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sábado, março 01, 2025

Relaxamento

  (Regressando ao baú de memórias, resgato de um trabalho do último ano de curso - 2002/2003 - a parte correspondente ao "Relaxamento", servindo de "introdução" aos interessados.)

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O relaxamento é definido por Auge (1988) como “um estado de total imobilidade física e relaxação da musculatura esquelética com um efeito regulador no Sistema Nervoso Simpático”.

Por outro lado, Samuel (1986) define o relaxamento como “um profundo estado de descontracção física e mental, que permite ao indivíduo desligar-se das contingências da vida quotidiana, recuperar forças e ter a pausa indispensável para um funcionamento equilibrado”.

Na realidade, o relaxamento poderá ser perspectivado segundo múltiplas facetas. Porém, nem sempre este é visto na sua dimensão de fusão multidimensional corpo-mente. Mediante a utilização de diversas técnicas de relaxamento, o fisioterapeuta poderá, efectivamente, preconizar modificações a nível psicoemocional, relacionadas essencialmente com a alteração da noção do corpo e com a diminuição da ansiedade (Vieira, 2001).

Os métodos de relaxamento correspondem a “processos terapêuticos, educativos ou reeducativos, que utilizam técnicas elaboradas e codificadas, exercendo-se especificamente no sector tensivo e tónico da personalidade” (Bousingen, 1979).

As técnicas de relaxamento são vistas por Defontaine (1977) como “processos terapêuticos bem definidos, que visam obter no indivíduo uma descontracção muscular e psíquica com a ajuda de exercícios apropriados”.  

Existem diferentes tipos de métodos de relaxamento (Vieira & Madureira, 2001):

*  Métodos globais (ou psicoterapêuticos), correspondentes à corrente psicológica, em que o relaxamento é obtido através de um processo de concentração mental sobre a imagem da relaxação. O seu ponto de partida é o esforço voluntário do “espírito” que age como inibidor do sistema muscular periférico. Os principais autores são Schultz, Ajuriaguerra, Stokvis e Kretschmer.

*   Métodos analíticos (ou fisiológicos), correspondentes à corrente fisiológica, que se baseiam em trabalhos de fisiologia muscular e que têm por paradigma a tomada de consciência localizada da contracção e da descontracção. Os principais autores são Jacobson, Jarreau & Klotz, Cripps, Aiginger e Laura Mitchell.

*   Métodos reeducativos, cujo autor mais conhecido é Gerda Alexander. No seu método, a Eutonia de Gerda Alexander, são utilizados diversos exercícios de estiramento, que visam a tomada de consciência dos grupos musculares corporais e a utilização económica dos diversos movimentos do indivíduo.

Hare (1986) e Vieira (2001) referem os seguintes objectivos do relaxamento:

*   Diminuição da ansiedade,

*   Assistir no tratamento do stress,

*   Reduzir e/ou prevenir os efeitos físicos e psíquicos do stress,

*   Diminuição dos estados depressivos,

*   Integração da imagem corporal,

*   Aumentar a auto-estima/auto-conceito,

*   Favorecer os mecanismos de autocontrole,

*   Reduzir a dor ou a percepção desta,

*   Aliviar a tensão muscular,

*   Combater a fadiga,

*   Diminuir a pressão e a frequência sanguíneas,

*   Promover a melhoria das relações interpessoais.

A eficácia da utilização dos métodos de relaxamento em populações diversas tem sido demonstrada em vários estudos.

Mendes (1994) e Cravo (1997) estudaram a eficácia da técnica de Laura Mitchell na alteração dos níveis de auto-conceito, ansiedade e depressão em indivíduos com perturbação mental, tendo, ambos, concluído que a técnica referida acima promove a diminuição dos níveis de ansiedade e de depressão e o aumento do auto-conceito na população referida.

Duarte (1995) demonstrou que o método de Laura Mitchell é eficaz na diminuição da ansiedade e depressão, e na melhoria da auto-imagem corporal de mulheres submetidas a mastectomia.

Uma diminuição da ansiedade e uma melhoria do auto-conceito foram, igualmente, demonstrados numa população de toxicodependentes sujeita ao relaxamento de Laura Mitchell (Faustino, 1995).

Mota (1995, cit. por Cravo, 1997) estudou as alterações provocadas pela Eutonia de Gerda Alexander ao nível do autoconceito e imagem corporal de utentes com esquizofrenia, tendo verificado um aumento do nível de autoconceito no grupo experimental (em relação ao grupo de controle).

Estudos realizados por Emerêncio & Rodrigues (1996, cit. por Cravo, 1997) demonstraram que indivíduos sujeitos a relaxamento auto-sugestivo de Schultz experimentam uma diminuição dos níveis de ansiedade e uma diminuição das frequências cardíaca e respiratória.

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- Auge, R. (1988). La Relaxation en Kinesitherapia. Kinésithérapie Scientifique, 270, 23-35.

Bousingen, R. (1979). La Relaxation. Paris : Presses Universitaires de France.

Cravo, M. (1997). Relaxamento de Laura Mitchell: efeitos da aplicação de uma sessão ao nível da reacção galvânica da pele e do estudo subjacente da ansiedade, em indivíduos com doenças do foro psiquiátrico. Monografia de final de curso. Alcoitão: Escola Superior de Saúde do Alcoitão.

Defontaine, J. (1977). Relaxation Différentielle et quelques aspects de l’assouplissement. Paris : Maloine S.A. Editeur.

Duarte, A. (1995). Relaxamento de Laura Mitchell: efeitos da sua aplicação ao nível da ansiedade e auto-conceito em mulheres submetidas a mastectomia. Monografia de final de curso. Alcoitão: Escola Superior de Saúde do Alcoitão.

Hare, M. (1986). Physiotherapy in Psychiatry. London: Heinmann Physiotherapy.

Mendes, I. (1994). Relaxamento de Laura Mitchell: alterações do nível do auto-conceito, ansiedade e depressão em doentes do foro psiquiátrico. Monografia de final de curso. Alcoitão: Escola Superior de Saúde do Alcoitão.

Samuel, L. (1986). Guia prático das autoterapias psicológicas. Lisboa: Verbo Editora.

Vieira, A. I. (2001). Fisioterapia em saúde mental. Contributo para a proposta de um guia de boas práticas. Alcoitão: Escola Superior de Saúde do Alcoitão.

Vieira, A. I. & Madureira, M. L. (2001). Proposta de um guia de boas práticas. Alcoitão: Escola Superior de Saúde do Alcoitão.


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