A frase “A culpa é da comunicação social” aparece no artigo assinado por Henrique Monteiro no Expresso de 14/08/10. Com minha grande satisfação, Henrique Monteiro admite no seu texto que existe aquilo que podemos designar de um ‘mau jornalismo’. E não é precisamente esse mesmo ‘mau jornalismo’ que tem constituído o bode expiatório de tantos criminosos e governantes?... Não é precisamente também o ‘mau jornalismo’ que tem sido catapultado pelos governos como justificação para a censura ou simplesmente o ‘controlo prévio’ de informação?...
Penso que a temática tem sido pouco desenvolvida entre os leitores dos jornais e, principalmente, entre os próprios jornalistas. É que, a meu ver, o jornalismo é e será sempre a ‘pedra filosofal’ que permitirá o verdadeiro alcance da verdade, tanto em termos epistemológicos, como em termos pragmaticamente políticos e sociológicos. O jornalismo é verdadeiramente o instrumento das autênticas democracias e de uma certa justiça com verdadeiro sentido de ser. E, não tenho dúvidas, de que os jornalistas de hoje são os historiadores do amanhã.
Infelizmente, ou porque falta um verdadeiro sentido de ética, ou porque faltam critérios científicos de prática jornalística (não obstante a existência dos estatutos editoriais...), a grande maioria dos jornais, tanto da imprensa escrita como da televisão e outros media, pecam pelo absurdo, pela prática de um ‘jornalismo’ de sensações, caindo na armadilha da mentira, do exagero e, sobretudo, do desenquadramento lógico das notícias. Por exemplo, várias vezes tenho criticado o jornalismo por empolar um estudo polémico (portanto, mediático), ignorando centenas de outros estudos sérios que desmentem esse estudo isolado.
O jornalismo não pode ser espectáculo. O espectáculo não passa de entretenimento. O jornalismo não pode ser mero conjunto de ‘fait-divers’. O jornalismo não pode ser pura imagética ao serviço da lógica mercantilista. Mas, sendo-o na sua maioria, é necessário que os poucos jornais de qualidade ainda existentes continuem não só a expressar a sua qualidade, como deverão, mais do que têm feito, dar lugar à reflexão ética e voz objectiva e não censurada aos leitores e provedores do leitor. Defendo a criação e exposição dos critérios de prática do jornalismo do jornal em causa. Defendo também que os textos dos jornalistas e também dos leitores sejam sujeitos a critérios de qualidade que passem mais pela objectividade do que pela lógica editorial do jornal.
Publicado na Carta da Semana no Expresso de 21/08/10