domingo, outubro 22, 2006

O órgão antes da função

É cada vez mais difícil precisar a qualidade de formação dos futuros fisioterapeutas obtida nas diferentes escolas que por aí proliferam. Parece-me que, com a implementação do processo de Bolonha, os cursos vão sofrendo progressivamente cortes nos seus conteúdos e na exigência de formação. Um dos mais insuportáveis cortes efectuados ao nível dos programas de cursos está relacionado com a formação em reeducação postural. A grande maioria dos actuais fisioterapeutas não tem formação base em qualquer método de reeducação postural, e os poucos que têm algum género de formação não chegam a perceber bem em que consistem tais métodos.
Nem mesmo eu percebi bem do que tratava verdadeiramente o RPG quando o decano da fisioterapia João Vasconcelos Martins nos ensinou os seus princípios e as suas posturas, na minha formação na Escola Superior de Saúde do Alcoitão. Mas a curiosidade e a paixão ficaram...
Mais tarde, depois de um percurso mais ou menos sinuoso nos meandros do mundo da fisioterapia, a minha experiência profissional levou-me a abraçar os princípios dos métodos reeducativos. E percebi bem que a fisioterapia, mais do que a "ciência do movimento", deve ser uma "ciência da estrutura", uma "ciência da morfologia", uma "ciência da postura". Não deixa de ser verdade que a função faz o órgão. Mas a função desajustada só poderá produzir um órgão ainda mais desajustado. É o órgão que organiza a função. É a postura que comanda o movimento. É a correcção morfológica que permite o bom funcionamento das estruturas.

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