quinta-feira, novembro 09, 2006

Injustiças na vida de um fisioterapeuta

Para o tipo de formação que os fisioterapeutas possuem, não posso deixar de afirmar que a grande maioria dos fisioterapeutas do “mercado” permanece mal empregue no tipo de trabalho que desenvolvem. Pelo o que tenho visto, os fisioterapeutas são maioritariamente a mais bem preparada classe de profissionais para lidar com a problemática do movimento, independentemente de falarmos da inserção dos mesmos num contexto clínico ou desportivo. Certos desportos, se não todos os desportos, poderiam ser ensinados por fisioterapeutas. Mas, na realidade, os mais mal preparados professores de educação física e/ou fitness dão as diversas classes de actividades motrizes, ganhando o dobro ou o triplo do que ganha um fisioterapeuta.
Reparemos no seguinte: como professor de Pilates, ganho cerca de 15 a 20 euros numa hora. Canso menos a minha coluna, esgoto-me muito menos fisicamente. Como fisioterapeuta a dar classes a pessoas com problemas e que precisam de uma atenção muito mais personalizada, ganho no máximo 10 euros (e ganho bem para fisioterapeuta). Em certas clínicas, os fisioterapeutas têm de tratar, por meio do exercício e de actividades funcionais, vários doentes ao mesmo tempo, esgotando o físico e os meandros do raciocínio clínico, sendo que ganham por hora, muitas vezes, só sete ou oito euros. E a tendência é para que os fisioterapeutas ganhem cada vez menos, sejam cada vez menos valorizados como profissionais autónomos e inteligentes, e continuem a ser vistos como “massagistas” e não como profissionais do movimento. Bem me podiam explicar para quê aprender tanta anatomia, tanta biomecânica... tanto esforço realizado no curso base... e tão pouco reconhecimento, tão poucos ganhos, tanta injustiça!
E os fisioterapeutas, ainda assim, permanecem agarrados às suas concepções éticas de um doente na sua “unicidade”, evitando trabalhar em ginásios, dando aulas de Pilates ou outras actividades. Não tenho dúvidas de que consigo acompanhar melhor os meus doentes/clientes das classes através dos seus exercícios do que os múltiplos doentes “individuais” em contexto de clínica particular.
E o que está a acontecer é que cada vez mais os professores de educação física e os instrutores de fitness se agarram ao trabalho grupal com um fim propedêutico e terapêutico, enquanto que os terapeutas permanecem no seu trabalho clínico falsamente personalizado. Será que há assim tantas diferenças entre um personal training de Pilates de um instrutor e um tratamento individualizado clássico de fisioterapia para a coluna (subentendendo que o Pilates lá está presente não como fitness mas como método de “tratamento”)? Apenas que no primeiro caso o "cliente" nos paga bem caro e não se queixa, enquanto que no segundo caso o "doente" nos paga bem menos (isto na sorte de ser um doente particular) e tem sempre tendência para se queixar.
As pessoas gostam de se sentir treinadas, não tratadas. Tratamentos é com o osteopata, que isso é que está na moda! Fisioterapia são os calores húmidos e as massagens que aquelas “meninas” dão aos velhos. Pilates é uma “ginástica”, não é fisioterapia.
Tantas ilusões, meras particularidades semânticas e psicologistas!
Os fisioterapeutas só vão conseguir progredir por meio de uma verdadeira “revolução” das mentes dos utilizadores tanto dos serviços de saúde como do fitness. E eis que surge a necessidade de impormos a nossa actividade no seio dos ambientes desportivos, como professores de Pilates, de stretching, de relaxamento psicossomático, e de outras actividades que não entendo como ginástica, mas mais como antiginástica, ao jeito formoso de Bertherat.
Faça-se justiça às nossas formações e às nossas capacidades. Lutemos contra os conflitos de interesse e mostremos que os fisioterapeutas são os profissionais mais capazes para o domínio do trabalho da motricidade aplicada à saúde. Não continuemos a permitir que qualquer instrutor, senão mesmo aquele sujeito que tirou um curso qualquer de fitness à candonga sem possuir um curso superior na área da saúde + motricidade, nos tire o lugar que seria muito mais lógico ser nosso. Não continuemos a ser estúpidos e a pensar que a fisioterapia só se realiza na marquesa da clínica ou hospital. Essa “fisioterapia”, a avaliar pela forma como as coisas estão a andar, tem os dias contados!... Rogo para que conquisteis o mercado "desportivo", lutando contra o clássico conceito de fitness e impondo a nossa visão reeducativa como a grande panaceia de trabalho (psico)físico.

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá. Há algum tempo que tenho visitado o seu blog. Concordo com a necessidade de nos expandirmos (tambem sou fisioterapeuta) para as àreas nas quais somos competentes.
Em Janeiro próximo vou fazer a formação em Pilates para Fisioterapeutas promovido pela Formaterapia. No caso de ter conhecimento desta formação e daquela ministrada pelo instituto Pilates, gostaria de saber a sua opinião relativamente à qualidade das formações.

Um abraço!

Unknown disse...

Exmos. Srs. Fisioterapeutas,

A propósito das dúvidas que têm surgido relativamente aos cursos de Pilates Modificado para Fisioterapeutas, organizados pela Formaterapia, cabe-nos informar o seguinte:

- A formação em matwork é certificada pela “Australian Physiotherapy and Pilates Institute” (www.ausphysio.com) e o curso é aprovado pela “Organisation of Chartered Physiotherapists in Private Practice” (www.physiofirst.org.uk) , um grupo de interesse da “Chartered Society of Physiotherapy” (Associação Inglesa de Fisioterapeutas) (www.csp.org.uk) ;

- Ambos os formadores são Fisioterapeutas, com elevada experiência e reputação na área, tal como se pode aferir pela análise das suas súmulas curriculares. Dão formação em todo o mundo e colaboram com instituições prestigiadas como o English National Ballet, Manchester United, Crystal Palace, Arsenal, Chelsea, Charlton e West Ham. Glenn Withers foi, recentemente eleito vice-presidente da Association for Chartered Physiotherapists in Exercise Therapy, da Chartered Society of Physiotherapy;

- A formação completa em matwork, promovida pela “Australian Physiotherapy and Pilates Institute” desenrola-se ao longo de três níveis: “matwork level 1”, “matwork level 2” e “matwork class intructor”. O “matwork level 1” e o “level 2” são direccionados ao trabalho individualizado com o paciente. No primeiro módulo são leccionados 16 movimentos de Pilates Modificado, enquanto que no segundo são leccionados 30 movimentos com o objectivo de promover a estabilidade lombo-pélvica, escapulo-torácica e cervical, mobilização da coluna e fortalecimento do sistema muscular global. Ambos os módulos são direccionados apenas a Fisioterapeutas, uma vez que o curso está desenhado de modo a que os destinatários englobem o Pilates na sua prática clínica. São apresentados e discutidos diversos estudos de caso, tendo em conta a especificidade do paciente e resultados da avaliação de Fisioterapia efectuada. Os princípios descritos por Joseph Pilates são enquadrados com a mais recente evidência científica publicada por diversos Fisioterapeutas de renome mundial, como Paul Hodges, Peter O’Sullivan, Julie Hides, Richardson, Mottram, Panjabi, Vleeming, Bogduk, Gibbons, Jull, Falla, etc.
O módulo “class instructor” foi criado de modo a possibilitar que o paciente se torne independente de tratamentos individuais, numa fase posterior da sua reabilitação, ou com o objectivo de prevenção. É realçado o facto de que se deverá ter em conta a especificidade de cada utente no momento em que se planifica o grupo e as actividades a solicitar.

- Depois de ter frequentado esses três módulos, e ter sido aprovado a um exame teórico e a um prático, o formando tornar-se-á instrutor de Pilates oficialmente certificado pela “Australian Physiotherapy and Pilates Institute”. Tal não impede, obviamente, que um formando que apenas tenha frequentado o “level 1” não possa e deva utilizar estes exercícios terapêuticos na sua prática clínica, quer como meio de tratamento, quer como meio de prevenção de lesões;

- O “Australian Physiotherapy and Pilates Institute” é uma organização independente, não estando ligada a qualquer outra escola de Pilates.

No caso de persistir qualquer dúvida, não hesitem em nos contactar.
Cumprimentos,

André Sampaio
Formaterapia - Formação Contínua para Profissionais de Saúde
E-mail: formaterapia@gmail.com
Telemóvel: 912 093 327

Anónimo disse...

Caro colega,

Vim aqui parar via google, ao procurar um outro assunto e fiquei bastante agradado com aquilo que li. Tive oportunidade de poder ler já alguns artigos, mas com mais tempo poderei fazer uma leitura mais atenta.
Continue a escrever, pois com muita razão afirma que este é um blog especial.
Cumprimentos,
Samuel Ferreira