Esta é uma tradução “livre” de uma Exposição do Congresso FSP em Fribourg, 18/19 Maio 2001 sobre Reconstrução Postural. Certos pontos não foram traduzidos, por não dominar completamente a língua francesa. Mas o essencial está presente, nem que seja em formato de tópicos. Peço que sejam condescendentes com algum aspecto menos bem realizado desta tradução.
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Christian Callens
O método da Reconstrução Postural nasceu em Estrasburgo em 1991. Ele retém certos conceitos do método Mézières (lordoses, cadeias musculares, reeducação morfológica), mas difere na concepção etiopatogénica das dismorfias e suas utilidades terapêuticas.
A visão dos contornos
Apesar da importância colocada na observação dos contornos do corpo, acreditamos que devemos preocupar-nos essencialmente com as depressões (lordoses).
Se nos focalizarmos nas convexidades (cifose dorsal, ventre proeminente), a tendência será sempre para pensarmos em fortalecer/muscular. É o que tem vindo a ser feito há décadas.
Se, pelo contrário, a atenção se focaliza nas concavidades, vamos pensar naturalmente em diminuir o arco das estruturas. É o que começámos a fazer a partir do momento em que Mézières lançou o seu célebre aforismo: “não há nada para além de lordoses”.
As "técnicas Mézières”
2.1. Etiopatogenia = retracção das cadeias musculares
As dismorfias do corpo são provocadas pela retracção das cadeias musculares. Uma cadeia muscular define-se como uma sucessão de músculos poliarticulares de direcção comum, entrelaçados uns nos outros. Quatro cadeias respondem a esta descrição o suficiente para explicar a maioria das dismorfias do corpo humano.
2.2. Conceito terapêutico = contracção isométrica em posição excêntrica
Os estiramentos passivos actuam nos componentes elásticos paralelos e os estiramentos activos actuam nos componentes elásticos em série.
Segundo Souchard (1979), a contracção estática em posição excêntrica interfere com a “fluage” dos elementos em série do músculo. Também podemos dizer que, nas condições normais de estiramento, como na maioria das práticas desportivas, os tecidos musculares não podem deformar verdadeiramente, incluindo os músculos posteriores.
Conceito do método da Reconstrução Postural
3.1. Em comum com Mézières
a) os blocos e as cadeias musculares
b) o modelo
A Reconstrução Postural propõe-se corrigir os dismorfismos da coluna vertebral e dos membros, com vista à morfologia ideal, a “bela forma” de Françoise Mézières.
Segundo o “modelo”, a simetria é perfeita, as massas são equilibradas e os contornos laterais do tronco são rectilíneos e oblíquos.
As esculturas gregas já eram sensíveis à simetria e às proporções belas.
Podemos considerar que essa simetria é condição do bom funcionamento corporal.
A simetria
A palavra “simetria” vem do grego “summetria”, que designa proporção, medida certa.
Segundo Moller (1997), existem três formas diferentes de simetria: (a) a simetria translaccional; (b) a simetria radial ou circular; e (c) a simetria bilateral, esta própria do ser humano.
Moller e outros autores têm demonstrado que a simetria é uma característica da selecção natural. Aliás, vários trabalhos têm demonstrado que a simetria perfeita afecta as performances do indivíduo. A selecção natural desfavorece os seres com assimetria.
A simetria morfológica fornece-nos um instrumento de medida para avaliar a capacidade do indivíduo face ao seu ambiente. Ela servirá de referência morfológica que permite avaliar a eficácia das nossas técnicas.
A assimetria
No mundo existem três formas de assimetria: (a) assimetria direccional; (b) anti-simetria; e (c) assimetria flutuante, própria dos seres humanos.
Diferentes factores vêm contribuir para a assimetria flutuante, sendo os ambientais os mais importantes. Por exemplo, a elevação de certas estruturas do chão, os traumatismos, o stresse...
Os factores ambientais influenciam a “simetria” até à idade adulta, podendo contribuir para deformar ou corrigir certas características. E é extremamente raro conseguir possuir uma simetria bilateral perfeita.
O estudo morfológico vai mostrar-nos as assimetrias e dismorfias dos membros, do tronco e do tórax (o qual releva das deformações da coluna).
A análise morfológica é fundamental para a elaboração de uma estratégia de tratamento, assim como é essencial ao processo de avaliação da eficácia do trabalho de reeducação.
3.2. Próprio do método da Reconstrução Postural
3.2.1. Hipótese patogénica
Como é indicado por Jesel e colegas (1999), as dismorfias são a consequência de uma diferença de distribuição do tónus dos músculos organizados em cadeias. Os músculos das cadeias organizam-se pelos três planos do espaço, as deformações são igualmente tridimensionais.
As cadeias musculares estão distribuídas da cabeça aos pés. A reeducação não pode incluir só a coluna vertebral, tem de incluir os membros. A escoliose não é mais do que o exagero de uma dismorfia existente no todo. O aumento de tensão nas cadeias musculares, se não é a causa das dismorfias, é, pelo menos, um factor de agravamento e de consolidação.
3.2.2. Princípio terapêutico
A facilitação
Para combater esse excesso de tónus, a Reconstrução Postural dispõe de uma técnica: a solicitação activa induzida.
“Consiste num conjunto de contracções voluntárias localizadas, obtidas a partir de movimentos localizados de grande amplitude relativa, induzidos à distância; um excesso de tónus muscular traduz-se pelo aparecimento ou aumento da dismorfia, o qual é procurado de modo a se procurar a congestão muscular” (Jesel e col., 1999).
Esta técnica baseia-se no princípio da irradiação, técnica empregue noutros métodos de “reeducação”, mas que têm por objectivo o fortalecimento muscular (ex. Kabat).
Aqui o objectivo não é o fortalecimento mas sim o seu oposto, ou seja, a diminuição do tónus até à sua normalização.
A contracção voluntária localizada vai levar a uma resposta evocada à distância, naquilo que designamos de “ciclo terapêutico”. A resposta evocada é posta em evidência pelo aparecimento ou aumento da dismorfia, o que significa, em termos fisiológicos, uma acentuação no traçado electromiográfico.
Este aumento do tónus por facilitação explica-se pela organização dos grupos neuronais (Guyton, 1989).
Explicações de índole fisiológica...
Christian Callens
O método da Reconstrução Postural nasceu em Estrasburgo em 1991. Ele retém certos conceitos do método Mézières (lordoses, cadeias musculares, reeducação morfológica), mas difere na concepção etiopatogénica das dismorfias e suas utilidades terapêuticas.
A visão dos contornos
Apesar da importância colocada na observação dos contornos do corpo, acreditamos que devemos preocupar-nos essencialmente com as depressões (lordoses).
Se nos focalizarmos nas convexidades (cifose dorsal, ventre proeminente), a tendência será sempre para pensarmos em fortalecer/muscular. É o que tem vindo a ser feito há décadas.
Se, pelo contrário, a atenção se focaliza nas concavidades, vamos pensar naturalmente em diminuir o arco das estruturas. É o que começámos a fazer a partir do momento em que Mézières lançou o seu célebre aforismo: “não há nada para além de lordoses”.
As "técnicas Mézières”
2.1. Etiopatogenia = retracção das cadeias musculares
As dismorfias do corpo são provocadas pela retracção das cadeias musculares. Uma cadeia muscular define-se como uma sucessão de músculos poliarticulares de direcção comum, entrelaçados uns nos outros. Quatro cadeias respondem a esta descrição o suficiente para explicar a maioria das dismorfias do corpo humano.
2.2. Conceito terapêutico = contracção isométrica em posição excêntrica
Os estiramentos passivos actuam nos componentes elásticos paralelos e os estiramentos activos actuam nos componentes elásticos em série.
Segundo Souchard (1979), a contracção estática em posição excêntrica interfere com a “fluage” dos elementos em série do músculo. Também podemos dizer que, nas condições normais de estiramento, como na maioria das práticas desportivas, os tecidos musculares não podem deformar verdadeiramente, incluindo os músculos posteriores.
Conceito do método da Reconstrução Postural
3.1. Em comum com Mézières
a) os blocos e as cadeias musculares
b) o modelo
A Reconstrução Postural propõe-se corrigir os dismorfismos da coluna vertebral e dos membros, com vista à morfologia ideal, a “bela forma” de Françoise Mézières.
Segundo o “modelo”, a simetria é perfeita, as massas são equilibradas e os contornos laterais do tronco são rectilíneos e oblíquos.
As esculturas gregas já eram sensíveis à simetria e às proporções belas.
Podemos considerar que essa simetria é condição do bom funcionamento corporal.
A simetria
A palavra “simetria” vem do grego “summetria”, que designa proporção, medida certa.
Segundo Moller (1997), existem três formas diferentes de simetria: (a) a simetria translaccional; (b) a simetria radial ou circular; e (c) a simetria bilateral, esta própria do ser humano.
Moller e outros autores têm demonstrado que a simetria é uma característica da selecção natural. Aliás, vários trabalhos têm demonstrado que a simetria perfeita afecta as performances do indivíduo. A selecção natural desfavorece os seres com assimetria.
A simetria morfológica fornece-nos um instrumento de medida para avaliar a capacidade do indivíduo face ao seu ambiente. Ela servirá de referência morfológica que permite avaliar a eficácia das nossas técnicas.
A assimetria
No mundo existem três formas de assimetria: (a) assimetria direccional; (b) anti-simetria; e (c) assimetria flutuante, própria dos seres humanos.
Diferentes factores vêm contribuir para a assimetria flutuante, sendo os ambientais os mais importantes. Por exemplo, a elevação de certas estruturas do chão, os traumatismos, o stresse...
Os factores ambientais influenciam a “simetria” até à idade adulta, podendo contribuir para deformar ou corrigir certas características. E é extremamente raro conseguir possuir uma simetria bilateral perfeita.
O estudo morfológico vai mostrar-nos as assimetrias e dismorfias dos membros, do tronco e do tórax (o qual releva das deformações da coluna).
A análise morfológica é fundamental para a elaboração de uma estratégia de tratamento, assim como é essencial ao processo de avaliação da eficácia do trabalho de reeducação.
3.2. Próprio do método da Reconstrução Postural
3.2.1. Hipótese patogénica
Como é indicado por Jesel e colegas (1999), as dismorfias são a consequência de uma diferença de distribuição do tónus dos músculos organizados em cadeias. Os músculos das cadeias organizam-se pelos três planos do espaço, as deformações são igualmente tridimensionais.
As cadeias musculares estão distribuídas da cabeça aos pés. A reeducação não pode incluir só a coluna vertebral, tem de incluir os membros. A escoliose não é mais do que o exagero de uma dismorfia existente no todo. O aumento de tensão nas cadeias musculares, se não é a causa das dismorfias, é, pelo menos, um factor de agravamento e de consolidação.
3.2.2. Princípio terapêutico
A facilitação
Para combater esse excesso de tónus, a Reconstrução Postural dispõe de uma técnica: a solicitação activa induzida.
“Consiste num conjunto de contracções voluntárias localizadas, obtidas a partir de movimentos localizados de grande amplitude relativa, induzidos à distância; um excesso de tónus muscular traduz-se pelo aparecimento ou aumento da dismorfia, o qual é procurado de modo a se procurar a congestão muscular” (Jesel e col., 1999).
Esta técnica baseia-se no princípio da irradiação, técnica empregue noutros métodos de “reeducação”, mas que têm por objectivo o fortalecimento muscular (ex. Kabat).
Aqui o objectivo não é o fortalecimento mas sim o seu oposto, ou seja, a diminuição do tónus até à sua normalização.
A contracção voluntária localizada vai levar a uma resposta evocada à distância, naquilo que designamos de “ciclo terapêutico”. A resposta evocada é posta em evidência pelo aparecimento ou aumento da dismorfia, o que significa, em termos fisiológicos, uma acentuação no traçado electromiográfico.
Este aumento do tónus por facilitação explica-se pela organização dos grupos neuronais (Guyton, 1989).
Explicações de índole fisiológica...
Facilitação por convergência
O fenómeno de convergência apela à estimulação de um só neurónio, através dos sinais provenientes das suas aferências. Existem dois tipos de convergência: (a) a convergência a partir de um ponto único e (b) a convergência a partir de fontes múltiplas. Qualquer tipo de convergência constitui a somação de informação proveniente de diferentes fontes. A resposta consiste numa somação de diferentes informações. A convergência é importante para conseguir diferentes tipos de informação.
A divergência em vias múltiplas...
Prolongamento de um sinal por um grupo neuronal
Em vários casos, o sinal aferente engendra uma descarga eferente prolongada. Esta descarga prolongada é devida aos circuitos oscilatórios do sistema nervoso.
Este circuito funciona por retroacção positiva... uma vez estimulada, a descarga tende à repetição por um longo período de tempo.
São complexos os mecanismos inerentes à facilitação. A dificuldade da Reconstrução Postural está em obter a contracção inicial que vai levar, num primeiro tempo, ao aumento do tónus e da dismorfia. Num segundo tempo, este aumento do tónus leva ao esgotamento, o qual permite a diminuição da dismorfia.
O esgotamento
O esgotamento do aumento tónico induzido significa a observação clínica da diminuição da dismorfia.
Em termos fisiológicos temos aqui o mecanismo de estimulação do reflexo de Hoffmann.
[A exposição terminaria com a explicação do mecanismo do reflexo de Hoffmann, parte demasiadamente técnica para ser traduzida. Acontece que o mecanismo de facilitação-esgotamento utilizado pela Reconstrução Postural parece ser bastante semelhante, senão correspondente, ao “Contract-relax” do PNF. Como já demonstrei num artigo que publiquei há uns tempos, o verdadeiro mecanismo fisiológico por trás do “Contract-relax” não corresponde, como se pensava, à estimulação do reflexo tendinoso de Golgi, mas sim à estimulação do reflexo de Hoffmann, mecanismo algo dissemelhante. Aqui, o que interessa reter é que, apesar de haver uma parecença modelar com o método Mézières, em certas coisas a Reconstrução Postural contraria totalmente o método Mézières... sendo o seu contrário... por exemplo, ao procurar “agravar” a dismorfia (num primeiro tempo), a Reconstrução Postural implica um não-controlo das compensações no sentido de as evitar. Daí que, se é correcto apelidar os diversos métodos da linha de Mézières como métodos neo-mézièristas... como já designadamente teorizei em várias publicações, penso que a Reconstrução Postural, pelas suas características, se apelidaria melhor de método pós-mézièrista. Na realidade, este método é apenas o início de um grande capítulo que permite a visão neuro-músculo-esquelética de um corpo Global em que as dimensões neurológica e músculo-esquelética não estão dissociadas. Indo ao encontro do meu conceito de Morfo-psico-análise, defendo que o fisioterapeuta não é essencialmente um “profissional da motricidade”, mas sim um “profissional da Postura”, um “profissional da 'Estática'”. Decerto que muitos proponentes das terapias neurológicas concordarão com esta visão de inibição que tenho proposto de há uns anos para cá...]
O fenómeno de convergência apela à estimulação de um só neurónio, através dos sinais provenientes das suas aferências. Existem dois tipos de convergência: (a) a convergência a partir de um ponto único e (b) a convergência a partir de fontes múltiplas. Qualquer tipo de convergência constitui a somação de informação proveniente de diferentes fontes. A resposta consiste numa somação de diferentes informações. A convergência é importante para conseguir diferentes tipos de informação.
A divergência em vias múltiplas...
Prolongamento de um sinal por um grupo neuronal
Em vários casos, o sinal aferente engendra uma descarga eferente prolongada. Esta descarga prolongada é devida aos circuitos oscilatórios do sistema nervoso.
Este circuito funciona por retroacção positiva... uma vez estimulada, a descarga tende à repetição por um longo período de tempo.
São complexos os mecanismos inerentes à facilitação. A dificuldade da Reconstrução Postural está em obter a contracção inicial que vai levar, num primeiro tempo, ao aumento do tónus e da dismorfia. Num segundo tempo, este aumento do tónus leva ao esgotamento, o qual permite a diminuição da dismorfia.
O esgotamento
O esgotamento do aumento tónico induzido significa a observação clínica da diminuição da dismorfia.
Em termos fisiológicos temos aqui o mecanismo de estimulação do reflexo de Hoffmann.
[A exposição terminaria com a explicação do mecanismo do reflexo de Hoffmann, parte demasiadamente técnica para ser traduzida. Acontece que o mecanismo de facilitação-esgotamento utilizado pela Reconstrução Postural parece ser bastante semelhante, senão correspondente, ao “Contract-relax” do PNF. Como já demonstrei num artigo que publiquei há uns tempos, o verdadeiro mecanismo fisiológico por trás do “Contract-relax” não corresponde, como se pensava, à estimulação do reflexo tendinoso de Golgi, mas sim à estimulação do reflexo de Hoffmann, mecanismo algo dissemelhante. Aqui, o que interessa reter é que, apesar de haver uma parecença modelar com o método Mézières, em certas coisas a Reconstrução Postural contraria totalmente o método Mézières... sendo o seu contrário... por exemplo, ao procurar “agravar” a dismorfia (num primeiro tempo), a Reconstrução Postural implica um não-controlo das compensações no sentido de as evitar. Daí que, se é correcto apelidar os diversos métodos da linha de Mézières como métodos neo-mézièristas... como já designadamente teorizei em várias publicações, penso que a Reconstrução Postural, pelas suas características, se apelidaria melhor de método pós-mézièrista. Na realidade, este método é apenas o início de um grande capítulo que permite a visão neuro-músculo-esquelética de um corpo Global em que as dimensões neurológica e músculo-esquelética não estão dissociadas. Indo ao encontro do meu conceito de Morfo-psico-análise, defendo que o fisioterapeuta não é essencialmente um “profissional da motricidade”, mas sim um “profissional da Postura”, um “profissional da 'Estática'”. Decerto que muitos proponentes das terapias neurológicas concordarão com esta visão de inibição que tenho proposto de há uns anos para cá...]
1 comentário:
Caro Luís,
Parabéns por este artigo. Apesar de por vezes achar a sua escrita (em livro) demasiado adjectivada, tem aqui um seguidor da sua linha de pensamento. Gostava de conhecer melhor este método, pelo que se me pudesse indicar artigos seus que abordem este conceito, por favor indique-mos.
Um abraço,
Miguel Moço
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