A analogia entre o mundo da “Clínica” e
o Universo filosófico é evidente e tem como principal representante
contemporâneo Michel Foucault. Para o filósofo, tanto a História como o início
da “Clínica” se principiam no dealbar da modernidade liberal, cientificamente
materialista/positivista e economicamente capitalista, algures nos finais do
séc. XVIII ou início do séc. XIX, constituindo, por sua vez, esta mesma
consciência da perda de um certo «Absoluto» a aurora de uma fase pós-moderna de
contrastação da castradora «hipermodernidade». A «Hipermodernidade» da Medicina
possui, decerto, a vantagem de se defender melhor de um certo conteúdo
místico-dogmático assaz perigoso que prevaleceu milenarmente, mas iniciará, por
sua vez, um reino de cientificidade – também ela dogmática à sua maneira – que,
na sua extensão mais “mecanicista”, levará à criação de uma visão abstratíssima
do corpo, porque desvirtuado da sua “continuidade” natural, porque transmutado
num conjunto de “rótulos” e de “classificações”, porque pervertido num objeto
sem alma e distante da realidade espiritual. Também a Fisioterapia – aliás,
profissão inicialmente criada no contexto da Medicina – sofre do mesmo mal de
excesso de “cientificidade” que, aliada à assunção de que desta necessita para
o seu desenvolvimento no contexto socioprofissional, mantém a cegueira que a
paralisa face à exigência de uma «Saúde» adaptada à Pós-modernidade.
A persistência da visão de um corpo fragmentado, em que as diferentes peças parecem desligadas de uma substância unitária que, na realidade, funciona como um Todo equilibrado sistemicamente, o mal de uma Fisioterapia híper-científica, que – ainda mais grave – acusa os grandes paradigmas de tratamento Global, como é o caso da Reeducação Postural, de uma anti-cientificidade dogmática/relativista (acusação condenável até porque a cientificidade dita “clássica” está longe de entender o verdadeiro significado epistémico de «cientificidade» e de «racionalidade» - dois conceitos conciliáveis na Epistéme-Noésis dos gregos), é agravado troficamente por um Sistema socioeconómico que sempre pretendeu capitalizar a profissão e que persiste no modelo de “fragmentação” de um Uno corpóreo por meio de um sistema de Gestão fisioterapêutica em que o corpo do doente (e não o doente em si-mesmo) é tratado sempre parcialmente, pois que o Serviço Nacional de Saúde e os Subsistemas pagam somente segundo códigos prescritivos (que – mantendo a irracionalidade da coisa – constituem ordens de um suposto médico fisiatra que à distância se mantém do dito corpo Uno do doente), os quais consistem em técnicas (pelos vistos, coisas separadas, quando, para mim, a Fisioterapia é igualmente um Todo integrado) limitadas a uma parte do corpo e a uma intervenção necessariamente circunscrita. Modelo de trabalho deplorável, mas utilizado massivamente pelos fisioterapeutas que não têm outra hipótese senão ceder ao jugo do Economato; o mesmo Economato que, associado aos interesses particulares e ao laissez-faire do Estado, permitiu a multiplicação de fisioterapeutas (muito associado à reprodução de escolas de formação básica muito questionáveis na sua qualidade) e o consequente agravar da sua situação financeira, o que, associado à inflexibilidade de um Mercado pouco promissor (não obstante as falácias relativas ao contrário por parte de uma inepta Associação Portuguesa de Fisioterapeutas que somente se preocupa em ser Ordem), ainda vem contribuir mais para a franca lassidão dos profissionais que, muitas vezes cegos pela mera necessidade de fazerem formações, não obstante tudo o que foi dito, teimam em não compreender a verdadeira natureza “holística” de uma nova Fisioterapia que persiste numa “não-revolução” conceptual e epistemológica (apesar de pretenderem ser profissionais holísticos, diferentes dos médicos e da Medicina supostamente “castradora”).
A persistência da visão de um corpo fragmentado, em que as diferentes peças parecem desligadas de uma substância unitária que, na realidade, funciona como um Todo equilibrado sistemicamente, o mal de uma Fisioterapia híper-científica, que – ainda mais grave – acusa os grandes paradigmas de tratamento Global, como é o caso da Reeducação Postural, de uma anti-cientificidade dogmática/relativista (acusação condenável até porque a cientificidade dita “clássica” está longe de entender o verdadeiro significado epistémico de «cientificidade» e de «racionalidade» - dois conceitos conciliáveis na Epistéme-Noésis dos gregos), é agravado troficamente por um Sistema socioeconómico que sempre pretendeu capitalizar a profissão e que persiste no modelo de “fragmentação” de um Uno corpóreo por meio de um sistema de Gestão fisioterapêutica em que o corpo do doente (e não o doente em si-mesmo) é tratado sempre parcialmente, pois que o Serviço Nacional de Saúde e os Subsistemas pagam somente segundo códigos prescritivos (que – mantendo a irracionalidade da coisa – constituem ordens de um suposto médico fisiatra que à distância se mantém do dito corpo Uno do doente), os quais consistem em técnicas (pelos vistos, coisas separadas, quando, para mim, a Fisioterapia é igualmente um Todo integrado) limitadas a uma parte do corpo e a uma intervenção necessariamente circunscrita. Modelo de trabalho deplorável, mas utilizado massivamente pelos fisioterapeutas que não têm outra hipótese senão ceder ao jugo do Economato; o mesmo Economato que, associado aos interesses particulares e ao laissez-faire do Estado, permitiu a multiplicação de fisioterapeutas (muito associado à reprodução de escolas de formação básica muito questionáveis na sua qualidade) e o consequente agravar da sua situação financeira, o que, associado à inflexibilidade de um Mercado pouco promissor (não obstante as falácias relativas ao contrário por parte de uma inepta Associação Portuguesa de Fisioterapeutas que somente se preocupa em ser Ordem), ainda vem contribuir mais para a franca lassidão dos profissionais que, muitas vezes cegos pela mera necessidade de fazerem formações, não obstante tudo o que foi dito, teimam em não compreender a verdadeira natureza “holística” de uma nova Fisioterapia que persiste numa “não-revolução” conceptual e epistemológica (apesar de pretenderem ser profissionais holísticos, diferentes dos médicos e da Medicina supostamente “castradora”).
A Fisioterapia portuguesa precisa, de
facto, de uma revolução. E essa deve ser essencialmente conceptual e
epistemológica, antes de ser científica e metodológica. Sem essa, continuaremos
a medrar num conjunto de métodos e técnicas solteiros, vazios de conteúdo e de
Síntese. E – muito importante! – sem a desejada revolução epistemológica, a
Fisioterapia não tem qualquer hipótese de se autonomizar e afirmar enquanto
profissão e até enquanto Ciência (incluindo a relação e apresentação da mesma
face a outras profissões de Saúde, com as quais muitas vezes se encontra em
pleno confronto profissional e ideomático), sendo que a dita autonomização é
fundamental para que uma nova Fisioterapia mais humana e menos “económica”
tenha lugar. Antes de tudo, trabalhemos sobretudo para que mais fisioterapeutas
possam dar tempo ao Conceito!...
Publicado online na Revista 'Hospital do Futuro'
http://www.hospitaldofuturo.com/profiles/blogs/para-uma-fisioterapia-pos-moderna-em-portugal
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