigos”, para os “filhos”, para os “apadrinhados”... E, por isso, temos por aí tantas escolas de Fisioterapia onde impera a fraca formação científica e a total incapacidade de produção de publicações (que é, no fundo, a única prova decente de um trabalho académico de qualidade).
Também não percebo por que é que as monografias de final de curso das diversas escolas existentes, assim como as teses de mestrado (ex. mestrado em Ciências da Fisioterapia), não se transformam num artigo numa publicação de referência... A única área onde ainda se vai publicando qualquer coisa é a “Fisioterapia no desporto”, mas mesmo assim os artigos desta área não são facilmente encontráveis em revistas como a Acta Reumatológica Portuguesa e outras de qualidade insofismável. Não percebo realmente por que há tão pouco interesse, tão pouco orgulho, na produção articulista. É uma falha considerável da parte dos fisioterapeutas portugueses. A criação de estudos e a sua respectiva publicação compõe uma fonte indubitável de respeitabilidade interdisciplinar. Mas como os fisioterapeutas têm as suas vidas familiares e pessoais muito cheias e, portanto, não se dedicam à produção científica, eis que os outros profissionais continuam a achar que os nossos métodos são inexistentes ou ineficazes... Não os censuro, pois não têm onde ler sobre o que fazemos...

sexta-feira, junho 22, 2007

O estado das publicações científicas portuguesas

Sempre achei que a qualidade de um investigador se revia pelo “estado da arte” da sua produção científica em forma de artigos em publicações especializadas. Na realidade, aquilo que define uma boa investigação não é a respectiva publicação da mesma em livro ou catálogo, mas sim num artigo científico numa revista que inclui revisores de qualidade, assim como critérios de revisão objectivos.
Ora, se a qualidade da investigação irá reflectir-se na qualidade da publicação, não pode deixar de se considerar que o contrário também é verdadeiro e que, portanto, a qualidade do artigo irá denunciar a qualidade do trabalho subjacente. Mas é aqui que residem todos os males. Se a qualidade de investigação em Portugal é indubitavelmente crescente o mesmo não se pode dizer acerca da qualidade das nossas publicações científicas.
Por minha parte posso dizer que tenho a minha pequena quota parte de artigos publicados e não sinto qualquer motivação para voltar a publicar. E esta desmotivação, esta clara falta de vontade, advém em muito de experiências que tenho tido no campo da publicação científica.
Como se já não bastasse o facto de todas as publicações possuírem regras próprias para o tratamento e avaliação do artigo, incluindo as regras de escrita das referências bibliográficas (as quais deveriam ser universais, dentro de cada campo de estudo especializado), não se pode compreender a razão pela qual muitas publicações possuem tempos de revisão do artigo que ascendem a um ano. Por que leva tanto tempo um revisor a fazer a respectiva revisão de um artigo? Será por ter muitas outras responsabilidades? Então diminuam-se os seus “cargos”, para poder melhor desempenhar os “poucos” que possui. O facto de a revisão de um artigo demorar quantidades enormes de tempo constitui um factor de óbvia desactualização da publicação.
Gostaria de contar uma experiência que considero muito negativa. No início do ano passado submeti um artigo à Revista Motricidade, sendo que determinado responsável declarou que não deveria deixar passar o prazo de meio ano, sendo que findo esse prazo deveria questionar acerca do estado do artigo. Ora, é isso mesmo que aconteceu; findo o prazo enviei uma mensagem perguntando-me acerca do artigo em questão, sendo que recebi como resposta qualquer coisa como “o seu artigo encontra-se em revisão”. Esta mesma resposta foi-me dada três meses depois, e outros três meses depois. Achei estranho tal “revisão demorada” do artigo, pois um outro artigo que tinha mandado posteriormente para a revista (cerca de dois meses após o primeiro) resultou num envio das correcções cerca de seis ou sete meses após a sua submissão. Há cerca de um mês, mais de um ano após ter submetido o primeiro artigo e cerca de um ano após ter submetido o segundo, não tinha notícias de qualquer um dos artigos, pelo que enviei nova mensagem. Eis o resultado: não sabiam do primeiro artigo e quanto ao segundo estavam a enviar-me as respectivas correcções (exactamente as mesmas que já me tinham enviado vários meses antes). Mais tarde, pedem-me que faça a revisão do formato do segundo artigo (não me explicando o que pretendiam) e afirmar, relativamente ao primeiro artigo, que o mesmo foi rejeitado em Outubro do ano passado. Ora, levaram portanto todos estes meses para me dizerem que o artigo foi rejeitado e ainda por cima não apresentaram qualquer justificação acerca da respectiva rejeição. Quanto ao segundo artigo, ainda procuro que dêem notícias sobre o “estado de publicação” do mesmo.
Ora, este tipo de tratamento dos manuscritos de um investigador não pode ser admitido. E tenho tido experiências semelhantes com outras revistas. Por exemplo, a Revista Psicologia prometeu-me há três meses que no prazo máximo de um mês um artigo meu enviado e corrigido seria finalmente aceite ou rejeitado. Mais de dois meses depois de findo o prazo, ainda não sei nada sobre o respectivo artigo.
E também poderia contar imensas coisas sobre a aceitação de artigos com tratamentos estatísticos incorrectos. E também sobre a formatação incorrecta da linguagem ou aspecto finais de artigos enviados e entretanto publicados.
O estado da publicação científica em Portugal é profundamente calamitoso. Não admira que não possuamos publicações de referência internacional! O que acontece é que o abandalhamento tipicamente português também predomina na nossa divulgação científica.
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Publicado em Cartas ao Director do Jornal Público, dia 24 de Junho de 2007

sexta-feira, junho 15, 2007

Stretching Global Activo em artigo na Sportlife

É com enorme prazer que anuncio a saída de um artigo meu sobre Stretching Global Activo, explicativo dos principais princípios do método e de imagens das principais posturas de alongamento, na revista Sportlife do próximo mês (Julho 2007). Penso que é de subscrever a realização de artigos como este, os quais têm a população desportiva como principal alvo informativo e educativo.
Entretanto, este blog irá passar a ser mais conhecido, pois virá referido no artigo. Por motivos de boa educação e de sensatez geral, e de modo a evitar quadros desastrosos já antes ocorridos, resolvi proibir a entrada de comentários anónimos no blog. Assim, se mais alguém pretender realizar um comentário ofensivo será obrigado a denunciar o seu nome, assim como outros dados. Penso que, tendo em conta que dou a cara e o corpo neste blog, não é injusto pedir o mesmo dos outros.

sábado, junho 02, 2007

O correio do corpo. Novas vias da antiginástica

É o título do segundo grande livro de Thérèse Bertherat. E que posso eu dizer desta obra que pode, eventualmente, ser encomendada pela Internet?... Muita coisa, visto que a mesma é simplesmente fantástica na forma de ver os terapeutas corporais e os fundamentos do método Mézières.
Num dos capítulos do livro, Bertherat fala de outras terapias. Contesta a eficácia de Feldenkrais e de outras técnicas funcionais, assumindo que as mesmas permitem a função de forma batoteira e compensada. Contesta igualmente a eficácia das técnicas de relaxamento, por assumir que as mesmas estão enfocadas somente nos sintomas (tratados pelo poder persuasivo da voz do terapeuta) e não nas causas. E, por outro lado, elogia o Rolfing, realizando aquela fantástica comparação entre este método e o método Mézières (que muitos poderiam ter feito, mas ainda actualmente não tende a ser realizada).
Gostaria de citar a seguinte passagem do livro: “O rolfing é praticamente, que eu saiba, a única técnica ocidental que não contradiz os princípios de base do método Mézières: já é muito. Ida Rolf sabe como é importante alongar o conjunto da musculatura (...). E, lógico, construiu o seu método a partir da ideia de que a estrutura determina a função, e não o inverso. Mas... Não sei como dizer de outro modo. Ida Rolf não é Françoise Mézières. Ela não fez a mesma descoberta. Pode-se dizer que Ida Rolf foi mais longe nas suas pesquisas [sobretudo por ter dado grande importância ao papel das fáscias], mas no seu percurso não se deteve o suficiente diante do que considero primordial: a anatomia da musculatura posterior que faz com que ela esteja, inevitavelmente, na origem de toda a deformação adquirida. Ida Rolf morreu sem conhecer a descoberta de Françoise Mézières.”
É fantástica a forma como Bertherat explicou que tem sido vaiada por muitos mézièristas que não compreendem a amplitude da sua visão biopsicossocial do ser humano. Para Bertherat, o método Mézières é fantasticamente mais Global do que aquilo que é pressuposto por muitos mézièristas.
Como é tão bom possuir a inteligência criadora capaz de fomentar a comparação entre técnicas. Por exemplo, Bertherat não o diz na sua obra mas vale a pena dizer que terapias funcionais como Bobath e a técnica Alexander não se interessam pela estrutura mas somente pela facilitação da função; daí não serem verdadeiras terapias com vista à causalidade. E, por exemplo, ninguém tem a ousadia de comparar a visão das fáscias da abordagem dos “Trilhos anatómicos” com o método de Busquet (“Cadeias musculares”)? Dizer que o primeiro método é “rolfista” e que o segundo é “mézièrista” é expressar muito pouco de uma natureza teorética de métodos tão prolífica!
A verdadeira intelectualidade expressa-se pela criatividade com que comparamos, e criamos o eclectismo visionário das coisas. Obras como a da Bertherat, em que a mesma realiza tais comparações, são de leitura obrigatória.