É o título de uma obra de referência (1960, de J. Joseph), uma monografia sobre o funcionamento da musculatura postural, sobre a electromiografia e sobre os dados que esta forma de medição nos trazem para a temática da Reeducação Postural.
Efectivamente, se a temática do método Mézières, e dos restantes métodos reeducativos, se baseia em axiomas ou a prioris científicos, a electromiografia representa aqui um papel de relevo absoluto.
Classicamente, considera-se que existe algo chamado "tónus muscular", músculos de nome "posturais", e um comportamento que diferencia músculos de dissemelhantes naturezas. A obra em questão dá luz a uma controvérsia antiga: será lícito denominar o "tónus muscular" de "contracção muscular em repouso". Seria lícito fazê-lo se efectivamente os músculos possuíssem todos algum género de actividade neuromuscular remanescente em repouso. Mas o que os estudos e medições electromiográficas vêm demonstrar é que certos músculos, nomeadamente os de natureza fásica e/ou dinâmica, podem chegar ao estado de absoluto repouso (o que, experimentalmente, corresponde à ausência de traçado electromiográfico). O que leva a concluir que o "tónus" deve ser visto mais como o "tipo de resistência que o músculo possui ao alongamento ou mobilização passiva" do que como "contracção em repouso".
Os músculos de natureza fásica podem, efectivamente, alcançar o zero electromiográfico (claro, em condições de ausência de lesão neurológica central). E, de tal forma esta ideia alcançou os cânones do "revolucionário", que depressa se pensou que também os músculos tónicos - sabidamente de tensão constante... e de difícil redução - podiam chegar ao zero electromiográfico em condições de absoluto repouso. Ora, efectivamente, vários estudos demonstraram que o zero electromiográfico é passível de existir nos músculos tónicos. E o que é mais incrível é que essa ausência de actividade neuromuscular dos músculos tónicos está presente também na posição de pé. Ora, não é suposto, por exemplo, os músculos posteriores da coluna estarem em tensão na posição de pé, permitindo a actividade anti-gravítica? Ora, segundo estes estudos, demonstra-se que, afinal, a actividade desses músculos na posição de pé, é mínima. Por outro lado, estudos em que foram utilizados aparelhos de electromiografia mais sensíveis demonstraram que, afinal de contas, os músculos tónicos apresentam um certo nível de actividade, mesmo em repouso... Porém, esse nível de actividade é fundamentalmente expontâneo e pouco expressivo. Os músculos tónicos, científica e garantidamente, trabalham menos do que se pensava para a manutenção da posição de pé. Mas tal só se verifica nas condições de equilíbrio muscular. Ou seja, no caso de existirem desequilíbrios musculares, que podem ou não ser entendidos como deformidades posturais, há já uma grande actividade tónica da parte dos músculos tónicos e/ou anti-gravíticos. O que isto demonstra é que, nas condições normais de postura "equilibrada", a actividade electromiográfica dos músculos tónicos é pequena, sendo mesmo nula em alguns músculos. Só nas condições de desequilíbrio postural é que se verifica um acréscimo de actividade neuromuscular. Ora, então, mais uma vez, se volta à questão do tratamento das deformidades e das patologias neurológicas e reumatológicas em geral: vale a pena fortalecer músculos para tratar desequilíbrios tónico-posturais? Ora, se esses mesmos músculos estão em "excesso" quando há desequilíbrio e mais ou menos inibidos quando há equilíbrio, não passará o tratamento e a fisioterapia em geral pela necessidade de inibição tónica (conseguida por meio de relaxamento, alongamento e outras técnicas de inibição neuromuscular)?... A resposta parece ser óbvia, pois, efectivamente, os tais "problemas de coluna" surgem em indivíduos cujos músculos posturais estão seguramente em excesso, e não fracos, como se pensava!
Falta referir algo: se a posição de pé está muito menos dependente da actividade tónica dos músculos anti-gravíticos do que se pensava, o que é que mantém a posição ortostática? Segundo os vários estudos consultados na obra em análise, a estabilidade em pé depende de: contracção de músculos das pernas (principalmente o solhar), o trabalho dos ligamentos dos joelhos e ancas e a contracção de alguns (somente alguns) músculos da coluna, como os músculos sacro-espinhais. O contributo dos ísquio-tibiais, de muitos outros músculos da coluna e até dos abdominais é muito menor do que aquilo que geralmente se considera. É de sublinhar a importância, para a manutenção da posição de pé, de estruturas fasciais não activas, como ligamentos de certas articulações. (Mas todos estes dados dizem respeito às condições definidas de "média da normalidade"; por exemplo, em certos casos de deformidade, os ísquio-tibiais possuem já grande tensão).
Estas informações estão consubstanciadas pela obra referida, a qual, apesar de antiga, fornece dados únicos, baseados em centenas de estudos. A obra "Man's Posture. Eletromyographic studies", pela natureza (positivista) das medições em que se baseia, mantém toda a sua actualidade, sendo um clássico importantíssimo para a Fisioterapia em geral, dando razão à minoria dos fisioterapeutas de Reeducação Postural e colocando em relevo os dados obtidos e defendidos em tantos outros estudos, os quais, apesar de mais actuais, não possuem a mesma integridade metodológica obtida com a mera observação de medidas electromiográficas.
Termino dizendo que a obra só é obtível pela Internet, tendo demorado um mês a chegar às minhas mãos. Finalmente, devo dizer que quando a empresa de investigação PLUX me convidou para conceber Guidelines de investigação com electromiografia de superfície em Reeducação Postural coloquei logo um problema, e esse problema é bem real: efectivamente, é impossível conceber planos de trabalho ou de investigação em Reeducação Postural com electromiografia de superfície. Para esse tipo de investigação são necessários aparelhos sofisticados de electromiografia de profundidade, sensíveis às mais pequenas variações de actividade neuromuscular desses músculos, as quais são, na realidade, pequenas, se estão mantidas as condições de postura "normal" e "equilibrada".