quinta-feira, junho 10, 2010

A Ordem dos Fisioterapeutas: será uma ilusão? Um manifesto

Peço-vos: não se acerquem da ilusão que um certo “utilitarismo maioritário” tem concebido relativamente a uma futura Ordem dos Fisioterapeutas. No plano teórico, a Ordem será muito bem vinda, e todos devem contribuir para a “petição”. Mas, no plano prático, as coisas não são assim tão simples.
Na realidade, a Associação Portuguesa de Fisioterapeutas pede aos seus associados para subscrever uma petição, que, se for a bom porto, permitirá tornar os fisioterapeutas “bem colocados” da APF num órgão ainda mais poderoso: uma Ordem. A APF precisa dos seus associados como combatentes em nome de um órgão que irá, supostamente, tornar os fisioterapeutas profissionais mais autónomos e reconhecidos.
Em tempos, os enfermeiros também tinham a mesma ilusão. Mas, como veio a verificar-se, a Ordem dos enfermeiros tornou-se um organismo totalmente anémico, incapaz de exercer qualquer tipo de pressão, ou de realizar qualquer tipo de acto licencioso capaz de “ajudar” verdadeiramente os profissionais. Perguntem aos enfermeiros se se sentem “reconhecidos” pela sua Ordem...
Assumindo que a “nossa” Ordem não irá cair na pura “ineficiência” dos “enfermeiros”, devo dizer que a Ordem dos Fisioterapeutas, um pouco à semelhança dos sindicatos, só poderá vir a favorecer todos aqueles fisioterapeutas “velhos do Restelo” que se encontram bem colocados nos Hospitais e Centros de Reabilitação. Já a grande maioria dos jovens fisioterapeutas, muitos deles a ganharem a recibos verdes, e eventualmente a trabalharem em conjunto com auxiliares de fisioterapia e médicos fisiatras nas clínicas existentes, não conhecerão qualquer tipo de vantagem com uma pretensa Ordem; esta só fará com que aumente o nível de conflito (já existente) entre os diversos profissionais, os quais têm que inelutavelmente trabalhar como equipe.
Pergunto: quem fará parte da administração da Ordem? Provavelmente os membros da Associação. Pergunto: que vantagens possuo em fazer parte da APF? Descontos nas suas próprias formações? Acordos inúteis com outros Organismos? Divulgação de cursos ao preço de 200 euros? Divulgação de um Boletim que já quase nem é impresso?
Pergunto: Que fez a Associação para impedir a abertura indiscriminada de escolas de Fisioterapia? (Teremos consciência de que os membros da APF são, na sua maioria, professores nessas diversas escolas?...)... Que fez a APF para divulgar o mundo da Fisioterapia nos meios da Intelligentsia portuguesa? (Sozinho, publiquei mais artigos na Comunicação Social do que todos os membros da APF, presidente incluída, em conjunto). Que fez a APF para divulgar a verdade deste mercado grosseiro das múltiplas formações pós-graduadas? (Antes pelo contrário, ajuda e apoia um mercado que explora os jovens fisioterapeutas)... Podia continuar eternamente... Claro que a pergunta “final” é óbvia: Se a futura Ordem vai ser constituída por membros da APF, quem me garante que a Ordem vai fazer mais do que a APF tem feito?...
Já sei o que vão responder... A Ordem possui maior poder e legitimidade de intervenção que uma simples Associação. Daí a necessidade de criar uma Ordem, a qual possuirá maior poder “persuasivo”. Que grande ilusão!... A Ordem visa dar poder a quem quer poder! A Ordem visa dar lóbis e “cadeiras douradas” aos que já estão bem instalados! Pois, na realidade, nem sequer as entidades patronais se preocupam com a nossa suposta Ordem. Não são as nossas Cédulas reconhecidas unicamente pelo Ministério da Saúde?... Cédulas algumas em que os nossos colegas são identificados como “Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica”...
A realidade real das coisas tem demonstrado que as Ordens em geral não passam de organismos de abuso de poder, muitas vezes completamente descaracterizados e distantes da realidade dos profissionais. A “Elite” quer existir às nossas custas, mas não poderá resolver a nossa situação.
Acho que, no fundo, é mais fácil, para o nosso reconhecimento e autonomia, provar junto das nossas entidades patronais, principalmente se forem médicos, as nossas verdadeiras capacidades intelectuais e pragmáticas. É o que tenho feito junto dos meus “patrões” e todos os outros colaboradores, o que me permitiu, com o tempo, crescer na “empresa”. E digo-vos que a directora clínica da Clínica onde trabalho (médica fisiatra) tem demonstrado muitas vezes mais reconhecimento pelo meu trabalho e qualidades do que a simples recepcionista ou a mulher da limpeza...
Pensemos menos em formações! Pensemos menos em Ordens ou Sindicatos! Pensemos menos em soluções de “outros” relativamente à nossa vida. Pensemos mais nas nossas próprias qualidades heurísticas, na nossa capacidade competitiva, na nossa capacidade para conseguir “crescer” e mostrar que somos mais eficientes que muitos “outros”. Este tipo de “combate constante e competitivo” não existe para aqueles que já estão bem instalados (e encostados) nos diversos hospitais que por aí abundam...
Não coloquemos muita fé numa suposta Ordem. Esta gosta, muitas vezes, de exercer o seu poder de forma supostamente arbitrária. O nosso reconhecimento e autonomia estão dependentes, acima de tudo, das nossas capacidades, as quais devem basear-se num exercício de Liberdade (responsável). A Ordem dos Fisioterapeutas não será eficiente. Se o vier a ser, então transformar-se-á em mais um organismo de mero exercício de Autoridade.

1 comentário:

João Gregório Gomes, PT disse...

Relativamente ao processo, está disponível em:

http://www.fisiozone.com/showthread.php?115153-Projecto-de-Lei-n.º-396-XI-1.ª-Proposta-de-Estatutos-Ordem-dos-Fisioterapeutas&highlight=peti%E7%E3o

- Projecto de Lei n.º 396/XI/1.ª - CRIAÇÃO DA ORDEM DOS FISIOTERAPEUTAS

- Proposta de Estatutos Ordem dos Fisioterapeutas

- Audiência Parlamentar Nº 8-GT-A-XI Assunto: Transformação da associação Portuguesa de Fisioterapeutas em Associação Profissional de Direito Público-Ordem Data da Audiência: 2010-06-09

- História anterior da criação da Ordem dos Fisioterapeutas, por transformação da APF, Maio 2008 a Maio 2009.