Ontem fui efectivamente ao Viver Saúde na FIL. Entrei por volta das 15h30. Saí por volta das 15h50. Em toda a minha vida nunca gostei muito de supermercados e aquela Feira não passa disso mesmo: de um verdadeiro mercado do corpo. As várias terapias - serão assim tão diferentes umas das outras?... - são promovidas como uma forma de escape face ao mundo, como a solução única e prometedora de cura total de mente e corpo. Camas ortopédicas com efeito vibratório, plataformas vibratórias que, supostamente, ajudam a perder peso, lipoaspiração com laser, terapias não complementares à base de massagens, que mais parecem amassamentos de pão que se prepara para o forno, terapias com pedras e spas libertadores... todas estas terapias competem entre si para erradicar o ser da sua própria unidade. Ao invés de se promover a capacidade de se ouvir o próprio corpo e de se promover a resolução dos conflitos psicofísicos (os quais não podem ser feitos sem um certo nível de "sofrer"), promove-se o escapismo total, a fuga aos problemas e a fuga à (auto)consciência. Estas terapias não promovem a reconstrução do Esquema corporal, promovem a construção de um ser sem corpo e sem expressividade, como se o corpo fosse um inimigo a abater que é a causa indissolúvel dos problemas pessoais.
E depois temos os Pilates, os Chi-kungs, o Fitness na sua mais árdua expressão, em que qualquer semelhança com a lógica do produto e do mercantilismo abrasador é pura coincidência. Aquelas músicas altíssimas, aquela ausência de arte, aqueles exercícios sincopados e massificados, aqueles desportos de violência intrépida... Enfim, quando entrei naquela Feira senti-me como um judeu que visita um campo de concentração. Senti-me profundamente deprimido, por ver quanto a humanidade se perde. É o mesmo tipo de depressão que sinto quando um doente que se adapta ao meu trabalho, ao final de uns meses, me pergunta se agora pode ir para a natação ou para um ginásio de musculação (é a angústia de saber que - apesar de tanto esforço - não consegui passar verdadeiramente o meu conceito ao doente). E os próprios terapeutas?... Fazem formações atrás de formações, não sei se aprendem se sub-aprendem. Fazem os Pilates e os vários tipos de massagem, contribuindo para desintegrar a verdadeira ideia de Corpo como um Todo, uma unicidade fenomenológica que não pode ser reduzida a "tipos" vários de terapias. O bom terapeuta é aquele que reconhece um paradigma no seio de um doente determinado, não é aquele que faz tudo e mais alguma coisa. A meu ver, a super-formação não faz de um terapeuta um verdadeiro terapeuta. O bom terapeuta define-se pela capacidade que tem de experienciar a factualidade do doente e do modelo em que melhor se insere. Portanto, o nosso trabalho só faz sentido se for autónomo, e livre de comercialisses, nomes e mais nomes de técnicas e super-especializações; o nosso trabalho só faz sentido se o doente tiver em mente a transformação plástica e inventiva do doente, independentemente das porcarias que são inventadas e vistas pelos formadores como uma "panaceia".
Sim, meus senhores, caminhamos para um mundo em que a lei do economato toma todas as mentes, praticamente sem excepção, e transforma-as em agentes passivos e sem capacidade expressiva. As diversas formações existentes no campo da Fisioterapia são mais a expressão de um negócio, de um produto, de uma falsa sistematização, do que da Verdade do raciocínio e holismo que se pretende num Terapeuta Global. É, mais uma vez, a sociedade do espectáculo e da indústria a ter prevalência sobre a antiguidade clássica e verdadeiramente Global. Viro-me para onde me virar, não vejo um único terapeuta interessado em ler, estudar e pensar. Só vejo terapeutas interessados em fazer formações e pós-graduações, umas atrás das outras, como receptáculos de um conhecimento recebido acriticamente. Não há "Inteligência" no mundo dos Terapeutas. Por mim, sinto-me bastante sozinho nesta tarefa de agente pensador e crítico do mundo que me envolve. E sinto, cada vez mais, que a distância entre o fisioterapeuta, o instrutor de Fitness, o massagista e a esteticista é cada vez menor. É uma sensação de desolação, de insularidade total... uma angústia e uma solidão ímpares. Mas de uma coisa não tenho dúvidas: prefiro esta angústia, esta consciência, a cair na mentira e na alienação em que caem os proponentes da lógica do mercado. Prefiro viver desolado a anti-depressivos do que ser mais um entre uma indústria de autómatos - aparentemente saudáveis - tomados por um autismo com aspecto de oligofrenia. Sim, nós os portugueses estamos crescentemente mais próximos da lógica anglo-saxónica, estamos verdadeiramente a perder a nossa identidade cultural. E ainda dizem que a Globalização é uma utopia... A Globalização está a destruir-nos e a desagregar a Unidade e a complexidade do Ser. Aqui entre nós, apenas rezo a Deus para que nunca me deixe cair na tentação de perder a minha identidade e a minha idiossincrasia, pois a "Traição do Eu" e a "Loucura da normalidade" (Arno Gruen) são realidades cada vez mais irreversíveis.