sábado, junho 13, 2009

Sobre a importância do Conceito na Fisioterapia

A divisão marxista das profissões em trabalhador intelectual e trabalhador manual implica, de certo modo, uma certa elisão ou clivagem entre duas grandes categorias de actividades: as actividades francamente conceptuais e noéticas e as actividades mais corpóreas. Não denego a importância de se conceber a unidade do concretismo corpóreo na actividade de fisioterapeuta, ainda mais se essa unidade incluir a expressividade e a dramaticidade artística. Mas, reduzir o fisioterapeuta a um profissional que é mero "corpo", corpo de trabalho manual, é privar o mesmo de uma certa capacidade de avaliação de cada segundo de intervenção no doente, assim como é privar a capacidade básica de decisão, a qual está implícita no mais pequeno gesto terapêutico. Daí que ache que o fisioterapeuta deva, por princípio, ser, antes da sua constituição enquanto "trabalhador manual", um pensador, um filósofo. Pois o número de questões a serem pensadas e refreadas é imenso! E o fisioterapeuta nunca poderá constituir um bom profissional sem se acercar de um conjunto de questões teoréticas que esboçam a Teoria fundamental e parcimoniosa da decisão e acção terapêuticas. O mesmo será dizer que é importante que o fisioterapeuta não tenha medo de possuir conhecimento ao nível da epistemologia ou da literatura e das artes, visto que estes mesmos conhecimentos, não só vão transformar o fisioterapeuta num agente autónomo, como só poderão ajudar a promover o fisioterapeuta junto de outros profissionais de saúde.
É por tudo isto, e muito mais, que continuo a resistir à simplificação e estultação da minha linguagem, pois acho que os fisioterapeutas precisam verdadeiramente de se aculturarem. É certo que temos milhares de fisioterapeutas a possuírem pós-graduações e mestrados, mas estas formações académicas são de teor institucional, necessariamente científico; ou seja, o ensino pós-graduado ajuda a formar investigadores, mas não faz dos fisioterapeutas bons pensadores, pois esse mesmo ensino, ao colocar-se nas efígies da actividade científica, evita qualquer teor mais conceptual, porque potencialmente especulativo. É certo que teorias e conceitos podem abranger a subjectividade, a um nível de possível delírio, mas o evitamento da actividade mental especulativa leva a que os fisioterapeutas percam a sua capacidade de "pensar" na totalidade da Fisioterapia enquanto matéria Una e parcimoniosa, e também leva à incapacidade de conceber o doente enquanto "ser que existe" (Sartre), "ser com intencionalidade" ou Ente (Husserl), ou, então, Dasein (Heidegger), ou seja, enquanto Indivíduo com características únicas e irrepetíveis, ligado a um mundo de questões que devem ser pesadas e reflectidas.
Este mesmo mundo da reflexão em torno do "Ser", num sentido mais individual do que colectivo, esboça a necessidade de uma "filosofia da fisioterapia", a qual não é apanágio conteudístico dos cursos de licenciatura, mestrado ou doutoramento, sendo que estes, não só denegam todos os métodos fisioterapêuticos que são mais Arte que ciência (como a Reeducação Postural), como cegam os seus formandos à realidade científica (no sentido mais essencialista e neo-positivista possível), apresentando-a como única forma de interpretar a realidade.
Ora, na realidade, alguém que possua uma perspectiva mais "morfodinâmica" do corpo sabe que a Ciência consubstancia uma forma um tanto parcelar de ver os utentes. Basta o facto de a ciência ter unicamente validade estatística e probabilística para atendermos à sua grande limitação, pois se, por exemplo, em determinado estudo, for obtida uma prevalência de dor lombar em metade dos utentes escolióticos avaliados, ao invés de se suplantar a existência de 50% de indivíduos sintomáticos, mais importante será concentrar-nos na realidade única de cada um dos 50 indivíduos que, apesar de possuirem deformidade, não possuem queixas dolorosas. Ou seja, o estudo demonstraria que em cerca de metade dos casos terá de se entender o fenómeno de uma potencial adaptação patológica mas "natural", que faz com que os indivíduos se tornem um anti-essencialismo.
Que as graduações e pós-graduações criem condições de reflexão, mas verdadeira reflexão especulativa! Pois são tantos e tantos os pós-graduados, assim como são tantos aqueles que vêm ter comigo com formações de 'RPG', 'Cadeias Musculares', 'Sofrologia', e todo um emaranhado de porcarias que enchem o currículo, e, quando falam comigo ou pegam num doente, demonstram que nada entenderam da Essência mais pura do conceito da Reeducação Postural.
Que se finalize esta tendência para as pessoas se encherem de cursos atrás de cursos, graduações e pós-graduações. Estão a querer provar o quê a quem? À sociedade? Que se lixe a sociedade e o seu lixo nesciente! Demonstrar que se possui uma verdadeira maturidade intelectual implica que nem sequer nos preocupemos com o que pensam as maiorias. De certo modo, o homem que é verdadeiramente inteligente, ao jeito de Sartre, refuta as tendências das massas, esse lixo acrítico que só quer material de conhecimento "sem conteúdo". O homem verdadeiramente inteligente prova-o com os actos e com o discurso. Não o prova coleccionando formações ou pós-graduações, sendo que as mesmas não passam de um método utilizado pelas Universidades para "fazer render o peixe". O homem verdadeiramente inteligente é insaciável! Dispensa os formadores. Dispensa as instituições. É anárquico, no sentido em que luta contra as estruturas. O homem verdadeiramente intelectual não cessa de fazer construções, elaborações internas gestálticas, e fá-lo de modo autónomo, crescendo exponencialmente sem necessitar de títulos ou diplomas que só têm importância aos olhos da sociedade estulta.
Que se façam fisioterapeutas com esse aparelhado, com essa capacidade de pensar e de fruir da Verdade mais significante das coisas. No sentido dado por Ibsen, que se faça um "Inimigo do povo". E aí sim!... Teremos o verdadeiro intelectual da Fisioterapia!

1 comentário:

Anónimo disse...

Ola. o meu nome é isabel, estudo desporto na faculdade e precisava de fazer um trabalho para uma cadeira. No entanto, estou com alguma dificuldade em fazê-lo e estava na net a ler blogs e encontrei o seu, que me pareceu muito interessante. O trabalho é sobre Streching para o trem superior peitoral passivo, preciso de fazer um exercicio com esta técnica, enumerar os musculos solicitados, orientações metodológicas, etc. e se me pudesse ajudar nesse sentido agradecia, é que na minha faculdade não existe bibliografia para o fazer. obrigada.