Como já aparece expresso no meu livro “O anti-fitness ou o manifesto anti-desportivo. Introdução ao conceito de Reeducação Postural”, nem sempre o que as “maiorias” expressam corresponde à Verdade. Assumindo que existe uma só Realidade dominante, e que uns estão mais próximos dela do que outros (Karl Popper), não podemos deixar de reparar no conjunto de ilusões que revestem o mundo em que vivemos. De facto, vivemos todos num mundo construído enquanto “Superestrutura”, na qual acabamos por mergulhar à força de um poderoso esforço de disciplinação e/ou educação obtida no início das nossas vidas. O mergulho cabal na idiossincrasia da Cultura em que vivemos tende a ser de tal forma estrénuo e acerbo que poucos de nós conseguem “vir à superfície”, tentando ver as coisas como elas realmente são.
O mundo é um jogo. É um complexo reduto de ilusões. E, na nossa vida de terapeutas e professores, deparamo-nos diariamente com a força tonitruante da Farsa da vida. Por vários motivos que Arno Grau denominaria de “Traição do Eu”, e que o mesmo autor tão bem escalpeliza na obra com o mesmo nome, existe uma forte tendência para que as pessoas sucumbam ao poder da ideia geral e utilitarista. Assim sendo, no contexto particular do Fitness, é comum alegar que o alongamento muscular feito a frio é perigoso e gesto a evitar. E no contexto particular das ciências médicas, é comum propugnar que a hipercifose torácica carece de um reforço muscular posterior. São, de facto, ideias intuitivas, que cedem facilmente ao facilitismo da interpretação mentalista da globalidade dos profissionais. Mas, na realidade, as coisas não são assim tão simples, e, pela minha experiência, raramente encontro um correlato entre as Maiorias e a Verdade. Precisamente porque todos tendemos ao fácil desgaste mental, e portanto à necessária conservação das forças do raciocínio, existe uma grande tendência para concordarmos com o que nos ensinaram, sem realizar qualquer tipo de crítico questionamento. E assim, o sentido do mundo esboça-se na orientação tendenciosa do que as Maiorias concebem. Este é o mundo hiper-racional e destrutivo em que vivemos. Ou, dizendo de uma forma mais simples, este é o mundo em que os milhões de CDs vendidos pela Céline Dion se atrevem a conceber tal como música, muito mais do que as liturgias de Bach. É também o mundo em que se um rapaz saudável for acusado de ser esquizofrénico por um psiquiatra de renome esse mesmo rapaz passa realmente a ser “esquizofrénico”. Ou, como é visível no fantástico novo filme de Clint Eastwood “A troca”, a realidade passa a ser o que as Instituições referem que seja. Se os factos que aparecem no filme viriam a dar origem a um movimento histórico denominado de “Anti-psiquiatria”, a alienação global referente ao mundo do Desporto é denominada por mim, de maneira limítrofe, de “Anti-fitness”.
O que pretendo dizer é, no fundo, que muito me angustia o facto de não existir uma correlação entre a Verdade e o número de pessoas que a conhecem. Ainda hoje tratei um adolescente com uma escoliose, o qual tem ouvido de médicos, fisioterapeutas e professores de Educação Física, que “as suas costas possuem pouca massa muscular e, portanto, necessitam de ser fortalecidas”. Não sei se hei-de considerar tal embrutecimento opinativo mera negligência. Mas sei que esta ideia geral de que as deformidades e/ou raquialgias estão associadas à falta de força muscular, apesar de partilhada por mais de 99% dos profissionais, não é verdadeira, sendo aliás anti-científica. E pena tenho eu de que a “mensagem” que venho propugnando há anos não tenha passado convenientemente. Mas, no fundo, é como tentar convencer os tais fãs da Céline ou da Shakira a considerarem como Música digna de ser ouvida o adágio de Albinoni ou o Requiem de Mozart.
Claro que não podemos esquecer toda aquela conversa de existirem “várias verdades”. Relativistas e pós-modernistas têm sido veementes a demonstrarem que há tantas verdades quantos os contextos pessoais e socioculturais. Eu diria que estas ideias são tão aceitáveis como a ideia de Hume de que não existe mundo exterior e que toda a realidade é produto da nossa mente. Certas Filosofias são um atentado à Filosofia propriamente dita! Devemos, portanto, assumir um relativismo relativo e nunca absoluto. Assim como devemos assumir que há pessoas mais próximas da Verdade do que outras, independentemente do peso numérico das opiniões.
Assim sendo, um dia destes gostaria que se atrevessem a pensar na validade da maioria dos estudos científicos realizados, ou na realidade de ideias feitas “mitos”. E mitos há muitos. Tantos quantas as “verdades” dos profissionais. E é realmente difícil provar, por meio dos resultados obtidos junto dos doentes, a veracidade de determinado método ou paradigma. Por exemplo, um doente melhora na sua raquialgia com exercícios de alongamento, mas também de força ou de mobilidade. No fundo praticamente quase tudo dá resultado. E um dos motivos pelos quais isso acontece é que a maioria dos exercícios são um complexo de várias qualidades físicas. Ou seja, um exercício dito “de mobilidade” é quase sempre também um exercício que exige força (e vice-versa); um alongamento é quase sempre um trabalho de força, se feito activamente. Portanto, posso dizer que o “princípio da especificidade”, tão propugnado pelos académicos do Desporto, é absolutamente absurdo. Pois na prática qualquer exercício, por mais específico que seja, envolve sempre muitos músculos, e várias qualidades físicas. Isto só por si dificulta a obtenção de estudos científicos verdadeiramente válidos e correctamente operacionalizados, pois o isolamento das variáveis é, na prática, impossível de se obter.
E como a conversa já vai longa, acabo dizendo que a Realidade é realmente complexa. E faz-me muita pena que as pessoas sejam tão banais e tão tipicamente acríticas em relação a tudo o que as envolve. Pois tudo é criticável: ciência, modelos de intervenção, métodos de trabalho. Mas são poucos os que se dão ao trabalho de efectuar o esforço necessário à crítica.
O mundo é um jogo. É um complexo reduto de ilusões. E, na nossa vida de terapeutas e professores, deparamo-nos diariamente com a força tonitruante da Farsa da vida. Por vários motivos que Arno Grau denominaria de “Traição do Eu”, e que o mesmo autor tão bem escalpeliza na obra com o mesmo nome, existe uma forte tendência para que as pessoas sucumbam ao poder da ideia geral e utilitarista. Assim sendo, no contexto particular do Fitness, é comum alegar que o alongamento muscular feito a frio é perigoso e gesto a evitar. E no contexto particular das ciências médicas, é comum propugnar que a hipercifose torácica carece de um reforço muscular posterior. São, de facto, ideias intuitivas, que cedem facilmente ao facilitismo da interpretação mentalista da globalidade dos profissionais. Mas, na realidade, as coisas não são assim tão simples, e, pela minha experiência, raramente encontro um correlato entre as Maiorias e a Verdade. Precisamente porque todos tendemos ao fácil desgaste mental, e portanto à necessária conservação das forças do raciocínio, existe uma grande tendência para concordarmos com o que nos ensinaram, sem realizar qualquer tipo de crítico questionamento. E assim, o sentido do mundo esboça-se na orientação tendenciosa do que as Maiorias concebem. Este é o mundo hiper-racional e destrutivo em que vivemos. Ou, dizendo de uma forma mais simples, este é o mundo em que os milhões de CDs vendidos pela Céline Dion se atrevem a conceber tal como música, muito mais do que as liturgias de Bach. É também o mundo em que se um rapaz saudável for acusado de ser esquizofrénico por um psiquiatra de renome esse mesmo rapaz passa realmente a ser “esquizofrénico”. Ou, como é visível no fantástico novo filme de Clint Eastwood “A troca”, a realidade passa a ser o que as Instituições referem que seja. Se os factos que aparecem no filme viriam a dar origem a um movimento histórico denominado de “Anti-psiquiatria”, a alienação global referente ao mundo do Desporto é denominada por mim, de maneira limítrofe, de “Anti-fitness”.
O que pretendo dizer é, no fundo, que muito me angustia o facto de não existir uma correlação entre a Verdade e o número de pessoas que a conhecem. Ainda hoje tratei um adolescente com uma escoliose, o qual tem ouvido de médicos, fisioterapeutas e professores de Educação Física, que “as suas costas possuem pouca massa muscular e, portanto, necessitam de ser fortalecidas”. Não sei se hei-de considerar tal embrutecimento opinativo mera negligência. Mas sei que esta ideia geral de que as deformidades e/ou raquialgias estão associadas à falta de força muscular, apesar de partilhada por mais de 99% dos profissionais, não é verdadeira, sendo aliás anti-científica. E pena tenho eu de que a “mensagem” que venho propugnando há anos não tenha passado convenientemente. Mas, no fundo, é como tentar convencer os tais fãs da Céline ou da Shakira a considerarem como Música digna de ser ouvida o adágio de Albinoni ou o Requiem de Mozart.
Claro que não podemos esquecer toda aquela conversa de existirem “várias verdades”. Relativistas e pós-modernistas têm sido veementes a demonstrarem que há tantas verdades quantos os contextos pessoais e socioculturais. Eu diria que estas ideias são tão aceitáveis como a ideia de Hume de que não existe mundo exterior e que toda a realidade é produto da nossa mente. Certas Filosofias são um atentado à Filosofia propriamente dita! Devemos, portanto, assumir um relativismo relativo e nunca absoluto. Assim como devemos assumir que há pessoas mais próximas da Verdade do que outras, independentemente do peso numérico das opiniões.
Assim sendo, um dia destes gostaria que se atrevessem a pensar na validade da maioria dos estudos científicos realizados, ou na realidade de ideias feitas “mitos”. E mitos há muitos. Tantos quantas as “verdades” dos profissionais. E é realmente difícil provar, por meio dos resultados obtidos junto dos doentes, a veracidade de determinado método ou paradigma. Por exemplo, um doente melhora na sua raquialgia com exercícios de alongamento, mas também de força ou de mobilidade. No fundo praticamente quase tudo dá resultado. E um dos motivos pelos quais isso acontece é que a maioria dos exercícios são um complexo de várias qualidades físicas. Ou seja, um exercício dito “de mobilidade” é quase sempre também um exercício que exige força (e vice-versa); um alongamento é quase sempre um trabalho de força, se feito activamente. Portanto, posso dizer que o “princípio da especificidade”, tão propugnado pelos académicos do Desporto, é absolutamente absurdo. Pois na prática qualquer exercício, por mais específico que seja, envolve sempre muitos músculos, e várias qualidades físicas. Isto só por si dificulta a obtenção de estudos científicos verdadeiramente válidos e correctamente operacionalizados, pois o isolamento das variáveis é, na prática, impossível de se obter.
E como a conversa já vai longa, acabo dizendo que a Realidade é realmente complexa. E faz-me muita pena que as pessoas sejam tão banais e tão tipicamente acríticas em relação a tudo o que as envolve. Pois tudo é criticável: ciência, modelos de intervenção, métodos de trabalho. Mas são poucos os que se dão ao trabalho de efectuar o esforço necessário à crítica.
8 comentários:
"Portanto, posso dizer que o “princípio da especificidade”, tão propugnado pelos académicos do Desporto, é absolutamente absurdo"
O trabalho que desenvolve com os seus pacientes, portadores de diferentes patologias, não é específico? Admnistra iguais terapias/tratamento a diferentes situações clínicas?
Caro anónimo,
O "princípio da especificidade" a que me referia diz respeito ao princípio desportivo da "especificidade", ou seja, aquele, segundo o qual, é possível treinar determinado grupo muscular ou qualidade desportiva, sem envolver as outras. É esse que eu acho não existir verdadeiramente, pois o corpo é um só, e é difícil isolar seja o que for, seja em termos localizacionais/anatómicos, seja em termos de qualidade física como a flexibilidade ou a força.
O "princípio da especificidade" a que se refere é diferente, pelo que o senhor realizou uma confusão do tipo semântico. Logicamente que, apesar de existir uma lógica nomotética subjacente ao tracto dos doentes, o princípio dito "ideográfico" advoga que "cada doente é um doente" e que devemos tratar diferentes doentes segundo a lógica inerente a cada um. Mas, ainda assim, um pouco à maneira da filosofia nominalista, em última análise, existe uma lógica comum subjacente a certa forma de ver a Fisioterapia. E a Vida é isso mesmo: o equilíbrio/desequilíbrio constante entre a lógica da parcimónia e a lógica da especificidade (que os pós-modernistas tão bem propugnam).
"princípio desportivo da "especificidade", ou seja, aquele, segundo o qual, é possível treinar determinado grupo muscular ou qualidade desportiva, sem envolver as outra"
Pisa terrenos que não domina e refugia-se num misto de Fisoterapeuta/pseudo-Filósofo. Acredito e parabenizo-o pelo seu conhecimento enquanto fisioterapeuta, mas evite entrar em campos que desconhece. Como leitor hávido que o é, leia alguns dos percursores (ainda actuais) da metodologia do treino como Bompa T., Verkoshansky, Matveív, Platovov, Kraemer. A confusão conceptual que faz é grave. É grave definir o princípio da especificidade como o definiu. Desafio-o a citar a fonte de tal definição. O trabalho/treino desenvolvido por um Maratonista é igual ao desenvolvido por um praticante de basquetebol? Com esta questão talvez perceberá melhor o princío da especificidade. Não tem muitos comentários e discussão no seu blog pela sua visão unidireconal. Egocêntricamente, entre-linhas auto intutula-se revolucionário, mas o termo adequado é fanático.
O pior cego é aquele que não quer ver
Mais uma vez Sr. anónimo,
A definição que apresenta sobre "Especificidade" é a sua ou de algum académico. Pouco me importa aquilo que os académicos têm a dizer. Já li muitos e as limitações dos mesmos são inúmeras, um pouco à semelhança da limitação da própria ciência.
Independentemente do tipo de actividade desportiva realizada, o que interessa perceber é que qualquer desporto que utilize o corpo numa maior ou menor totalidade força a cadeia muscular posterior a trabalhar. Isso só por si é indicativo de que a actividade desportiva é perniciosa ao processo de "intervenção postural". E é isso que me preocupa, pelo que não tem qualquer interesse ler aquilo que não me é relevante. Quanto a ser um "pseudo-filósofo", lamento que a sua ignorância filosófica o leve a tal acusação acéfala. E já agora veja se tem a coragem de assinar os seus comentários!
Cada linha que escreve esplana o seu fanatismo. É pena, porque parece-me ser um bom profissional. A definição que apresento é a de todos (exceptuando sua pessoa). Até existem alguns que a apelidam de "supraespecificidade" - leia-se "Jose Mourinho: porquê tantas vitórias?" Claro que a sua postura extremista não o fará sequer ponderar sobre as questões que os seus leitores lhe expõem. Entristece me porque tinha de facto muito a aprender (da mesma forma que também aprendemos consigo)
Despeço,
Filipe Alexandre
Caro Felipe Alexandre,
As minhas linhas não "esplanam" (já agora, mal escrito) o meu fanatismo. Demonstram, isso sim, a lealdade a um paradigma, coisa que os proponentes do academismo nunca conseguirão perceber. O nível do Conceito, da Teoria ou do Paradigma consubstancia-se por algo que a maioria das pessoas não entende, nem nunca entenderá. O facto de se basear num "José Mourinho", pessoa de certa medida execrável e que para nada contribui de Paz ou de Bom para o mundo, demonstra que se mexe pela linha das "maiorias". Essa linha está tendencialmente errada. Afinal de contas, de que estamos a falar? Conseguiu demonstrar-me que o "princípio da especificidade" contraria a noção de Globalidade que proponho? Nem por isso. Isto porque estamos, de facto, a falar de coisas diferentes... paradigmas diferentes. A "especificidade" de que fala nada tem a ver com aquilo que propugno. Não foi você mesmo que utilizou esse "princípio" como exemplo de "diferentes terapias" adptadas a "diferentes situações clínicas". Eu referia-me a um diferente tipo de especificidade, o que, no fundo, tem a ver com a possibilidade de globalizarmos e flexibilizarmos conceitos, acto criativo impossível em muitas cabeças.
"a possibilidade de globalizarmos e flexibilizarmos conceitos, acto criativo impossível em muitas cabeças"
Por tudo o que ja publicou no seu blog, por todos os pontos vista extremistas que expõe (veja-se o título da sua obra), pela autoadjectivação de "obsessivo", remata com globalização e flexibilização de conceitos...
Veja-se:
1º"O "princípio da especificidade" a que me referia diz respeito ao princípio desportivo da "especificidade", ou seja, aquele, segundo o qual, é possível treinar determinado grupo muscular ou qualidade desportiva, sem envolver as outras"
R: este não é o princípio desportivo da especificidade
2º"A "especificidade" de que fala nada tem a ver com aquilo que propugno"
R: o senhor é que, erradamente, juntou a especificidade desportiva à baila.
3º "possibilidade de globalizarmos e flexibilizarmos conceitos" Declara-se crente de Popper ("Para mim, tal como para Popper, há uma e só uma verdade, e, apesar de nem sempre advogar as verdades mais "falsificáveis", acredito que estou perto do Absoluto") flexiliza e globaliza conceitos?
republico um comentário retirado do seu blog:
"what a mess"
Perdeu um leitor atento ao trabalho
Filipe Alexandre
Caro Filipe,
Quando se tem uma vontade indómita de "não acreditar" ou de "criticar por criticar", de desfazer cada comentário, é-se obsessivo. Parece que o obsessivo aqui é você.
Você baralha conceitos. O que tem, por exemplo a Realidade única de Popper a ver com a possibilidade de aceitarmos igualmente algum relativismo?
Realmente leitores como você, que têm a "vista curta", não me interessam para nada.
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