“As estações do corpo”. É o título do terceiro livro de Thérèse Bertherat, criadora da “antiginástica”. É, provavelmente, o mais enfadonho dos três que já li da autora. Tem uma certa qualidade literária, mas, talvez por isso mesmo, não consegue fugir à maçada de uma leitura pouco técnica, pouco “terapêutica”. A obra não fala de métodos, não fala de casos. Esboça a temática das “estações comportamentais do corpo” ou da forma como o corpo reage e funciona nas diferentes estações do ano, e segundo diferentes ritmos (inicialmente externos e depois internos). Neste ponto, a obra, assim como todo o método de Bertherat, antecipa a inclusão de questões relacionadas com a “medicina tradicional chinesa” nos métodos de Reeducação Postural (assim sendo, o senhor Courchinoux não é, de forma alguma, iniciático no tratamento destas questões). Com um tom bastante pessoal, e um tanto afectivo, a obra toca-nos, apesar de não possuir o esplendor técnico dos seus primeiros livros.
A propósito da temática das “cadeias musculares”, gostaria de passar um excerto de um capítulo do livro, o qual fala da natureza das cadeias posterior e anterior do corpo (repare-se na natureza apriorística da informação seguinte, real nos seus preâmbulos, mas um tanto fora de prazo no seu desenvolvimento):
“Se, em lugar de lendas, prefere a realidade anatómica, saiba que temos na parte de trás do corpo uma possante cadeia muscular, que vai do crânio aos calcanhares, e mais além, pois ela prende-se sob os pés e segura os dedos na sua trama.
Essa cadeia, como um tecido sem falha, estende milhares de fibras de um lado ao outro do corpo, mas somente na parte de trás. As fibras dessa cadeia muscular prendem-se nos nossos ossos por tendões sólidos. Encaixam-se umas nas outras, sobrepõem-se em camadas ajustadas, estão admiravelmente dispostas, com simetria, de cada lado das vértebras.
Ao se contraírem, comandam todas as articulações, todos os movimentos. As fibras musculares dessa cadeia – posterior – têm uma constituição muito robusta, excepcional. São capazes de se contraírem com força e, quando contraídas, é muito difícil afrouxarem.
Com efeito, essa cadeia pode tornar-se uma verdadeira cilada na qual nos atiramos. Ficamos emaranhados nas fibras dos nossos músculos, presos como o coelho que cai na armadilha cujos laços vão-se apertando à medida que ele se debate.
Na frente, tudo é bem diferente. Não há cadeia anterior [aqui está um ponto discutível...], mas sim músculos isolados que caminham separados ao longo, (...), sobre o nosso pescoço, peito, abdómen e parte dianteira das coxas. (...)
Atrás, os músculos da cadeia posterior, bem organizados, agrupados, solidários entre si, pretendem participar de todos os nossos movimentos. (...) Ao se contrair, forçosamente [a cadeia posterior] diminui de comprimento. Se a musculatura estiver permanentemente contraída estará permanentemente mais curta.
A composição química e a aparência dos músculos modifica-se. De apenas rígidos, tornam-se contraídos, encolhidos. Os nossos músculos, repito, comandam as articulações; são eles que fazem mexer os ossos do esqueleto e, por conseguinte, são eles, e somente eles, que dão ao nosso corpo a forma que tem. Ao aproximar as articulações, os músculos são capazes de dobrar a coluna, mantê-la arqueada, exagerar as curvaturas e achatar as vértebras.
As bordas ósseas das vértebras, juntadas à força, comprimem os nossos “discos” delicados, sensíveis, e a raiz dos nervos, mais sensível ainda. (...)
Enquanto atrás se desenrola esta cena – dramática – o que fazem os músculos da frente? Bocejam, os músculos da frente. Estão inibidos pelos seus parceiros-antagonistas que os proíbem de agir. Aumentam de volume, ficam mais pesados entre os seus tendões. Diante dos olhos, lá os temos flácidos e molengas. Concluímos apressadamente que toda a nossa musculatura é muito fraca e precisa de ser corrigida.
Na verdade, a musculatura gosta de ser tratada com tacto e inteligência. Gosta de ser compreendida. Os músculos que ficam atrás só precisam de ser afrouxados, alongados. Os músculos da frente não precisam de nada. [outra parte questionável...]. Se são fracos é porque as contracções dos seus antagonistas impedem que, por sua vez, eles se contraiam. São, desse jeito, submetem-se a essa lei, a esse mecanismo peculiar. Solte a cadeia aferrolhada que existe atrás e verá que, na frente, os músculos deixados em liberdade conseguirão, sozinhos, mudar de forma, mudar de aspecto.
É detrás que a forma do nosso corpo se decide [princípio mézièrista basilar]. Somos esculpidos por trás e quase sempre amassados sem complacência.”
A propósito da temática das “cadeias musculares”, gostaria de passar um excerto de um capítulo do livro, o qual fala da natureza das cadeias posterior e anterior do corpo (repare-se na natureza apriorística da informação seguinte, real nos seus preâmbulos, mas um tanto fora de prazo no seu desenvolvimento):
“Se, em lugar de lendas, prefere a realidade anatómica, saiba que temos na parte de trás do corpo uma possante cadeia muscular, que vai do crânio aos calcanhares, e mais além, pois ela prende-se sob os pés e segura os dedos na sua trama.
Essa cadeia, como um tecido sem falha, estende milhares de fibras de um lado ao outro do corpo, mas somente na parte de trás. As fibras dessa cadeia muscular prendem-se nos nossos ossos por tendões sólidos. Encaixam-se umas nas outras, sobrepõem-se em camadas ajustadas, estão admiravelmente dispostas, com simetria, de cada lado das vértebras.
Ao se contraírem, comandam todas as articulações, todos os movimentos. As fibras musculares dessa cadeia – posterior – têm uma constituição muito robusta, excepcional. São capazes de se contraírem com força e, quando contraídas, é muito difícil afrouxarem.
Com efeito, essa cadeia pode tornar-se uma verdadeira cilada na qual nos atiramos. Ficamos emaranhados nas fibras dos nossos músculos, presos como o coelho que cai na armadilha cujos laços vão-se apertando à medida que ele se debate.
Na frente, tudo é bem diferente. Não há cadeia anterior [aqui está um ponto discutível...], mas sim músculos isolados que caminham separados ao longo, (...), sobre o nosso pescoço, peito, abdómen e parte dianteira das coxas. (...)
Atrás, os músculos da cadeia posterior, bem organizados, agrupados, solidários entre si, pretendem participar de todos os nossos movimentos. (...) Ao se contrair, forçosamente [a cadeia posterior] diminui de comprimento. Se a musculatura estiver permanentemente contraída estará permanentemente mais curta.
A composição química e a aparência dos músculos modifica-se. De apenas rígidos, tornam-se contraídos, encolhidos. Os nossos músculos, repito, comandam as articulações; são eles que fazem mexer os ossos do esqueleto e, por conseguinte, são eles, e somente eles, que dão ao nosso corpo a forma que tem. Ao aproximar as articulações, os músculos são capazes de dobrar a coluna, mantê-la arqueada, exagerar as curvaturas e achatar as vértebras.
As bordas ósseas das vértebras, juntadas à força, comprimem os nossos “discos” delicados, sensíveis, e a raiz dos nervos, mais sensível ainda. (...)
Enquanto atrás se desenrola esta cena – dramática – o que fazem os músculos da frente? Bocejam, os músculos da frente. Estão inibidos pelos seus parceiros-antagonistas que os proíbem de agir. Aumentam de volume, ficam mais pesados entre os seus tendões. Diante dos olhos, lá os temos flácidos e molengas. Concluímos apressadamente que toda a nossa musculatura é muito fraca e precisa de ser corrigida.
Na verdade, a musculatura gosta de ser tratada com tacto e inteligência. Gosta de ser compreendida. Os músculos que ficam atrás só precisam de ser afrouxados, alongados. Os músculos da frente não precisam de nada. [outra parte questionável...]. Se são fracos é porque as contracções dos seus antagonistas impedem que, por sua vez, eles se contraiam. São, desse jeito, submetem-se a essa lei, a esse mecanismo peculiar. Solte a cadeia aferrolhada que existe atrás e verá que, na frente, os músculos deixados em liberdade conseguirão, sozinhos, mudar de forma, mudar de aspecto.
É detrás que a forma do nosso corpo se decide [princípio mézièrista basilar]. Somos esculpidos por trás e quase sempre amassados sem complacência.”
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