As pessoas que seguem mais de perto o meu trabalho no CCR sabem que realizo várias classes de Reeducação Postural e Pilates por dia. Este trabalho não possui, obviamente, as mesmas virtudes que sessões necessariamente individuais. Porém, em matéria de motivação, é bastante mais fácil, tanto para mim como para o doente, a manutenção de um “trabalho” longo numa dinâmica grupal.
Esta mesma dinâmica – de grupo – é claramente diferente do trabalho da fisioterapia individual. Num certo sentido, o trabalho de grupo trai um pouco os princípios da Fisioterapia em geral e da Reeducação Postural em particular; por outro lado, atendendo ao trabalho cada vez mais massificado das clínicas, mesmo da Fisioterapia pretensamente individual, diria que prefiro o meu trabalho àquele que muitas vezes observo.
Mas, mantendo-me num certo percurso argumentativo, diria que a forma como trabalho poderá, de algum modo, trair muito do que digo há vários anos sobre Reeducação Postural. Não obstante tal traição, gosto deste meu trabalho e desta minha dinâmica. Mas, não deixa de haver um componente que muitas vezes me frustra: o componente pedagógico. É que as classes são, na realidade, o contexto excelente para a introdução de certas componentes de Ensino em Fisioterapia. Mas a verdade é que muitas das pessoas que participam nestas classes não entendem esse mesmo objectivo pedagógico, não querendo muitas vezes esforçar-se ou implicar-se num trabalho verdadeiramente “educativo”. E é com pena que muitas vezes me apercebo de que tudo aquilo que estive a ensinar entra em “saco roto”... Por outro lado, não deixa de ser algo intrincada esta coisa de realizar um trabalho de “Educação Física” em indivíduos que estão, na sua maioria, pobremente escolarizados...
O trabalho grupal é, num certo ponto de vista, o futuro da Fisioterapia, pois já é praticamente impossível subverter esta evolução – a que assistimos diariamente – da Fisioterapia convencional para um trabalho mais parecido com o Fitness globalizado. Não sei se é suposto resistirmos a esta evolução. Mas de uma coisa estou certo: é preferível fazermos a “diferença” no seio desta evolução, do que simplesmente nos deixarmos vencer. Daí que defendo, como já tanto o fiz, que os fisioterapeutas têm de estar envolvidos nas aulas daquilo que podemos denominar de “actividades de baixo impacto”. E se essas actividades implicarem a compreensão sincrética de uma semelhança no significado das diferentes actividades físicas, então estamos verdadeiramente no caminho do progresso. Veja-se o exemplo do PNF-CHI. Integra modelos aparentemente diferentes, apregoa a actividade motora “facilitatória”, e tudo num contexto de marketing poderosamente bem sucedido. Também o PNF-CHI parece entrar numa dinâmica de “Fitness” que não me agrada. Mas talvez seja este o caminho certo: ao invés de “lutarmos contra”, tentemos uma certa “integração”...
No dia a dia, quando efectuo as minhas classes, devo confessar que não me sinto “trair-me” pela inclusão de um “factor comercial” no meu trabalho. Isto acontece porque, não obstante estar a trabalhar no sentido contrário ao que moralmente apregoo, não deixo de gostar da dinâmica em que laboro no dia a dia.
Cada pessoa, cada terapeuta, deverá pensar todos estes elementos. Por exemplo, sei que há fisioterapeutas que preferem trabalhar na Fisioterapia convencional, mesmo que a baixos preços. Admiro essas pessoas, apesar de que também elas se vendem e vendem a própria Fisioterapia (desta vez pela mera razão de que estão a trabalhar a baixo custo...). E sei que há quem trabalhe em contextos complexos, mas sempre com amor pela profissão. Não sendo despicienda a existência de uma certa e potencial “alienação”, construída logo no decorrer dos cursos, ainda assim o que interessa verdadeiramente é a felicidade, a qual é, na realidade, a mesma coisa que a percepção pessoal da felicidade (não a percepção dos outros).