domingo, janeiro 28, 2007

O manifesto anti-desportivo ou a revolução na metodologia do treino?

(Texto completo; publicado parcialmente na revista SportLife, Fev. 2007)

Nunca a prática consistente de actividade física e/ou desportiva exerceu um fascínio tão grande nas pessoas como na actualidade. Nos tempos modernos, destros na avaliação social com base no aspecto físico, é cada vez mais comum a prática globalizada e mantida de exercício físico. Os ginásios enchem-se de pessoas, seres assaz narcisistas, ou eventualmente padecedores de uma qualquer maleita, clientes imbricados na actividade maquinista do trabalho muscular fadigoso. E como se não bastasse o número crescente e exponencial de clientes, as actividades desportivas proliferam e reinventam-se numa série de laborações comerciais, dos quais certos estrangeirismos como stretching, step, cycling, body sculpt, powerfit, body pump, body push, body defense, totalfitness, new balance, entre muitos outros, constituem marcante exemplo. Para além deste número exacerbado de práticas físicas aparentemente dissemelhantes, as práticas ditas holísticas têm conseguido marcar o seu lugar de destaque dentro deste “conflito de escolhas”. Assim sendo, temos o Pilates, o Yoga, o hold-relax, e até as mais alternativas como o Chi-Kung ou o Tai Chi Chuan. Há também quem prefira as misturas, os nomes complexos, as miscelâneas de diferentes nomenclaturas que permeiam o vácuo das mentes curiosas. Daí o sucesso do PNF-chi ou do YogiPilates. Mas este texto não é sobre o maquinismo comercial existente neste mundo cada vez mais intrincado que é o do fitness ou o do fitwell. Este texto pretende arraigar o mundo desportivo na sua globalidade, desde os desportos mais clássicos. Este texto pretende argumentar que todos os desportos, desde os mais antigos até às primorosas (re)invenções da actualidade apresentam no seu conjunto uma poderosa limitação, relacionada com o funcionamento do sistema músculo-esquelético. Eis que urge a necessidade de esclarecer as pessoas de que, no ponto de vista articular, não há praticamente qualquer modalidade desportiva que se apresente como saudável ou recomendável, independentemente de o desporto ser ou não realizado dentro de água. Falo, volto a repetir, da perspectiva da saúde das nossas estruturas músculo-esqueléticas. Outras (des)vantagens potenciais dos desportos não são objecto deste texto. É preciso entender que o mais importante factor que expressa a saúde futura das nossas articulações, e potenciais reumatismos, consiste na nossa postura. Quando me refiro à postura corporal falo do conjunto dos eixos que expressam determinado alinhamento articular. Não me refiro só à coluna e às suas cifoses, lordoses ou escolioses. Refiro-me ao alinhamento de todas as estruturas segmentárias do corpo, incluindo a existência de valgismo ou varismo, flexum ou recurvatum, dos cotovelos, punhos, ancas, joelhos, pés e dedos. Estas idiossincrasias de alinhamento corporal estão dependentes de inúmeros factores, uns aparentemente menos modificáveis e outros potencialmente adquiridos com a evolução e/ou maturação corpórea. Mas, indubitavelmente, são os músculos que irão desempenhar o principal papel de escultores do equilíbrio postural. São os músculos que, agindo como tirantes mecânicos, puxam para fora ou para dentro, para trás ou para a frente determinadas estruturas ósseas onde se inserem, dependendo da dispersão de forças que os movem (e para além dos músculos, são talvez ainda mais às fáscias e os tendões resistentes que exercem o seu papel de escultores posturais). Ora, nesta batalha de forças musculares, o alinhamento postural das articulações tende a estar dependente sobretudo de um tipo de força que é exercida de forma constante sobre as estruturas ósseas, ou seja, da contracção da musculatura tónica ou postural (e não tanto da musculatura fásica relacionada com o movimento). Acontece que a quase totalidade dos desportos ou actividades físicas existentes têm por objecto a chegada a determinado fim ou a criação de determinado trabalho muscular dinâmico, sem ter em conta a existência do citado conjunto de forças de equilíbrio. Por outro lado, apesar de o trabalho muscular da maioria dos desportos existentes ser do tipo dinâmico, não deixa a musculatura tónica ou estática de ser continuamente recrutada, chamada para um trabalho constante, sem qualquer tipo de atenção ao tipo de equilíbrio de forças que se está a gerar. Assim sendo, quase todos os desportos existentes, principalmente as actividades que fazem uso de pesos ou outras resistências, imprimem no corpo um conjunto de desequilíbrios musculares muitas vezes difíceis de destrinçar. E quanto mais séria ou competitiva for a prática desportiva, ou quanto mais assimétrica for essa mesma actividade, maior a probabilidade desse desporto gravar no corpo dos seus praticantes um conjunto oneroso de distúrbios posturais, associados em muito à tendência que essas actividades têm para fazer incrementar os desequilíbrios previamente existentes. Por outro lado, não podemos deixar de atender à maleita que constitui a realização do movimento num corpo consternado por desequilíbrios do alinhamento. Se, por exemplo, um determinado indivíduo possui um joelho excessivamente varo, isso significa que a região interna da articulação do joelho que une fémur com tíbia está sujeita a uma pressão acrescida. Se este mesmo sujeito realizar uma simples actividade como andar rapidamente, ele estará a utilizar a articulação do joelho desalinhada numa série constante de movimentos. Para o indivíduo mais velho, o desgaste associado a tal desequilíbrio segmentário poderá significar uma patologia degenerativa (artrose). E neste mesmo caso, estará errado o profissional que recomendar a este mesmo idoso que ande muito, de modo a libertar a articulação. Para quê movimentar determinada estrutura articular se não houve um prévio realinhamento dos segmentos? Qualquer actividade física realizada numa articulação não alinhada irá somente aumentar o nível de desgaste de natureza viciosa dessa mesma articulação. Imaginemos agora toda esta mesma história mas para actividades físicas mais vigorosas do que o simples andar.Eis, então, que surge o momento de explicar onde reside a potencial solução para estes mesmos desequilíbrios do alinhamento articular. Ora, se a contracção concêntrica das estruturas (em que assenta a maioria dos desportos praticados) leva ao encurtamento dos músculos, as actividades de alongamento muscular libertam estas mesmas estruturas musculares que se relacionam e inserem nos segmentos ósseos. Ou seja, somente a actividade de alongamento muscular poderá permitir refrear o conjunto de forças musculares que, de forma poderosa, impõe determinado alinhamento articular. Apenas o estiramento muscular eficaz poderá permitir deformar as estruturas moles que puxam os tirantes mecânicos do corpo. Assim sendo, é fundamental realizar alongamentos durante e após qualquer actividade desportiva, de modo a diminuir a tendência que o conjunto de forças que se despertaram na actividade exerceram de modo a criar desalinhamento segmentar. Mas aqui a revolução desportiva que proponho não existe, pois já é comum realizar alongamentos durante e, sobretudo, após a actividade desportiva. No entanto, já não se poderá dizer que essa prática de alongamentos seja correcta ou ajustada às necessidades plenas de cada indivíduo. Ora, é indubitável a necessidade de que cada desportista realize os alongamentos mais caros ao conjunto das suas necessidades de (re)alinhamento corporal. E esse mesmo alongamento não deve ser analítico, como é típico na actividade desportiva. O alongamento deve ser realizado da forma mais global possível, de modo a estirar cadeias musculares ao invés de músculos isolados. Uma modificação postural significativa implica a realização congruente de estiramentos globais das cadeias musculares, insistindo particularmente na secção mais convergente ou retraída dessa cadeia. Não pode deixar de ser dito que quase todos os desportos existentes à face do planeta constituem uma súmula de esforços perniciosos para o sistema músculo-esquelético. É impossível continuar a negar a evidência que muitas teorias fundamentais, assim como uma certa investigação, têm vindo a colocar à superfície. O trabalho realizado na maioria das actividades físicas, centrado fundamentalmente na força muscular, alimenta os desequilíbrios e acentua a tensão nas cadeias musculares. E qualquer esforço, por maior que seja, de compensar esses esforços com a realização de alongamentos não deixará de constituir um acto de compensação minoritária. Dar “uma no cravo e outra na ferradura” fará com que o equilíbrio corporal se mantenha praticamente inalterado. Assim sendo, aquilo que verdadeiramente se recomenda é a realização de uma prática física não competitiva, isenta de grandes esforços, plena de diversos movimentos, mais centrada na actividade cardiovascular ou na resistência aeróbia. E essas mesmas actividades aeróbias devem ser o mais variadas possíveis, sendo que não deve ser mantida a prática constante de exactamente a mesma actividade, com os mesmos movimentos, durante tempos muito prolongados. A força muscular está dependente sobretudo da qualidade de funcionamento da articulação. Uma articulação bem alinhada e funcionante será sempre provida de um músculo forte. E essa estrutura articular manter-se-á funcional. Aliás, é sempre de função que tudo se trata. Devemos ter em vista a realização de actividades que permitam melhorar a nossa funcionalidade do dia a dia. Ter muita força ou massa muscular não servirá de nada, a não ser para submeter o corpo a uma tensão excessiva. No caso de ser necessário realizar actividades mais duras, o corpo poderá ser inclusive ensinado a trabalhar com mais eficácia, de modo a fazer mais e melhor com menos esforço, como é apanágio de certos métodos terapêuticos como a técnica Alexander e o método de Feldenkrais, praticamente desconhecidos do mundo do fitness. Ainda assim, qualquer actividade física, por mais variada ou ligeira que seja, irá ser perniciosa se for realizada em estruturas articulares não alinhadas. Para além de que qualquer treino de actividade muscular realizado em estruturas não alongadas irá, provavelmente, criar tensão sobre tensão. Ora, eis então a principal premissa daquilo que entendo constituir uma revolução na metodologia do treino: antes de se realizar qualquer actividade física, o corpo deverá ser prévia e globalmente alongado, a frio, por longos períodos de tempo. Ou seja, estruturas não preparadas deverão ser sujeitas a uma tensão de estiramento global, mantida por um certo período de tempo, sem força excessiva (esta só alimenta as compensações, para além de que pode constituir perigo para a saúde das estruturas em alongamento). O alongamento deverá ser global, proporcionando o (re)alinhamento articular com base no trabalho centrado nas cadeias musculares. Só depois de se ter dedicado parte do tempo de treino ao alongamento é que se pode incorrer no trabalho dinâmico. Este far-se-á num corpo em que as articulações já foram previamente libertadas; este far-se-á num corpo em que a musculatura já possui um comprimento singelo, facilitador do trabalho muscular; este far-se-á num corpo previamente descomprimido, liberto da tensão excessiva, sendo que assim não estamos a aumentar a tensão num corpo já tenso. As premissas e alguns postulados do que aqui afirmo partem inicialmente do conceito das cadeias musculares de Mézières, mas têm sido colocados no terreno da escrita fundamentalmente por Ph. E. Souchard nos seus livros dedicados à Reeducação Postural Global e ao Stretching Global Activo. Por tudo o que aqui ficou dito, não é de estranhar que os escritos mais importantes de Françoise Mézières se tenham intitulado “revolução na ginástica ortopédica”, assim como o método da sua discípula Bertherat, assente na consciencialização e no relaxamento, tenha tomado o nome de antiginástica...
Estes métodos podem fornecer tantas inovações ao mundo do desporto, assim como podem contribuir para gerar o conceito de “uma nova cultura física”.
É pena que a maioria dos instrutores de fitness não conheça estes sistemas de trabalho terapêutico, e não procure saber mais acerca do alongamento global. Também não admira, se tivermos por exemplo em conta que a obra de Bertherat “Le corps a ses raisons” (traduzida tristemente para português para o título “Dê saúde ao seu corpo: a saúde pela antiginástica”, editora Europa-América), muito reveladora acerca dos princípios atrás enunciados, encontra-se esquecida e perdida algures no passado. Por outro lado, a compreensão procedente destes conceitos implica a formação especializada dos instrutores, o que parece existir cada vez menos, visto que muitos instrutores de fitness não possuem uma formação de base superior na área do sistema locomotor. A meu ver, o mundo do fitness e o mundo da saúde são inseparáveis, pelo que a formação especializada dos profissionais e a aceitação mínima de uma nova forma de ver o desporto e a actividade muscular constituem um requisito fundamental ao respeito pela fisiologia normal do desportista.

sábado, janeiro 20, 2007

Stretch-Pilates para os interessados

Todos os problemas articulares estão directa ou indirectamente ligados a distúrbios de postura. Esta afecta todo o funcionamento físico e psíquico do indivíduo. O Pilates “puro” tem uma eficácia estrondosa no ganho de um controlo postural significativo, assim como melhora a mobilidade articular (principalmente da coluna vertebral). Porém, o Pilates só por si não permite a modificação genuína da estrutura esquelética. É preciso juntar-lhe um trabalho profundo de alongamento global das cadeias musculares posturais. Só esse trabalho de stretching permite a libertação articular e o relaxamento progressivo. O Stretch-Pilates não é necessariamente um novo método, é mais a interpretação rigorosa dos métodos mais eficazes para chegar à postura corporal e aos problemas psico-físicos que afectam as pessoas.

Reeducação Postural + Pilates = Stretch-Pilates

Para praticar, contactar-me (963304478)

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Stretch-Pilates

Este é o nome pelo qual apelidarei várias vezes o método de Reeducação Postural que venho praticando há uns tempos, o método de grupo que resulta da mesclagem do stretching global (desde Mézières até à antiginástica, e muito particularmente a Reeducação Postural Global e o Stretching Global Activo, assim como técnicas de relaxamento e de consciencialização corporal) com o “puro” Pilates.
O trabalho inclui a mistura coerente dos diversos métodos, incluídos numa sopa terapêutica de grande eficácia e coerência. Os exercícios e as posturas são realizados em separado ou de forma integrada, com pleno controlo do posicionamento e alinhamento corporal.
Atendemos ao trabalho de alongamento das cadeias musculares, mobilidade articular (principalmente da coluna) e, por fim, força (principalmente do centro abdominal). O trabalho é feito com recurso a dois tipos de respiração, ambas processadas ao nível torácico superior: uma respiração fluída para o Pilates e uma respiração mais lenta e prolongada, com ênfase na fase expiratória, para o alongamento global.
O termo Stretch-Pilates potencia a noção de mercado! No fundo, não passa de um método de “ginástica postural”, mas inteligentemente integrativo dos métodos mais paradigmáticos e efectivos do domínio da Reeducação Postural. Não é, portanto, uma invenção, um método novo que criei; é mais o resultado da mesclagem criativa de métodos e técnicas preexistentes.O fim principal do Stretch-Pilates é a Postura. E não podemos reeducar a mesma só através do trabalho de activação do centro do Pilates. É preciso o alongamento. É preciso coerência e globalidade. É preciso ver as coisas em termos de “Cadeias musculares”...

quinta-feira, janeiro 04, 2007

Reeducação postural com rolos

Há muito que este texto já devia ser tido escrito. Acontece que no Consultório e Clínica de Reabilitação, Lda. (Av. República, 99), onde realizo há muito as minhas classes de Reeducação Postural, assim como no hospital Curry Cabral (e em poucos mais sítios), o método mais utilizado e simples de conseguir a correcção postural corresponde ao uso de rolos, que podem ser meros canos de esgoto forrados, nos quais os pacientes se deitam, colocando toda a coluna espalhada pela superfície dos mesmos.
Os rolos constituem uma superfície com dureza suficiente para levar à manifestação de reflexos protectores por parte dos doentes, reflexos que acabarão por ter como efeito a deslordose da coluna lombar. Toda a coluna fica numa posição de estiramento ou tracção por cima do rolo, o que facilita a criação de espaços entre as vértebras (por vezes, é a melhor forma de tratar as hérnias discais). Em cima do rolo podemos realizar várias posturas de alongamento, permitindo o treino expiratório e, através da abertura de braços, o alongamento global das cadeias musculares ântero-superiores.
O rolo permite também realizar exercícios de “consciência corporal”. Daí que estes materiais se tenham utilizado em Feldenkrais, em Anti-ginástica e em “Corpo e Consciência”. Há que promover a colocação directa e alongada da coluna por toda a extensão do rolo, sendo que este facilita a sensação proprioceptiva. Exercícios de massagem das costas com o rolo poderão ajudar a tornar consciente as zonas dolorosas.
O rolo é também um dos materiais importantes do Pilates. Por constituir um estímulo desequilibrante, a manutenção do corpo no rolo obriga à activação constante do centro abdominal. Vários exercícios de força, como o Hundred ou as Tesouras, poderão ser realizados com grande eficácia no rolo (eventualmente com uma protecção adicional), sendo que é, a meu ver, uma das melhores formas de Contrologia corporal (para além de que ajuda à manutenção da coluna na posição de apoio total, evitando também a lordose). Para além disso, o trabalho de mobilidade pode também ser feito no rolo, com grande exigência do controlo corporal (experimente-se realizar o Shoulder Bridge por cima do rolo, pedindo que as vértebras sejam todas colocadas uma a uma, precisamente em cima do eixo do rolo). Nos locais que referi inicialmente, é muito comum realizar actividades com o rolo, sendo que muitas vezes a única forma de tratamento empregue corresponde à mera colocação do doente por cima do dito material. Os resultados costumam ser impressionantes.

Método Pilates: desvendando os segredos

Aspectos históricos e técnicos do método dos famosos

No mundo do fitness não há método que tenha gerado tanta polémica e tanta incursão mediática quanto o Pilates. Não há país do mundo ocidental em que o Pilates não tenha tido um surgimento abrasivo e um desbravamento comercial de destaque. Inclusivamente em Portugal, o método Pilates parece ganhar um número bastante significativo de adeptos. A palavra ‘Pilates’ está inclusive imbuída de um certo misticismo, ambiente criador de uma certa aura de atracção comercial. Os motivos de tal mediania e fama derivam directamente do poder de um certo marketing diabólico, sendo que este não pára de identificar o método Pilates como a “ginástica” de eleição de um conjunto enorme de famosas personalidades e actores de Hollywood.
Ainda assim não podemos deixar de tentar compreender o porquê de tal identificação do método com as figuras da fama. Para isso, devemos ter em consideração alguns aspectos históricos do método. Vejamos se podemos resumir a história do método de uma forma simultaneamente atractiva e objectiva.
O criador do método Pilates, Joseph Pilates, era um homem extremamente inteligente e intuitivo. Teve uma infância difícil e plena de uma franca debilidade física, mas ainda assim lutou pela sua perenidade. Talvez pelo facto de ser extremamente frágil, Joseph Pilates dedicou um esforço suplementar a melhorar a sua condição física. Na sua juventude, Pilates estudou e especializou-se em musculação, mergulho, esqui e ginástica. Em 1912, Pilates mudou-se da Alemanha (onde nasceu em 1880) para Inglaterra, onde começou a ganhar a vida como pugilista e artista de circo. No início da Primeira Guerra Mundial, esteve num campo em Lancaster e, posteriormente, na Ilha de Man, local onde trabalhou como enfermeiro. Depois da guerra, Pilates voltou para Hamburgo, onde permaneceu até 1926. Só neste ano é que Pilates, desiludido com o exército alemão, se mudou para os Estados Unidos da América.
Em Nova Iorque, Pilates viria a fundar os seus primeiros estúdios americanos. A partir daqui pouco de sabe relativamente ao seu trabalho, mas, pelo que reza a história, Joseph Pilates viria a cumprir o grande sonho americano de fama e riqueza. Sagaz, Pilates conseguiu impor o seu método de exercício, tendo rapidamente conquistado o mundo da dança. Conquistou, assim, os bailarinos, incluindo indivíduos famosos dos espectáculos musicais e cinematográficos. Portanto, o método Pilates viria a constituir-se como o método dos famosos muito antes de ser abraçado pela geração dos fisioterapeutas – que deram ao método um cunho mais terapêutico – e, mais tarde, pela geração dos instrutores de fitness.
É irónico que o método Pilates esteja tão ligado à dança, pois o próprio Joseph Pilates nunca foi bailarino. Era antes um adepto de actividades “duras”, ditas de força pura e explosiva. Por outro lado, o seu rol de exercícios faz uso de um outro tipo de força – uma força fundamentalmente estática e excêntrica, a qual permite o fortalecimento do corpo sem geração de tensões e/ou desequilíbrios musculares.
Os bailarinos procuravam (e procuram) no método Pilates uma fonte de estabilidade corporal e equilíbrio para os seus corpos excessivamente móveis, instáveis e laxos. Ao procurarem Joseph Pilates, deparavam-se com um homem muito perspicaz, capaz de estabelecer planos de exercícios adaptados às necessidades e aos problemas específicos de cada pessoa. O método tinha aqui um cunho irrefutável de individualidade. O treino era realizado em equipamentos específicos que ainda actualmente são utilizados nas formações mais avançadas. O método não era grupal; tornou-se, mais tarde, um método para ser praticado fundamentalmente em grupo, como é apanágio dos métodos de fitness.
É importante referir que o método Pilates não se centrava em exercícios precisos, servidos como uma receita reutilizável de sujeito para sujeito. Perante determinado indivíduo, Pilates alterava radicalmente os planos comuns de exercícios. E foram poucos aqueles que puderam assistir a todo este mecanismo de trabalho. Os poucos que tiveram esse privilégio acabaram mais tarde, após a morte de Joseph Pilates, por fundar as suas próprias escolas, chegando alguns a arrogar a prática do método original. Mas, tal arrogo não passa de pura insipiência, pois não existia um método original específico. Existia sim um método de trabalho próprio de Joseph Pilates, o qual é indubitavelmente inimitável.
Por outro lado, nem mesmo os seus exercícios poderão ser considerados como verdadeiramente originais... Pilates teria sofrido de grandes influências provenientes de métodos como o Yoga, as artes marciais e a meditação.
E se o método Pilates dito “básico” é construtivamente tão multifacetado, ainda mais diferenciadas se tornam as diversas escolas de Pilates que a partir da original se desenvolveram. Daqui tem de ser sublinhado um conceito fundamental: não há um método Pilates, há vários métodos Pilates. Assim como não há um só Yoga, há várias escolas de Yoga. Não há uma só osteopatia, há várias escolas de osteopatia. E também as diversas outras terapias holísticas se desdobram numa multiplicidade de diferentes escolas ou diferentes variantes. Assim sendo, se há algo em comum entre os diversos métodos Pilates, não deixam de se registar diferenças entre as diferentes escolas. O potencial praticante não deve presumir que a sua singular prática de Pilates é única. O praticante deve informar-se acerca da escola de Pilates onde o seu instrutor se formou. E no caso de o método não lhe agradar, o praticante não deve desistir da prática do método. Deve sim escolher outra via, outra tradição, outra abordagem.
Pessoalmente defendo que a escola de Pilates que devemos seguir deve partir da nossa própria tradição de trabalho e dedicação. Ou seja, defendo que não devemos seguir determinado modelo de escola, apesar de termos que escolher realizar a nossa formação numa qualquer tradição. Devemos adaptar inteligentemente o método às necessidades das pessoas com que interagimos. Podemos e devemos ser criativos na modificação dos exercícios de Pilates, mesmo que essas modificações não estejam previstas por qualquer escola (claro, desde que respeitemos determinados objectivos e regras de segurança). Devemos dar um cunho pessoal à prática de Pilates, tornando o método mais atractivo e relaxante tanto para o instrutor como para o praticante. Tenho feito e observado muitas aulas de Pilates em muitos contextos. Por vezes, em determinado ginásio, os diferentes instrutores de Pilates pareciam-se com clones, saídos de uma fotocopiadora. Todos os trejeitos, formas de falar e métodos de intervenção eram feitos com um respeito escrupuloso pelo o que a escola de origem tinha ensinado. Se para muitos este facto é apanágio de segurança ou precaução, para mim é o contrário, pois demonstra que os citados instrutores ainda não dominam completamente a fisiologia do corpo e das suas potencialidades, assim como não compreendem que a base filosófica e programática do método Pilates permite a realização de um quase interminável conjunto de exercícios e modificações destes, como se estivéssemos a falar de uma gramática generativa que permite a construção de um número aparentemente interminável de palavras e de frases a partir das letras do alfabeto.
Por outro lado, temos ainda a questão da formação básica de quem dá as aulas de Pilates. Pessoalmente, defendo que o Pilates deve estar centrado nas capacidades do aluno e não nas capacidades de um pretenso modelo; defendo também que a prática de Pilates deve possuir um cunho fundamentalmente terapêutico e preventivo, ou seja, clínico. Assim sendo, a formação básica de um instrutor de Pilates deveria ser de orientação clínica e de competência manipulativa. Com estas competências todas, não tenho dúvidas de que o fisioterapeuta constitui o profissional mais bem preparado para dar aulas de Pilates. De qualquer forma, é indiscutivelmente surpreendente o facto de o próprio Joseph Pilates possuir uma visão tão “clínica” dos seus clientes, quando ele mesmo não tinha qualquer tipo de formação específica.

Bases do método

O criador do método Pilates era uma pessoa especialmente capacitada para a compreensão das vicissitudes dos seus clientes. Os seus estúdios de treino possuíam conjuntos de equipamentos de trabalho, principalmente o reformer (uma plataforma de alongamento com cerca de 90 x 212 centímetros, que se desloca em pequenos carris quando empurrada pelos membros superiores ou inferiores), que constituíam o material básico de trabalho corporal. O método Pilates era portanto um tipo específico de exercício adaptado às necessidades específicas de cada cliente; era um método individual, de teor fortemente clínico.
Este Pilates iniciático movia-se por determinados princípios que não são muito diferentes dos actuais. Porém, se o trabalho que Joseph Pilates propunha partia de um conjunto de movimentos originais um tanto duros para o organismo, as diferentes escolas que deram continuidade ao método rapidamente adaptaram e/ou modificaram esses movimentos, tornando-os mais suaves, de modo a os adaptarem aos clientes iniciados ou com limitações.
Assim sendo, um praticante iniciado irá realizar provavelmente um nível básico do Pilates com variações simples dos exercícios de Pilates. Só progressivamente, à medida que o praticante for evoluindo, é que o mesmo se irá aproximar da prática dos movimentos originais de Joseph Pilates.
Dissemos que a prática original de Pilates era fortemente centrada no sujeito. Actualmente, o método é utilizado fundamentalmente no contexto de grupo, sendo que se pode dizer que a prática de Pilates está massificada. Este tipo de prática grupal não é necessariamente improdutiva. Mas requer uma atenção especial à adaptação do gesto desportivo, incluindo a sustentação por parte do instrutor de um grupo de sujeitos com diferentes capacidades e experiências de prática. Assim sendo, o bom instrutor de Pilates tem de ser capaz de, no seio do grupo, manter-se atento às necessidades de cada indivíduo presente na classe, e tem de saber agir perante determinada necessidade especial surgida no momento, incluindo a possibilidade de adaptar rapidamente os exercícios ou escolher diferentes exercícios para diferentes indivíduos.
O facto de muitas escolas de Pilates terem modificado os exercícios originais de Pilates, tornando-os mais acessíveis à população normal ou especial, deriva não só da necessidade de compor um constructo de progressividade no treino, como da evidência científica relativa à fisiologia do aparelho muscular abdominal profundo, zona do corpo que corresponde actualmente ao grande objecto de treino no Pilates.
Sim, este é o grande objecto de trabalho no Pilates: o treino abdominal profundo. Todo o trabalho dos exercícios de Pilates está centrado no trabalho da parede abdominal estática. Todos os exercícios têm como objecto de trabalho o treino de um conjunto de músculos muito específicos e profundos do corpo.
Antes de avançarmos mais no texto, deve ser explicado que o corpo possui dois grandes tipos de músculos: os músculos estáticos ou tónicos, envolvidos nas reacções posturais, e os músculos da dinâmica, necessários à realização do movimento. Por exemplo, os músculos profundos da coluna (musculatura paravertebral) constituem músculos tónicos, de contracção fundamentalmente estática e permanente, envolvidos no endireitamento postural. São músculos muito fortes e resistentes, difíceis de alongar. Ao contrário do que tantos médicos, fisioterapeutas e outros profissionais de saúde pensam, estes músculos em particular não devem ser fortalecidos, mas antes alongados; fortes já estes músculos são, não vamos portanto criar mais tensão onde ela já existe. Os métodos de fisioterapia baseados no trabalho das “Cadeias musculares” têm por objecto a metodologia de alongamento global desta musculatura. Entretanto, temos também músculos dinâmicos, como os abdominais superficiais, os quais estão vocacionados para a produção de movimento.
O método Pilates tem como objecto essencial de treino o trabalho de um músculo muito específico: o transverso abdominal (assim como o pavilhão pélvico). Este é um músculo muito especial, pois, apesar de ser profundo e fundamentalmente tónico/estático, não se insere dentro daquele conjunto de músculos estáticos de contracção forte e resistência inveterada. É um músculo com muita tendência para enfraquecer e, apesar de estar a ser constantemente solicitado nas tarefas que requerem equilíbrio, fatiga-se muito facilmente ao mínimo gesto físico mais exigente.
Quando estamos de pé, se temos um músculo transverso abdominal fraco ou fatigado, acabamos por certificar a nossa sustentação a partir da musculatura paravertebral. Quando realizamos exercícios abdominais mais forçados, rapidamente outros músculos abdominais, como os oblíquos e os rectos, irão substituir a actividade do transverso abdominal.
Assim sendo, aqui se apresenta a razão pela qual a actividade de Pilates deve ser realizada sem esforço excessivo, com exercícios de carácter gradativo. Queremos manter o trabalho do transverso abdominal, sem utilizar outros músculos. E o transverso abdominal funciona com contracções mínimas, de fraca intensidade; aliás, uma contracção abdominal de 30% é suficiente para manter o trabalho máximo do transverso. É por isso que dizemos às pessoas para imaginarem um cinto que as envolve apertado no terceiro furo em dez.
Uma actividade abdominal excessiva irá apenas colocar o praticante em risco de se magoar. E isto inclui os “abdominais” típicos da musculação e outros desportos. Reparemos: a actividade abdominal em Pilates é estática e, portanto, depende sobretudo do trabalho dos membros inferiores, os quais se afastam progressivamente do tronco, aumentando o desafio do centro corporal. Se este afastamento for excessivo, rapidamente o praticante irá começar a tremer, o que significa que está a entrar em fadiga. Nesta altura, não só já não estamos a trabalhar o transverso abdominal, como, provavelmente – e isto sim é grave – já estamos a utilizar a coluna vertebral como ponto móvel (por falta de estabilização), o que significa que a coluna está a ser sacrificada, a cair em lordose (arqueamento), e a musculatura paravertebral está a ser utilizada.
Nesta altura, o objectivo central do Pilates foi traído. E os potenciais benefícios da prática do método transformaram-se em riscos. A prática de Pilates não é assim isenta de efeitos adversos (aliás, devemos desconfiar de todo o método que se diga isento de efeitos secundários). Se praticado sem cuidado e com esforço excessivo, estaremos a construir posturas em lordose, extremamente tensas, muitas vezes confundidas com “boas posturas” só porque o indivíduo se encontra aparentemente mais “esticado”; na realidade, o corpo está apenas a sujeitar-se a uma tensão crescente. E para isso, então mais valia que as pessoas se entregassem à irracionalidade da musculação e outras formas de treino forçado.
O método Pilates poderá constituir o melhor método de trabalho postural, mas apenas se realizado com cuidado e racionalidade (daí que, a meu ver, todo o trabalho de Pilates deveria ser feito com a coluna lombar completamente assente no colchão, e não em posição neutra). A máxima “no pain, no gain” é completamente descabida na prática deste método.
Para além disso, visto que queremos um corpo mais livre de tensão e uma postura mais saudável, a prática de Pilates não pode dispensar o alongamento. Este deve ser o mais global possível, deve incluir o estiramento da cadeia posterior (para evitar que a mesma se encha de tensão), e – fundamental – deve estar presente essencialmente no início do treino, e não no fim, como tem sido habitual. O alongamento deve estar presente antes do treino de força, para libertar o corpo de tensão e preparar o mesmo para o trabalho de estabilidade, diminuindo assim o risco de criar pontos de retracção espinhal. E é no início que o alongamento produz os máximos resultados e não no fim quando o corpo já está quente e artificialmente propenso ao estiramento (o alongamento final serve somente para evitar a fixação do corpo em posições de tensão).
Para ser totalmente efectivo, o trabalho de Pilates deve incluir os exercícios básicos de força do centro abdominal, associados aos alongamentos próprios da Reeducação Postural Global, ou mais precisamente, do Stretching Global Activo. Assim sendo, proponho um Pilates diferente do habitual, mais ecléctico, ou então, uma prática denominada Pilates-Stretching, ou melhor, “Stretch-Pilates”, a prática ideal de reeducação postural em grupo, que venho ensinando há alguns tempos.

Princípios e metodologias de treino

Ao assentar fundamentalmente no treino do transverso abdominal, o método Pilates apresenta-se sobretudo como uma fonte de estabilidade do centro do corpo. Qualquer fisioterapeuta de neurologia sabe que é impossível obter a estabilidade dos membros e a mobilidade das extremidades sem que o tronco possua estabilidade. Quanto mais estável e seguro for o tronco, maior é a eficácia de todo o trabalho do corpo. Aliás, se o tronco for suficientemente estável, o trabalho dos membros será relativamente fácil de ser gerido.
Assim sendo, se o trabalho de Pilates parece gerir-se por um músculo ou conjunto de músculos muito precisos, no fundo, todo o corpo está globalmente envolvido no treino de Pilates. E de uma forma extremamente inteligente, abrasiva e mentalista. A força é, portanto, obtida de dentro para fora. É no fundo um método assente na criação de uma base de segurança central que vai fluindo progressivamente em direcção às extremidades.
O treino de força muscular no método Pilates é realizado fundamentalmente de forma estática e excêntrica, o que representa uma franca evolução relativamente aos métodos de fortalecimento mediante a utilização de elásticos e pesos. O treino estático e excêntrico permite o fortalecimento do corpo sem colocar em risco a sua flexibilidade e, portanto, a sua postura. Posso dizer que muitos treinadores e fisioterapeutas têm muito a aprender com o Pilates, principalmente aqueles que pensam que a recuperação de lesões depende da transformação do indivíduo numa espécie de culturista.
O trabalho em Pilates é, como tal, extremamente indicado para os sofredores de osteoporose, fraqueza muscular generalizada, fibromialgia e doenças reumáticas em geral.
Da filosofia de estabilização central, partem quase todos os princípios do método Pilates. Passo a resumir os principais princípios do método, segundo a metodologia do Pilates Institute, escola onde me especializei.
Primeiro princípio: Concentração. É impossível praticar Pilates sem que as pessoas permaneçam em total concentração nos movimentos. É necessária portanto uma certa capacidade de abstracção relativamente aos problemas da vida e às nossas neuroses particulares, o que, para alguns, representa um verdadeiro desafio. O treino de consciência corporal é extremamente importante; só mais tarde os movimentos e as posturas serão, de certo modo, automatizados. O método Pilates é dito holístico, integrando corpo e mente, mas não vamos cair em ilusões (evitando o pretenso arrogo do holismo que certas medicinas não convencionais exploram até à exaustão); pessoas depressivas e/ou obsessivas terão a tarefa complicada, mas podem e devem lutar para se integrarem no espírito Pilates. De qualquer forma, o método Pilates facilita muitíssimo o estado geral de tranquilidade e relaxamento corporal, principalmente se forem integradas técnicas de relaxamento e de alongamento global.
Segundo princípio: Respiração. Já nos métodos fisioterapêuticos de reeducação postural a respiração controlada é condição fundamental de melhoria da postura, pois todas as cadeias musculares interagem com a cadeia respiratória. Uma expiração prolongada e bem controlada pode ser suficiente para trabalhar bem a musculatura abdominal profunda; por outro lado, ajuda no alongamento do diafragma, músculo lordosante e criador de tensões. Portanto, o controlo respiratório é fundamental no método Pilates, sendo que a inspiração é feita para as costas e a expiração coincide com o trabalho máximo do transverso abdominal.
Terceiro princípio: Centralização. É o princípio óbvio do método, que tem vindo a ser explicado ao longo do texto. O trabalho de estabilidade abdominal consiste no trabalho de controlo do “centro”.
Quarto princípio: Controlo. Está relacionado com o princípio anterior. O objectivo do método consiste no controlo do centro abdominal, conseguido através da estabilização da coluna, durante a realização de movimentos lentos e precisos. É este tipo de controlo que falta à maioria dos sofredores da coluna vertebral, muito especialmente aos indivíduos com hérnias discais. Não devemos esquecer que o método Pilates tem sido referido muitas vezes como o método da Contrologia.
Quinto princípio: Precisão. O método Pilates depende da realização de movimentos precisos, realizados num correcto alinhamento.
Sexto princípio: Movimentos fluídos. É a secção dinâmica do Pilates. Os movimentos são fluídos como que movidos por uma dança de beleza indelével, sempre à velocidade dos movimentos respiratórios.
Sétimo princípio: Isolamento. O trabalho dos grupos musculares é feito de forma específica e isolada.
Oitavo princípio: Rotina. Não significa fazer o mais do mesmo. Significa perseverança e assiduidade, pois os resultados vão-se acentuando com o tempo.
Assim sendo, o método Pilates permite o trabalho máximo do controlo corporal e postural, o trabalho do equilíbrio e consciencialização corporal, o trabalho de estabilização do centro do corpo, a construção de um corpo denso e seguro, uma base de segurança para os dias imprevisíveis das nossas vidas cada vez mais caóticas.
Seja no colchão, nas bolas, nos rolos, no isotoner, no cadillac, ou em qualquer outro material, o Pilates pode e deve ser trabalhado de forma lúdica e com gosto.
É incrível como ninguém teve ainda a ousadia de adaptar o método Pilates à prática infantil. O método tem todas as virtudes de uma prática descingida e lúdica, e possui propriedades psicomotoras inquestionáveis. Poderia constituir parte de uma excelsa psicomotricidade e reprogramação postural, com todas as vantagens que a mesma teria para a melhoria da postura, dos problemas de coordenação, do síndroma da deficiência postural e das dificuldades de aprendizagem. Infelizmente, não está ainda em prática a realização de qualquer tipo de actividade adaptada às necessidades posturais e psicomotoras de tantas crianças, seja em que ginásio ou escola for.
O método Pilates não foi feito para emagrecer ou pelos seus efeitos no sistema cardiovascular. As pessoas que o procuram sabem que ele não interessa a esse objecto. As pessoas que o procuram querem sim possuir um controlo significativo sobre os seus corpos, as suas vidas e os seus problemas. O método não constitui uma panaceia! Mas não está longe de tal categoria.
Como já disse, o método deveria chamar-se sobretudo Stretch-Pilates, nome que dou oportunamente aos mecanismos de reeducação postural em grupo. O meu trabalho particular, e o que sugiro a muitos instrutores, consiste na sequência alongamento – mobilidade – força – alongamento. O alongamento liberta, facilitando a liberdade de movimento. Com o alongamento e a mobilidade, libertámos o corpo de tensões e preparámos o corpo para o trabalho de força e controlo. No fim, voltamos a libertar o corpo com o alongamento, para que este não fique preso em posições de força. Mais investigação é necessária para se perceber que tipo de metodologia deve ser adoptada no treino de Pilates.
Independentemente do nome a se dar ao método, o Pilates tem motivos de sobra para se manter como actividade da moda. Nem que seja pela incomensurável beleza dos seus gestos, realizados sempre com a graciosidade de uma flor que se abre para o mundo.

Artigo publicado em duas partes na Revista "Saúde Actual", desde o número Nov./Dez. 2006