quinta-feira, abril 24, 2008

Stretching Global Activo: A Reeducação Postural Global aplicada ao desporto

Artigo publicado na revista 'SportLife' em Julho de 2007 (finalmente publicado no blog), constituindo este uma súmula dos princípios do Stretching Global Activo de Souchard
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O conceito de “desportista completo” começa a despoletar-se na cabeça de todos quantos estão envolvidos numa determinada prática física. O trabalho de força e de resistência muscular costuma protagonizar os mais diversos tipos de treino de fitness, sendo que, muitas vezes, o trabalho de alongamento é deixado para segundo plano. Neste contexto, é importante afirmar que um desportista só terá uma relação de integridade para com a prática física se incluir nos seus treinos o trabalho de alongamento muscular. E dentro deste tipo de trabalho é preciso atender à importância do alongamento de grupos musculares organizados em cadeias, preterindo o trabalho de alongamento analítico, nomeadamente o trabalho clássico.
No contexto do que foi dito, a técnica do Stretching Global Activo apresenta-se como o método ideal para obter a singeleza muscular e a saúde que todos os desportistas podem e devem ter quando realizam uma actividade de maior ou menor impacto.

Bases históricas do método
Há milénios que o ser humano, de uma forma mais ou menos inconsciente, tem tendência para trabalhar determinadas “posturas” com vista à criação da harmonia corporal e psíquica. O Yoga aparece neste contexto como um exemplo fundamental.
Porém, o treino de alongamentos com vista à harmonização corporal só passou a ser visto de uma forma mais metódica, incluindo a criação de metodologias de treino, através da visão de Per Henrik Ling (1766-1839), sabidamente o pai dos grandes fundamentos da ginástica moderna.
Mas ainda assim não podemos falar de “alongamento global” e do conceito de “cadeia muscular” até chegarmos ao ano de 1947, aquele que é apontado como o ano de criação do método Mézières. Se há semelhanças teoréticas do mesmo conceito na técnica anglo-saxónica Rolfing (Ida Rolf), ainda assim devemos considerar a fisioterapeuta Françoise Mézières como a mãe dos métodos de Reeducação Postural.
O método Mézières teve como grande dádiva a criação de uma forma verdadeiramente revolucionária de ver o corpo e a postura (vide a obra clássica Révolution en Gymnastique Orthopédique), sendo que, ao contrário do que até aí vinha sendo propugnado, as deformidades posturais e os problemas ortopédicos passaram a ser vistos como o resultado de excessos musculares, ou seja, encurtamentos da musculatura (principalmente posterior).
O método Mézières teve um impacto tão grande que, a partir dele, geraram-se muitos outros métodos de reeducação postural: a “Antiginástica” de Thérèse Bertherat, o método das “Cadeias musculares e articulares” de Godelieve Denys-Struyf, a “Morfoanálise” de Peyrot, a “Reeducação Postural Global” de Souchard, o método “Corpo e consciência” de Courchinoux, o método das “Cadeias musculares” de Busquet e a “Reconstrução Postural” de Nisand.
É indubitável que o mais famoso desses métodos é a Reeducação Postural Global de Philippe Souchard. E é a partir deste excelente método de trabalho de alongamento postural global que desembocará um outro método mais prático, passível de ser praticado individualmente ou em grupo, e adaptado à realidade desportiva: o Stretching Global Activo (SGA). É claro que são vários os princípios que norteiam o trabalho das posturas de SGA, muitos deles atípicos e contra-intuitivos. É disso que iremos falar seguidamente.

Princípios do Stretching Global Activo
O alongamento muscular apresenta-se como o mecanismo de treino mais importante para a criação de um corpo livre de tensão, reeducado no ponto de vista morfológico e postural. Sem o alongamento é impossível conseguir alterar a forma do corpo, no ponto de vista que norteia a sua correcta postura e alinhamento. O movimento, a força, o equilíbrio e a direccionalidade corpórea estão dependentes da capacidade de alongamento dos músculos (e também, muito importante, das fáscias – contributo de Ida Rolf). Fica, agora, a pergunta. Que tipos de músculos alongar?

Que músculos alongar?
Neste ponto, é preciso atender à existência de dois grandes tipos de músculos no nosso corpo: os músculos estáticos, que compreendem dois terços do total da nossa musculatura, são tónicos, poliarticulares, e constitutivamente fibrosos, e possuem uma função essencialmente postural e anti-gravítica; e os músculos dinâmicos, que compreendem a musculatura do movimento de grande amplitude, e que são de natureza fásica. A distinção entre estes dois tipos de músculos é fundamental, pois a criação de equilíbrio muscular está dependente da realização de um trabalho dissemelhante para estes dois tipos de musculatura. A musculatura tónica é muito forte e deve ser, portanto, inibida e alongada. É o caso da cadeia muscular posterior. A musculatura fásica é de natureza dinâmica e deve ser fortalecida. É o caso dos abdominais e quadricípetes, músculos que contrariam, de alguma forma, a acção da musculatura postural (sendo portanto constantemente inibidos por essa musculatura), mas que não chegam a possuir um antagonismo puro relativamente aos mesmos (o que explica que, por exemplo, o treino dos abdominais não contrarie completamente a acção lordosante da musculatura espinhal; deve também acrescentar-se que é impossível, por meio do treino de força de determinado músculo fásico – ou mesmo tónico – contrariar a acção de determinada musculatura tónica dominante. Daí que o treino dos extensores da coluna jamais permitirá a correcção de uma cifose dorsal e o treino dos abdominais jamais permitirá corrigir uma lordose lombar exagerada).
Daqui podemos retirar princípios de intervenção, segundo Souchard (Le champs clos): (1º) Só as posturas activas em alongamento podem devolver aos músculos hipertónicos, rígidos e dolorosos, a sua força, o seu comprimento e a sua flexibilidade; (2º) É necessário alongar os músculos da estática e os músculos suspensores, encurtando-se os músculos da dinâmica; e (3º) Só as posturas de estiramento progressivo cada vez mais globais permitem alongar todos os músculos rígidos, assim como reencontrar a retracção de origem.
A visão algo revolucionária, protagonizada pelos modelos de intervenção da Reeducação Postural, permite perceber que o alongamento analítico, assim como aquele que é realizado de forma generalizada a todo o tipo de músculos sem os distinguir entre tónicos e fásicos, radica numa visão clássica um tanto sobrepujada.
Na visão de Norbert Grau (Le stretching global actif: au service du geste sportif), há quatro tipos de músculos que devem ser alongados: (a) os músculos que dificultam ou freiam o movimento, nomeadamente aqueles que se encontram organizados em cadeias musculares posturais, (b) os músculos que executam o movimento (uns mais importantes para uns desportistas do que para outros), pois “a qualidade da sua contracção dependerá muito da sua flexibilidade”, (c) os músculos que acarretam compensações, (d) e os músculos que permitem um relaxamento geral (referimo-nos aqui, sobretudo, ao diafragma, “centro temporal inconsciente” e à zona lombar, “centro somático inconsciente”).

Os cinco princípios básicos do método SGA
Existem, portanto, segundo Norbert Grau, cinco grandes princípios que diferenciam o SGA do alongamento convencional:
(1) Os músculos existem na forma de cadeias musculares (são, nomeadamente: a cadeia posterior, a cadeia anterior e as cadeias anexas), princípio que irá implicar que o alongamento realizado seja tão global quanto a natureza da cadeia a alongar.
(2) Cada músculo tem diversas fisiologias, ou seja, cada músculo realiza diversas acções musculares, o que implica que seja necessário alongar um músculo em todas as suas acções simultaneamente.
(3) O alongamento dos músculos obedece à mesma fórmula física que os materiais viscosos e elásticos, ou seja, a fluagem muscular (que é a capacidade de alongamento permanente de um músculo) está dependente do produto da força de alongamento pelo tempo de alongamento, divididos ao coeficiente de elasticidade. Ora, visto que quanto maior a força mais doloroso é o alongamento, o alongamento deve depender portanto de um tempo mínimo, que é, no caso do alongamento global, muito superior ao que classicamente é utilizado. Grau recomenda a utilização de 10 minutos para cada auto-postura de SGA. Para além disso, como o aquecimento (seja na forma de exercício, seja na forma de calor local) aumenta o coeficiente de elasticidade, este fará com que o alongamento permanente seja menor, o que nos leva a afirmar que todo o alongamento deverá ser realizado a frio, antes da realização de qualquer exercício. É, realmente, um princípio revolucionário, principalmente porque os desportistas e instrutores tendem a realizar os alongamentos como modo de relaxamento no fim do treino (o que não está por si errado), argumentando que a sua realização no início dos exercícios acarreta um perigo aumentado de lesões. Ora, acontece que não há absolutamente estudo algum que tenha demonstrado que o alongamento a frio constitua um perigo acrescido de lesões para o atleta. Por outro lado, multiplicam-se os estudos que demonstram que a administração de calor antes da realização de alongamentos não aumenta a capacidade global de flexibilidade.
(4) Os nossos alongamentos serão sempre activos, ou seja, o alongamento em SGA deverá ser realizado por meio do trabalho activo e excêntrico da musculatura a alongar.
(5) A respiração é fundamental. Importa afirmar que o diafragma, em conjunto com outros músculos acessórios da inspiração, constitui uma cadeia muscular lordosante, sinérgica de todas as outras cadeias de músculos estáticos e posturais. Como tal, o alongamento só é globalmente possível se for acompanhado do relaxamento do diafragma. Por isso, todos os alongamentos devem ser realizados em expiração máxima.
São estes os princípios que norteiam a realização de alongamento em SGA. Em termos gerais, a auto-postura de alongamento deve ser realizada durante o tempo suficiente que permita a “deformação” dos tecidos, de uma forma activa (no contexto individual ou grupal) e respeitando a anatomia dos grupos musculares e o treino expiratório. O alongamento deve, igualmente, ser lento e progressivo.
Atente-se às figuras descritivas das diversas autoposturas de alongamento, assim como aos desportos em que os mesmos devem ser realizados.

Bibliografia recomendada (traduzida para português do Brasil):
Grau, N. (2003). SGA a serviço do esporte. Stretching global ativo. São Paulo: É realizações.
Souchard, Ph-E. (1996). O stretching global ativo. A reeducação postural global a serviço do esporte. São Paulo: Editora Manole LTDA.

terça-feira, abril 22, 2008

Prevenção e tratamento da raquialgia inespecífica: o paradigma do método Mézières, pai da Reeducação Postural

(Artigo de revisão e introdução à Reeducação Postural adaptado aos médicos de clínica geral e de "Medicina Física e de Reabilitação" e a outros profissionais de saúde)
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A dor raquidiana ou raquialgia constitui um dos mais proeminentes problemas de saúde pública e ocupacional do mundo moderno e industrializado (1), especificamente mais frequente nas sociedades urbanas (2, 3).
A raquialgia pode ser categorizada em específica, se a mesma deriva de um quadro etiológico bem definido, ou inespecífica, se associada a uma súmula de diversas variáveis biomorfológicas e psicossociais, as quais devem ser compreendidas sobretudo como factores de risco e não causais. O profissional de saúde médico tende a interpretar as dores da coluna sempre à face de um quadro clínico especificado, enquanto que o profissional de saúde não médico, como o fisioterapeuta, tende a valorizar fundamentalmente o quadro funcional da síndroma dolorosa, teoreticamente enfatizando a natureza multifactorial da raquialgia.
Assim sendo, pode ser dito que existe uma forma diferente de categorizar a dor por parte dos médicos em relação a outros profissionais de saúde. Mas ainda assim, no respeitante às metodologias de prevenção e tratamento da raquialgia, ou seja no respeitante à intervenção face à dor raquidiana, a distinção conceptual entre médicos e não médicos deixa de existir, acontecendo que em todos eles labora um conjunto elevadíssimo de mitos relativos à forma como devem ser manipulados os estados de dor e as idiossincrasias posturais mais singulares.
Se estabelecermos a “postura” como a verdadeira “personalidade” do corpo, então, devemos ter em conta a necessidade de realização de um trabalho de reeducação postural com ordem a reequilibrar o estado de um corpus desorganizado; pois, é certo que as alterações posturais são reequilibráveis, mesmo que as deformidades vigentes sejam do tipo estrutural.
É pena que tantos médicos e terapeutas desconheçam a teoria das “cadeias musculares” (4), segundo a qual o corpo aparece desenhado com um conjunto elevado de músculos posturais com uma tendência hipertónica insofismável. O corpo é constituído, portanto, por conjuntos de músculos com tendência para o encurtamento, os quais devem ser globalmente alongados, mas nunca fortalecidos.
Neste sentido, é importante fazer os profissionais entenderem que o treino de força da musculatura extensora jamais poderá ajudar no trabalho de reeducação postural. As lordoses e as escolioses são, por excelência, o resultado dessas retracções posteriores. Como tal, o tradicional fortalecimento da musculatura lombar constitui um erro de tratamento insuportavelmente prescrito pelos mais variados médicos e praticado pelos mais variados terapeutas, quando, no fundo, só os métodos baseados no alongamento da musculatura tónica – o principal é o método francês de Mézières (4-7) e todos aqueles que constituem uma evolução mais ou menos plagiada deste (Antiginástica de Bertherat (5), método das Cadeias Musculares e Articulares de Godelieve Denys-Struyf (8), morfoanálise de Peyrot, Reeducação Postural Global e Stretching Global Activo de Souchard (9-12), Corpo e Consciência de Courchinoux, e a Reconstrução Postural de Nisand (13-20)) – e no fortalecimento da musculatura abdominal profunda (o método Pilates é o mais paradigmático) poderão ajudar na reeducação da postura e alívio sintomático a longo prazo. Acrescido a isto, não podemos deixar de valorizar o papel da posturologia (21) da sofrologia (22) e da psicomotricidade (23).
Em Portugal, os fisioterapeutas desconhecem o método Mézières, utilizando mais a Reeducação Postural Global de Souchard. O método Mézières foi criado em 1947 pela fisioterapeuta francesa Françoise Mézières.
A descoberta de um conjunto novo de leis fisiológicas que o método Mézières viria dar relevo enceta por uma história que cada mézièrista conhece bem.
A própria Mézières conta: “Quando numa magnífica manhã de primavera de 1947, nós vimos entrar no nosso consultório uma paciente apresentando uma soberba ‘cifose’, nós estávamos bem longe de pressentir que a nossa profissão e o destino de toda uma legião de doenças iam ser mudadas.” (4)
Nesta época, a ginástica postural clássica era realizada com base nas leis fisiológicas que reforçam o papel do fortalecimento muscular, “ginástica” discípula dos princípios suecos de Per Henrik Ling (1766-1839). E foi esse mesmo tipo de trabalho que foi feito inicialmente com a doente. Mézières refere: “Nós tentámos, naturalmente, os exercícios de ‘endireitamento’ e o trabalho dos músculos dorsais com vista a fortalecer os extensores do dorso, mas a rigidez era tal que nada era possível realizar. Deitando, então, a nossa doente, no chão, em decúbito dorsal, nós realizámos a flexão dos ombros e vimos, para nosso espanto, produzir-se uma enorme lordose lombar. Para não acrescentar um mal à cifose já presente, nós realizámos a báscula posterior da bacia e, para nosso novo espanto, vimos a hiperlordose lombar esquivar-se e deslocar-se para a nuca.” (4)
Depois de repetida várias vezes a experiência, Mézières e os colegas acabaram por admitir uma verdade que viria a ser anunciada como uma nova lei: que “todo o encurtamento parcial da musculatura posterior leva a um encurtamento de todo o conjunto desta musculatura”, o que corresponde à noção de cadeia muscular, onde “toda a modificação de comprimento no sentido do alongamento ou no sentido do encurtamento de parte da musculatura tem repercussão sobre todo o conjunto”.
Françoise Mézières acrescenta: “Tanto que como o alongamento da musculatura lombar se traduzia pelo encurtamento da curvatura cervical, a lei é que o alongamento de um qualquer músculo posterior leva ao encurtamento do conjunto da musculatura posterior” (4). É o que costumamos chamar de noção de compensação.
Entrámos, efectivamente, num conjunto de noções variadas que inicialmente Mézières não dominava completamente. A fisioterapeuta resumia, efectivamente, as suas observações em duas partes: (1º) a musculatura posterior comporta-se como um só músculo e (2º) ela é sempre forte de mais, curta de mais, potente de mais. E, para os proponentes de Mézières, o princípio preliminar de que todas as deformações têm origem num encurtamento da musculatura posterior (incluindo a cifose) manteve-se incólume até à data.
Deve, também ser acrescentado que a própria Françoise Mézières terá cedo percebido que existia uma sinergia importante entre a musculatura posterior e o diafragma e os músculos rotadores internos (cadeia ântero-interna).
Assim sendo, a desmontagem dos princípios far-se-ia na forma de um tripé de intervenção, com vista à harmonia muscular ou bela forma: deslordose, expiração e desrotação.
Importante será referir que Mézières e os mézièristas sempre escreveram para os especialistas da área, e sempre num tom de ressalva tecnicista. Daí que muitos dos princípios de Mézières não tenham sido adequadamente traduzidos para uma linguagem mais globalizada e acessível. Os seus princípios ficaram efectivamente reservados a um conjunto particular de médicos e terapeutas. Para além disso, a natureza teorética e axiomática de certos princípios viria a ser afirmada de forma muitas vezes pouco científica e mal categorizada, o que fez com que muitas das bases teoréticas mais tarde laboriosamente elucidadas por Souchard (9, 10, 11) tivessem permanecido mal explicadas até que o anterior autor as tivesse enunciado.
A história dos métodos de reeducação postural pode ser resumida como sendo a história de um método de alongamento estrutural global que tende progressivamente a ser cada vez mais activo, autónomo e de natureza neuro-músculo-esquelética (abarcando progressiva e conteudisticamente um conjunto cada vez maior de cadeias musculares, tanto a nível posterior como a nível anterior). Nunca parte da tensão, do fortalecimento. Até mesmo o método Pilates, muitas vezes caracterizado como um método de fortalecimento, não é verdadeiramente um método de força muscular; é sim um método de estabilização vertebral com base no trabalho de solicitação da musculatura abdominal profunda.
O trabalho de fortalecimento da musculatura extensora ao nível dorsal em doentes com hipercifoses a este nível só poderá resultar em duas coisas: em nada de relevante, pois é impossível lutar contra uma retracção dominante com outra retracção oponente (e.g., 11, 12), ou num novo desequilíbrio.
O que é de certeza errado realizar, e que é efectivamente efectuado compulsivamente pela classe médica, é encaminhar os jovens para desportos como a natação. Este desporto, considerado por tantos uma panaceia para o tratamento de raquialgias, pode ajudar a aliviar os sintomas, mas jamais poderá constituir uma fonte fiável de reeducação da postura, pois, para além de estar ausente o factor gravidade e de ser impossível a realização dos alongamentos, a natação é destra na criação de diafragmas bloqueados em inspiração (o ponto de partida para as grandes deformidades posturais e.g., 4, 7, 12).
Infelizmente, muitas outras actividades com pontos em comum com os métodos de reeducação postural, como o Yoga, são também contra-indicadas para o trabalho postural, pelo excesso de posturas em hiperlordose (24). O Yoga não está efectivamente adaptado a pessoas com problemas de saúde músculo-esquelética.
Por outro lado, desportos como a musculação ou outros de activação muscular assimétrica podem ser considerados como a porta de entrada para a criação de uma série de desequilíbrios posturais. A musculação constitui um trabalho de “tensão”, lordosante, para além de sujeitar o corpo a um sistema de forças exageradas. Mas ainda assim, muitos médicos de família encaminham os seus “doentes de coluna” para os ginásios de fitness.
Começa, no entanto, a surgir uma luz ao fundo do túnel, pois já são vários os sítios onde se realiza trabalho de alongamento como base em ginástica postural adaptada a pessoas com patologia. Só falta mesmo consciencializar os profissionais de primeiro contacto para este facto, pois o que as pessoas com condições reumatológicas irão fazer face ao seu problema depende em muito daquilo que o seu médico aconselhar.

Referências bibliográficas

(1) Allan D, Waddell G. An historical perspective on low back pain and disability. Acta Orthop Scand Suppl 1989; 234: 1-23.
(2) Zanni G, Wick J. Low back pain: eliminating myths and elucidating realities. J Am Pharm Assoc 2003; 43 (3): 357-362.
(3) Coelho L, Almeida V, Oliveira R. Lombalgia nos adolescentes: identificação de factores de risco psicossociais. Estudo epidemiológico na região da grande Lisboa. Rev Port Saúde Pub 2005; 23 (1): 81-90.
(4) Mézières F. Révolution en gymnastique orthopédique – Causes et traitement des déviations vertébrales et algies d’origine musculaire. Paris; 1965.
(5) Bertherat T. Le corps a ses raisons. Paris: Éditions du Seuil; 1976.
(6) Denys-Struyf G. Le manual du mézièriste. Paris: Éditions Frison-Roche; 1995.
(7) Nisand M, Geimar S. La Méthode Mézières, un concept révolutionnaire. Mal de dos et déformations ne sont plus une fatalité. Lyon: Collection Santé Minute Les éditions Josette; 2005.
(8) Denys-Struyf G. Les chaînes musculaires et articulaires: la méthode G.D.S. Maloine, 1995.
(9) Souchard Ph-E. Le champs clos – Bases de la Rééducation Posturale Globale. Paris: Essai; 1998.
(10) Souchard Ph-E. Les scolioses – Traitement kinésithérapique et orthopédique. Paris: Masson; 2001.
(11) Souchard Ph-E. Le stretching global actif. Paris: Éditions Désiris; 1996.
(12) Grau N. Le stretching global actif au service du geste sportif. Paris: Le Pousoë; 2002.
(13) Nisand M. Le traitement des algies vertébrales par la Reconstruction Posturale. La lettre du médecin rééducateur 1997; 42. Publication périodique de l'ANMSR (Association Nationale des Médecins spécialistes en Rééducation).
(14) Nisand M. Formation continue: Premier stage de Reconstruction Posturale à Genève. Le Magazine 1997; 97.
(15) Nisand M. La Reconstruction Posturale: une physiothérapie normative de la forme. Mains Libres, la revue Romande de physiothérapie 1997.
(16) Jesel M. Reconstruction Posturale. Concept; traitement des dysmorphismes et des algies du tronc et des membres. Kinésithérapie Scientifique 1999; 387.
(17) Jesel M, Callens C, Nisand M. Rééducation fonctionnelle dans les cervicalgies communes selon la méthode de reconstruction posturale: concept et aspect technique. Kinésithérapie Scientifique 2001; 417.
(18) Nisand M, Callens C, Jesel M. À propos de certains dysmorphismes du pied: identification et correction par la Reconstruction Posturale®. KINÉSITHÉRAPIE, les annales 2002; 10: 37-42.
(19) Callens C. Entre le tout renforcement et le tout étirement, existe-t-il une autre voie ?.11ème Symposium Roman de Physiothérapie les 5 et 6 novembre 2004: "Les Chaînes Déchaînées" Lausanne-Suisse. Mains Libres, la revue Romande de Physiothérapie novembre 2004.
(20) Nisand M. La Reconstruction Posturale®, déviance ou évolution? 11ème Symposium Roman de Physiothérapie les 5 et 6 novembre 2004 : "Les Chaînes Déchaînées" Lausanne-Suisse. Mains Libres, la revue Romande de Physiothérapie novembre 2004.
(21) Collège International d'Études de la Statique, France.
(22) Caycedo A. L’aventure de la sophrologie. Paris: Ed. Retz; 1979.
(23) Vítor da Fonseca. Psicomotricidade: perspectivas multidisciplinares. Lisboa: Âncora editora; 2001.
(24) Myers TW. Anatomy trains – Myofascial meridians for manual and movement therapists. England: Elsevier Health Sciences, 2001.
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Publicada uma versão simplificada deste artigo na 'Medicina e Saúde' de Outubro de 2008

quarta-feira, abril 09, 2008

Pilates: “costas fortes e barriga lisa”

Apesar de ser instrutor de Pilates, para além de fisioterapeuta, não posso deixar de me entristecer com aquilo que muitos fazem do Pilates, nos termos do mais puro marketing estupidificante. O Pilates é um óptimo método de fortalecimento do “centro do corpo”. Ponto final. É, portanto, um método vantajoso no treino de força muscular, eliminando, em muito, a tensão muscular envolvida em vários outros desportos. Ponto final. Para além desta vantagem, associada à clara evidência de que constitui um método excelente para aliviar as dores da coluna, o Pilates, à semelhança de tudo o que acontece com o Fitness, é pura moda, e nada mais do que isso! O Pilates demarca-se pela sua beleza (lá está a questão da “forma” a prevalecer sobre o “conteúdo”). E isso ajuda na elucubração mental, digna de um verdadeiro “produto de crédito”. É raro vermos algum artigo ou publicidade acerca do Pilates que não seja claramente redutor no respeitante às verdadeiras potencialidades do método... e até dos seus perigos... Enquanto método de força que é, o Pilates possui imensas desvantagens em termos do processo tradicional – mézièrista – de reeducação postural. Mesmo estando relacionado com o fortalecimento selectivo da musculatura profunda, o Pilates não deixa de provocar uma série de compensações potencialmente “desequilibrantes”... Mas nada disto é citado nas tais “publicidades”. Claro... O Pilates, à semelhança das outras actividades de fitness pertence ao mundo do economato, da cultura de massas, o mundo supérfluo e utilitarista da verdade que se confunde com a Verdade. No meio de tudo isto, uma reserva especial para as palavras dos VivaFits “costas fortes e barriga lisa”: “costas fortes”? É isto uma vantagem ou uma desvantagem? Por que é que continuamos a bater no ceguinho do “paradigma do fortalecimento”? Quando é que vamos perceber que um dos grandes problemas da musculatura da coluna é, precisamente, que a mesma é excessivamente forte por natureza? O Pilates não fortalece as costas, fortalece a musculatura profunda do tronco... e isso não são “costas”. Mas lá está a questão da “cultura de massas”... As palavras “Costas fortes” são mais... “sugestivas” para os praticantes. E já agora... “barriga lisa”. Há algum estudo que tenha demonstrado que o Pilates torne a barriga realmente mais lisa, a cintura mais fina? Se o músculo transverso não é um músculo capaz de hipertrofiar, nem de “apertar”, então para que inventamos as tais “palavras sugestivas”?... Por outro lado, se o Pilates insiste tanto no fortalecimento abdominal será que os resultados vão consistir mesmo numa “barriga lisa”? A minha experiência é precisamente a contrária. Portanto, deixemos de enganar as pessoas... pode ser?...