Tanto o sistema de regras de higiene postural como toda a ciência da ergonomia posicional se baseiam numa lógica de grupo difícil de denegar. Quer isto dizer que há muitos profissionais que se têm ocupado a defender o "posicionamento" correcto nas cadeiras ou nas camas, assim como movimentos ditos fisiológicos que permitam a prevenção de problemas raquidianos. Ora, se há coisa que a Reeducação Postural, enquanto método de intervenção individualista fenomenológica, não trata é de um conjunto de regras ou princípios pré-estabelecidos de posicionamento no trabalho ou na escola. Pois é certo que, atendendo ao facto de que cada indivíduo tem a sua postura definida e idiossincrática, é, por certo, estultícia e estupidez definir regras de higiene postural.
Por exemplo, os ergonomistas e os técnicos de segurança no trabalho gostam de afirmar que o posicionamento de "sentado" deve corresponder aos 90º de ângulo coxo-femural e à "coluna direita". Nada de mais erróneo... Caímos aqui no erro da lógica de grupo ou nomotética... Pois é certo determinar uma mesma postura "correcta" para um homem cuja cadeia posterior é extremamente curta e retraída e para uma rapariga extremamente flexível? Claro que não. Para o primeiro, a manutenção das "costas direitas" seria decerto um tormento, pois a cadeia muscular posterior não possui decerto a flexibilidade necessária para se manter num estado "óptimo" de contracção. Já na rapariga com grande flexibilidade (se é desse caso que se trata), o grande comprimento da cadeia muscular posterior faria com que a manutenção das costas "direitas" acarretasse um esforço bastante menor!
Ora, é portanto óbvio que os posicionamentos ditos "correctos" acarretam diferentes tipos de esforços e consequências relacionadas para diferentes indivíduos, com diferentes posturas. Aliás, a manutenção das curvaturas fisiológicas só pode ser pedida a alguém cuja flexibilidade seja suficientemente grande para que o indivíduo em questão seja portador de uma postura perfeita. Ora, na minha experiência, ainda não vi, entre centenas de pessoas diferentes, alguém que possuísse a postura de um David de Miguel Ângelo...
Daí que toda a ciência ergonómica e da higiene postural deveria passar a ser uma ciência de conotação ideográfica, adaptada às características individuais. Portanto, a prescrição de regras de higiene postural e de ordens para manter as costas num ângulo recto são, à semelhança dos exercícios dos ginásios iguais para todos (como se de um medicamento se tratasse), uma pura fantasia ingénua.
Para além do mais, a manutenção da coluna numa posição de contracção, mantendo o encurtamento dos músculos posturais, os quais deveriam ser alongados e nunca encurtados, contraria as leis do método Mézières, as quais já tantas vezes defendi.
Advogo, portanto, a transformação da Ergonomia e da Higiene Postural numa prática com vista (e análise segundo as regras da escola francesa) à avaliação individual de cada sujeito, tendo em conta as necessidades correctivas - necessariamente diferentes - de cada um. Acabe-se de vez com as "regras". E inicie-se a prática de avaliação da idiossincrasia postural de cada indivíduo, tendo em conta a necessidade de manutenção dos músculos posturais num necessário estado de relaxamento. Aliás, por alguma razão a maioria dos indivíduos não consegue corresponder à regra das "costas direitas"... E isso deve-se à fadigabilidade dos músculos tónicos... trabalhados até à exaustão porque ergonomistas ignorantes e técnicos superiores de segurança no trabalho sem formação adequada resolveram meter a mão em assuntos que não dominam!...