Apesar de ser instrutor de Pilates, para além de fisioterapeuta, não posso deixar de me entristecer com aquilo que muitos fazem do Pilates, nos termos do mais puro marketing estupidificante. O Pilates é um óptimo método de fortalecimento do “centro do corpo”. Ponto final. É, portanto, um método vantajoso no treino de força muscular, eliminando, em muito, a tensão muscular envolvida em vários outros desportos. Ponto final. Para além desta vantagem, associada à clara evidência de que constitui um método excelente para aliviar as dores da coluna, o Pilates, à semelhança de tudo o que acontece com o Fitness, é pura moda, e nada mais do que isso! O Pilates demarca-se pela sua beleza (lá está a questão da “forma” a prevalecer sobre o “conteúdo”). E isso ajuda na elucubração mental, digna de um verdadeiro “produto de crédito”. É raro vermos algum artigo ou publicidade acerca do Pilates que não seja claramente redutor no respeitante às verdadeiras potencialidades do método... e até dos seus perigos... Enquanto método de força que é, o Pilates possui imensas desvantagens em termos do processo tradicional – mézièrista – de reeducação postural. Mesmo estando relacionado com o fortalecimento selectivo da musculatura profunda, o Pilates não deixa de provocar uma série de compensações potencialmente “desequilibrantes”... Mas nada disto é citado nas tais “publicidades”. Claro... O Pilates, à semelhança das outras actividades de fitness pertence ao mundo do economato, da cultura de massas, o mundo supérfluo e utilitarista da verdade que se confunde com a Verdade. No meio de tudo isto, uma reserva especial para as palavras dos VivaFits “costas fortes e barriga lisa”: “costas fortes”? É isto uma vantagem ou uma desvantagem? Por que é que continuamos a bater no ceguinho do “paradigma do fortalecimento”? Quando é que vamos perceber que um dos grandes problemas da musculatura da coluna é, precisamente, que a mesma é excessivamente forte por natureza? O Pilates não fortalece as costas, fortalece a musculatura profunda do tronco... e isso não são “costas”. Mas lá está a questão da “cultura de massas”... As palavras “Costas fortes” são mais... “sugestivas” para os praticantes. E já agora... “barriga lisa”. Há algum estudo que tenha demonstrado que o Pilates torne a barriga realmente mais lisa, a cintura mais fina? Se o músculo transverso não é um músculo capaz de hipertrofiar, nem de “apertar”, então para que inventamos as tais “palavras sugestivas”?... Por outro lado, se o Pilates insiste tanto no fortalecimento abdominal será que os resultados vão consistir mesmo numa “barriga lisa”? A minha experiência é precisamente a contrária. Portanto, deixemos de enganar as pessoas... pode ser?...
quarta-feira, abril 09, 2008
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4 comentários:
gostei muito do seu texto...da sua coerência argumentativa. Não sou fisioterapeuta, sou advogada e professora. Gosto muito de Pilates, mas tambem olho com desconfiança para todo marketing com promessas massificantes.
Sucesso e parabéns pelo blog.
Concordo, pratico pilates a um ano e embora goste muito e tenha realmente percebido que minhas dores na lombar e ombro diminuiram consideravelmente, a minha barriga é um ponto em questão, porque observei um aumento da mesma e não uma barriga lisa...No mais se não for para enganar os outros indico a prática.
Olá boa Noite!
Depois de ler o seu artigo, não posso de deixar de lhe sugerir que leia o livro escrito por Maria Mendes Larsen , Pilates By Maria Larsen.
Na verdade Pilates é muito mais do que exercício, fitness. Pilates é um método funcional, para a vida. É uma filosofia de vida. A prática regular, concentrada e bem orientada de Pilates transforma a mente e o corpo do praticante. Não tenho duvidas do que estou a afirmar. Sou portuguesa e pratico pilates em Portugal. " Barriga lisa e costas fortes " , sei muto bem donde vem essa expressão Nesses locais não se pratica Pilates. Este método corpo-mente, pratica-se em poucos lugares em Portugal. Mas existem. Aí a "guerra" entre a fisioterapia e o Pilates não existe. Há, sim, interacção entre as duas disciplinas e outras em prol do bem estar daqueles que precisam de reabilitação. E esse é que é o caminho do futuro.
Olá, lendo o artigo vejo sim alguém preocupada com o bem estar dos outros. Você tem razão quanto ao aspecto comercial atrelado ao Pilates caiu. Lamentavelmente muitos "profissionais" de Pilates ao desconhecer certas patologias tentam interferir promovendo pioras significativas nos quadros clínicos com o uso do Pilates. Estou referindo-me específicamente à tentativa (mal sucedida, diga-se de passagem) de intervir em escolioses idiopáticas do adolescente estruturadas. A patologia é muito séria e cada vez mais encontramos "profissionais" de Pilates assumindo riscos incalculáveis querendo "tratar" uma escoliose com as caraterísticas que já mencionei.
Não há na literatura nenhuma, nem a mais mínima referência de sucesso de tratamento de escoliose (com acima) com Pilates.
Por isso queria pedir aqui a quem ler este artigo e os cometários não permitam que jovens sejam submetidos a um pseudo-tratamento com Pilates.
Entendemos muito bem a capacidade de fortalecimento corporal que o Pilates proporciona, apenas pedimos que não o usem para tentar tratar uma escoliose, estarão promovendo um grande prejuizo a essa/e jovem escoliótico.
Caso desejem mais informações sobre a patologia é só acessar www.projetoescoliose.org
Um abraço
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