quinta-feira, agosto 16, 2007

A toca do tigre

É o nome do quarto livro de Thérèse Bertherat, o qual acabo agora de ler. É o meu preferido, a seguir ao primeiro “Le corps a ses raisons”. É o mais pragmático de todos, incluindo diversos dados sobre o “tigre” que a todos nos controla (o “tigre” corresponde, obviamente, à dominante “cadeia muscular posterior”). Fala abertamente dos perigos da prática física tal como ela é realizada nos ginásios, insistindo num ponto preciso: todos os esforços, mesmo os da musculatura anterior, contribuem para fortalecer o nosso “tigre”; aliás, Bertherat aponta constantemente para a ambiguidade existente na palavra “forma”, sendo que a mesma palavra possui sentidos dissemelhantes para o terapeuta (mézièrista) e para o desportista. Bertherat descreve relativamente bem, apesar de forma bastante simplista, a constituição do “tigre”, diferenciando-o de outros músculos (ou cadeias) menos poderosos. Refere também os “cúmplices” do tigre, nomeadamente os rotadores internos dos membros e o diafragma. Apresenta, igualmente, imagens de alongamentos, compensações, testes e métodos de estiramento correcto.
Este livro de Bertherat, o mais ilustrado de todos, constitui uma referência obrigatória de todos os terapeutas que se interessam pela “postura”. Aliás, constitui ou devia constituir uma referência obrigatória para todos os que estão, de alguma maneira, envolvidos no tratamento ou treino do corpo. Ela é bem explícita a explicar por que é que os diferentes desportos contribuem mais para a “deformação do corpo” do que para a sua saúde... Ela está bem determinada em mostrar a realidade real das coisas, tão pouco conhecidas desse mundo incrédulo e impiedoso que é o do “fitness”.
Livros como este, esquecidos no tempo e num qualquer lugar soturno, compõem a “verdade” das coisas, tal como já ninguém reconhece. São livros revolucionários, escritos por pessoas corajosas, mas infelizmente são desprezados em prol de uma forma de ver a actividade física claramente “militar” (dominante no mundo contemporâneo). Quem reconhecerá que a “verdade dos factos” não está nesse mundo do “fitness”, onde os fisioterapeutas têm papel quase ausente, mas sim nos imbricados caminhos da “Reeducação Postural”?...

2 comentários:

Luciana disse...

Muito legal seu texto. E agradeço por divulgar este trabalho maravilhoso da Therese.

lin de varga disse...

A mim o livro me parece notável.´li aqueles outros dela e agora este me veio às mãos.Já o tinha lido ha pouco tempo e agora,como sempre me acontece, pego-o na estante quando "preciso",por sugestão do Universo.Tudo que sei é por intuição e pelo que sinto no corpo, mas acho que tem uma procedência formidável.O capítulo "As origens",logo no início, é beleza pura.Para mim que gosto de escrever sobre as questões de nossa verdadeira natureza e a ilusão da mente humana(www.vocejafoianalisado.com), tal capítulo é libertador.O que você pode supor, senão liberdade, quando sabe que o ser humano nada mais é do que um animal que,um dia, resolveu levantar a cabeça, entortando a coluna e a tudo "fazendo" nessa posição?Se ele se soubesse mais animal, talvez a caraapaça ficasse mais leve,mais maleável, e não houvesse tanta desavença por aí.Só para dizer o mínimo.