Começo por dizer que, enquanto fisioterapeuta mézièrista que sou, sinto que tenho o direito de falar dos diversos métodos de Reeducação Postural, principalmente aqueles que advieram do método original da fisioterapeuta Françoise Mézières. Mas devo dizer que não sou formado neste grande método de que vou falar, a Reconstrução Postural, nem conheço qualquer português que tenha formação no mesmo; o que é uma lamentável pena... pois este é um método brilhante, uma técnica que conseguiu chegar ao âmago daquilo que se pode considerar como um verdadeiro método reeducativo.
O método da Reconstrução Postural foi criado em 1992, a partir do método Mézières. O primeiro constitui não só uma fonte de renovação metodológica relativamente ao método original (Mézières), mas também o resultado de um trabalho exploratório e casuístico especialmente significativo, o que pode ser explicado pelo facto de a Reconstrução Postural ter sido desenvolvida num contexto académico (nomeadamente, no contexto da formação base e pós-graduada da Universidade Louis Pasteur – Estrasburgo, França).
Como já terá sido referido anteriormente neste espaço, o método Mézières compõe uma “revolução” na forma de ver as deformidades posturais, sendo que as vê enquanto resultado de excessos musculares, os quais estão ligados ao papel da musculatura postural, de natureza tónica, excessivamente forte, e proeminente sobretudo na região posterior do corpo.
Se o método Mézières aparece historicamente relacionado com uma descoberta referente ao ano de 1947 e à grande obra “Révolution en Gymnastique Orthopédique” (1949), o método da Reconstrução Postural deriva deste primeiro, muito mais tarde nos anos 90, sem nunca se ter interposto a ele, antes acrescentando, revalorizando e homenageando, e realizando os necessários acrescentos atentatórios de uma evolução.
A Reconstrução Postural difere do método Mézières em diversos aspectos, nomeadamente (Callens, 2004; Jesel, 1999; Nisand, 1997, 2004):
(a) Enquanto Mézières se referia à existência de três cadeias musculares posturais (a grande cadeia posterior, a cadeia ântero-interna – diafragma e psoas – e a cadeia braquial), Nisand acrescenta e descreve pormenorizadamente uma nova cadeia muscular – a cadeia anterior do pescoço.
(b) Nisand propõe uma nova interpretação da lógica das compensações corporais (reacções anormais de defesa à dor e ao alongamento excessivo), salientando a importância de um conjunto de respostas neurológicas aquando do movimento (respostas evocadas) e o contributo dos centros neurológicos centrais para o surgimento das deformidades. Assim sendo, o tratamento passa não só pelo alongamento global das cadeias musculares (Mézières), mas também pelo trabalho de consciencialização corporal com base na estimulação neuro-sensorial (ou seja, na modificação do padrão de excitabilidade muscular das cadeias posturais), de modo a que os alongamentos possuam em efeito de neuroplasticidade adaptativa eficaz e não só em efeito de modificabilidade temporária do tónus.
(c) O método da Reconstrução Postural propõe uma outra forma de interpretar o aparecimento de dor. A dor não tem origem na própria deformidade, mas sim na incapacidade que a estrutura hipertónica (rígida) tem de se deformar.
A partir destas diferenças, o método de tratamento por Mézières por meio do estiramento em “contracção isométrica excêntrica” (contracção estática anti-gravidade) transforma-se num meio de tratamento por “solicitação activa induzida”, ou seja, da postura trabalhada passivamente passa-se para um trabalho de carácter mais activo, mediante a facilitação de padrões de postura por meio de “pontos-chave” (à semelhança do papel dos mesmos “pontos-chave” de controlo do método Bobath de tratamento das disfunções neurológicas), partes do corpo que são sujeitas a movimentos de grande amplitude com o objectivo de induzir ou solicitar determinado padrão postural. As posturas em Reconstrução Postural são obtidas, portanto, a partir de pontos periféricos precisos, e são mantidas não por tempos necessariamente muito prolongados (Mézières), mas até ao ponto em que se verifique a normalização tónica. O agravamento da dismorfia é, ao contrário do que ocorre com o método Mézières, uma condição obrigatória para se obter a postura normal, é um ponto de passagem para a obtenção de um padrão postural correcto.
Diferenças metodológicas levam a diferentes técnicas, sendo que muitas das manobras mézièristas foram modificadas ou suprimidas: o mézièrista tende a evitar as compensações, enquanto que o “reconstrutor” tende a lidar com todas as posturas que possam ser efectivas no sentido de se obter uma inibição do padrão; o mézièrista identifica a dismorfia como algo “anormal”, enquanto que o reconstrutor identifica a dismorfia como um ponto de passagem para a obtenção de um padrão postural vantajoso; o mézièrista tende a encontrar uma postura correctiva e a mantê-la o máximo de tempo possível, enquanto que o reconstrutor tende a manter a “postura” só até que exista exaustão e extinção da resposta evocada (normalização tónica); as autoposturas são impensáveis na Reconstrução Postural, pois o próprio sujeito não consegue educar as suas próprias reacções tónicas correctivas; os proponentes da Reconstrução Postural não falam de “correcção morfológica” como os mézièristas, mas sim de “restauração morfológica”, a qual tem por base não o alongamento mio-fascial correctivo mas sim o alongamento com vista à normalização de padrões de activação tónica das cadeias musculares.
Resta dizer que a Reconstrução Postural constitui o mais científico de todos os métodos de Reeducação Postural. É incontável o número de artigos e o número de publicações de outro género construídos com base em estudos de Nisand e colegas. Infelizmente, os Senhores da Reconstrução Postural não têm publicado em inglês; somente em francês e em revistas francesas, o que complica o conhecimento mais universal do método. Aquele que constitui o paradigma científico de Mézières, ou seja, a Reconstrução Postural, é também o mais desconhecido dos métodos reeducativos. Talvez o seu desconhecimento derive da humildade dos investigadores. Talvez derive da humildade do método. Mas, se depender de mim, este método receberá toda a fama e reconhecimento que o mesmo merece.
O método da Reconstrução Postural foi criado em 1992, a partir do método Mézières. O primeiro constitui não só uma fonte de renovação metodológica relativamente ao método original (Mézières), mas também o resultado de um trabalho exploratório e casuístico especialmente significativo, o que pode ser explicado pelo facto de a Reconstrução Postural ter sido desenvolvida num contexto académico (nomeadamente, no contexto da formação base e pós-graduada da Universidade Louis Pasteur – Estrasburgo, França).
Como já terá sido referido anteriormente neste espaço, o método Mézières compõe uma “revolução” na forma de ver as deformidades posturais, sendo que as vê enquanto resultado de excessos musculares, os quais estão ligados ao papel da musculatura postural, de natureza tónica, excessivamente forte, e proeminente sobretudo na região posterior do corpo.
Se o método Mézières aparece historicamente relacionado com uma descoberta referente ao ano de 1947 e à grande obra “Révolution en Gymnastique Orthopédique” (1949), o método da Reconstrução Postural deriva deste primeiro, muito mais tarde nos anos 90, sem nunca se ter interposto a ele, antes acrescentando, revalorizando e homenageando, e realizando os necessários acrescentos atentatórios de uma evolução.
A Reconstrução Postural difere do método Mézières em diversos aspectos, nomeadamente (Callens, 2004; Jesel, 1999; Nisand, 1997, 2004):
(a) Enquanto Mézières se referia à existência de três cadeias musculares posturais (a grande cadeia posterior, a cadeia ântero-interna – diafragma e psoas – e a cadeia braquial), Nisand acrescenta e descreve pormenorizadamente uma nova cadeia muscular – a cadeia anterior do pescoço.
(b) Nisand propõe uma nova interpretação da lógica das compensações corporais (reacções anormais de defesa à dor e ao alongamento excessivo), salientando a importância de um conjunto de respostas neurológicas aquando do movimento (respostas evocadas) e o contributo dos centros neurológicos centrais para o surgimento das deformidades. Assim sendo, o tratamento passa não só pelo alongamento global das cadeias musculares (Mézières), mas também pelo trabalho de consciencialização corporal com base na estimulação neuro-sensorial (ou seja, na modificação do padrão de excitabilidade muscular das cadeias posturais), de modo a que os alongamentos possuam em efeito de neuroplasticidade adaptativa eficaz e não só em efeito de modificabilidade temporária do tónus.
(c) O método da Reconstrução Postural propõe uma outra forma de interpretar o aparecimento de dor. A dor não tem origem na própria deformidade, mas sim na incapacidade que a estrutura hipertónica (rígida) tem de se deformar.
A partir destas diferenças, o método de tratamento por Mézières por meio do estiramento em “contracção isométrica excêntrica” (contracção estática anti-gravidade) transforma-se num meio de tratamento por “solicitação activa induzida”, ou seja, da postura trabalhada passivamente passa-se para um trabalho de carácter mais activo, mediante a facilitação de padrões de postura por meio de “pontos-chave” (à semelhança do papel dos mesmos “pontos-chave” de controlo do método Bobath de tratamento das disfunções neurológicas), partes do corpo que são sujeitas a movimentos de grande amplitude com o objectivo de induzir ou solicitar determinado padrão postural. As posturas em Reconstrução Postural são obtidas, portanto, a partir de pontos periféricos precisos, e são mantidas não por tempos necessariamente muito prolongados (Mézières), mas até ao ponto em que se verifique a normalização tónica. O agravamento da dismorfia é, ao contrário do que ocorre com o método Mézières, uma condição obrigatória para se obter a postura normal, é um ponto de passagem para a obtenção de um padrão postural correcto.
Diferenças metodológicas levam a diferentes técnicas, sendo que muitas das manobras mézièristas foram modificadas ou suprimidas: o mézièrista tende a evitar as compensações, enquanto que o “reconstrutor” tende a lidar com todas as posturas que possam ser efectivas no sentido de se obter uma inibição do padrão; o mézièrista identifica a dismorfia como algo “anormal”, enquanto que o reconstrutor identifica a dismorfia como um ponto de passagem para a obtenção de um padrão postural vantajoso; o mézièrista tende a encontrar uma postura correctiva e a mantê-la o máximo de tempo possível, enquanto que o reconstrutor tende a manter a “postura” só até que exista exaustão e extinção da resposta evocada (normalização tónica); as autoposturas são impensáveis na Reconstrução Postural, pois o próprio sujeito não consegue educar as suas próprias reacções tónicas correctivas; os proponentes da Reconstrução Postural não falam de “correcção morfológica” como os mézièristas, mas sim de “restauração morfológica”, a qual tem por base não o alongamento mio-fascial correctivo mas sim o alongamento com vista à normalização de padrões de activação tónica das cadeias musculares.
Resta dizer que a Reconstrução Postural constitui o mais científico de todos os métodos de Reeducação Postural. É incontável o número de artigos e o número de publicações de outro género construídos com base em estudos de Nisand e colegas. Infelizmente, os Senhores da Reconstrução Postural não têm publicado em inglês; somente em francês e em revistas francesas, o que complica o conhecimento mais universal do método. Aquele que constitui o paradigma científico de Mézières, ou seja, a Reconstrução Postural, é também o mais desconhecido dos métodos reeducativos. Talvez o seu desconhecimento derive da humildade dos investigadores. Talvez derive da humildade do método. Mas, se depender de mim, este método receberá toda a fama e reconhecimento que o mesmo merece.
2 comentários:
Qual a bibliografia que encontras acerca do método de reconstrução postural?
Sugiro que cliques onde diz "Reconstrução Postural Nisand" na barra (lateral) dos links do blog. Entrarás no site oficial do método no qual se pode encontrar um conjunto avultado de artigos (em francês) e referências a livros.
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