sexta-feira, junho 22, 2007

O estado das publicações científicas portuguesas

Sempre achei que a qualidade de um investigador se revia pelo “estado da arte” da sua produção científica em forma de artigos em publicações especializadas. Na realidade, aquilo que define uma boa investigação não é a respectiva publicação da mesma em livro ou catálogo, mas sim num artigo científico numa revista que inclui revisores de qualidade, assim como critérios de revisão objectivos.
Ora, se a qualidade da investigação irá reflectir-se na qualidade da publicação, não pode deixar de se considerar que o contrário também é verdadeiro e que, portanto, a qualidade do artigo irá denunciar a qualidade do trabalho subjacente. Mas é aqui que residem todos os males. Se a qualidade de investigação em Portugal é indubitavelmente crescente o mesmo não se pode dizer acerca da qualidade das nossas publicações científicas.
Por minha parte posso dizer que tenho a minha pequena quota parte de artigos publicados e não sinto qualquer motivação para voltar a publicar. E esta desmotivação, esta clara falta de vontade, advém em muito de experiências que tenho tido no campo da publicação científica.
Como se já não bastasse o facto de todas as publicações possuírem regras próprias para o tratamento e avaliação do artigo, incluindo as regras de escrita das referências bibliográficas (as quais deveriam ser universais, dentro de cada campo de estudo especializado), não se pode compreender a razão pela qual muitas publicações possuem tempos de revisão do artigo que ascendem a um ano. Por que leva tanto tempo um revisor a fazer a respectiva revisão de um artigo? Será por ter muitas outras responsabilidades? Então diminuam-se os seus “cargos”, para poder melhor desempenhar os “poucos” que possui. O facto de a revisão de um artigo demorar quantidades enormes de tempo constitui um factor de óbvia desactualização da publicação.
Gostaria de contar uma experiência que considero muito negativa. No início do ano passado submeti um artigo à Revista Motricidade, sendo que determinado responsável declarou que não deveria deixar passar o prazo de meio ano, sendo que findo esse prazo deveria questionar acerca do estado do artigo. Ora, é isso mesmo que aconteceu; findo o prazo enviei uma mensagem perguntando-me acerca do artigo em questão, sendo que recebi como resposta qualquer coisa como “o seu artigo encontra-se em revisão”. Esta mesma resposta foi-me dada três meses depois, e outros três meses depois. Achei estranho tal “revisão demorada” do artigo, pois um outro artigo que tinha mandado posteriormente para a revista (cerca de dois meses após o primeiro) resultou num envio das correcções cerca de seis ou sete meses após a sua submissão. Há cerca de um mês, mais de um ano após ter submetido o primeiro artigo e cerca de um ano após ter submetido o segundo, não tinha notícias de qualquer um dos artigos, pelo que enviei nova mensagem. Eis o resultado: não sabiam do primeiro artigo e quanto ao segundo estavam a enviar-me as respectivas correcções (exactamente as mesmas que já me tinham enviado vários meses antes). Mais tarde, pedem-me que faça a revisão do formato do segundo artigo (não me explicando o que pretendiam) e afirmar, relativamente ao primeiro artigo, que o mesmo foi rejeitado em Outubro do ano passado. Ora, levaram portanto todos estes meses para me dizerem que o artigo foi rejeitado e ainda por cima não apresentaram qualquer justificação acerca da respectiva rejeição. Quanto ao segundo artigo, ainda procuro que dêem notícias sobre o “estado de publicação” do mesmo.
Ora, este tipo de tratamento dos manuscritos de um investigador não pode ser admitido. E tenho tido experiências semelhantes com outras revistas. Por exemplo, a Revista Psicologia prometeu-me há três meses que no prazo máximo de um mês um artigo meu enviado e corrigido seria finalmente aceite ou rejeitado. Mais de dois meses depois de findo o prazo, ainda não sei nada sobre o respectivo artigo.
E também poderia contar imensas coisas sobre a aceitação de artigos com tratamentos estatísticos incorrectos. E também sobre a formatação incorrecta da linguagem ou aspecto finais de artigos enviados e entretanto publicados.
O estado da publicação científica em Portugal é profundamente calamitoso. Não admira que não possuamos publicações de referência internacional! O que acontece é que o abandalhamento tipicamente português também predomina na nossa divulgação científica.
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Publicado em Cartas ao Director do Jornal Público, dia 24 de Junho de 2007

4 comentários:

Chris Maia disse...

Oi, Luis

Eu entendo perfeitamente seu dilema qto as publicações em revistas científicas. Se quer publicar seus artigos numa revista séria, procure por aquelas que tenham um bom conceito, seja a nível nacional ou internacional. Até hoje eu e minhas amigas estamos aguardando a publicação de nosso artigo em uma revista científica de Fisioterapia. Um site bom para vc pesquisa sobre a qualidade dos artigos científicos em fisioterapia é o site do pedro: http://www.pedro.fhs.usyd.edu.au/portugese/index_portugese.html É o site da fisioterapia baseada em evidência. Não deixe de dar uma olhada.

bjos

Chris Maia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Chris Maia disse...

Procure também por revistas que sejam indexadas em alguma base de dados, como Medline, Lilacs, Latindex, entre outras, pois isso mostra a credibilidade das revistas nomeio científico e o rigor que terão quanto a publicação de um artigo, sem falar na credibilidade e qualidade de um artigo publicado numa revista indexada. Entre em www.scielo.org e pesquise sobre as revistas cientificas e veja em que base de dados estão indexadas.
Espero estar ajudando.
bjos

Chris Maia disse...

Tente mandar algum artigo seu para a Revista Brasileira de Fisioterapia. Ela está indexada nas seguintes bases de dados:
CSA-Cambridge Scientific Abstracts
LATINDEX
LILACS
SciELO
SPORTDiscus
Eles são rigorosos qto a publicação, mas vale a pena tentar.
O site da revista é http://www.ufscar.br/rbfisio/