Muito se tem falado actualmente na “geração à rasca” e muito se tem, de facto, elidido acerca da mesma. É certo que esta nova geração, à qual eu mesmo pertenço, possui elementos com grande capacidade de trabalho e até alguma cultura, mas é também certo que esse facto é mais a excepção do que a regra...
Na verdade, a nova geração possui uma evolução diferente das gerações anteriores, sendo que foram as gerações pretéritas, as quais se desenvolveram numa sociedade em que um curso superior fazia toda a diferença, que nos motivaram a pegar nos livros e nos convenceram que o nosso futuro dependeria do avanço escolar obtido; a nova geração não se desenvolveu na luta contínua das gerações anteriores... Nós tivemos acesso privilegiado aos livros e pudemos dedicar-nos exclusivamente a eles. E de tal modo pudemos intelectualizar-nos que muitos de nós tornámo-nos inseguros e fomos fazendo cursos e avançando nos graus académicos, adiando a hora de inserção no mercado de trabalho.
É claro que o boom de licenciados era inevitável, até porque, percebendo que havia ali uma grande fonte de negócio, as instituições de ensino superior reproduziram-se, a si mesmas e aos seus cursos, como cogumelos. Ora, se é certo que o mercado português deveria ter crescido mais do que realmente aconteceu, também é certo que esta cultura excessivamente obcecada pela formação superior não pragmática, num ensino superior crescentemente facilitado, fez com que um número insuportável de mestres e doutores, menos cultos e com menores capacidades de trabalho, e sobretudo com menor capacidade de luta e criação de auto-emprego, surgisse e viesse reclamar aquilo que as velhas gerações prometeram e o novo paradigma económico-financeiro do país já não pode dar.
Obviamente a formação superior é e será sempre uma vantagem, mas também é certo que o problema da nova geração passa pela existência de um novo paradigma económico e laboral que implica uma mudança de atitude que ainda não se verificou. Por mais que custe, é preciso largar a formação excessiva e enganosa e “pôr as mãos à obra” nesta hora em que vale mais o empreendedorismo do que a passividade.
Publicado como carta no jornal "i", 09/03/2011
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