O texto que se apresenta seguidamente corresponde a uma tradução realizada a partir do vídeo com o título acima indicado, presente no site http://www.reconstruction-posturale.com/. É sobretudo a base teorética do método mais científico e integral da reeducação postural: a Reconstrução Postural. É preciso atender à possibilidade de existência de alguns “espaços” de tradução mais livre, assim como ao acrescento de notas entre [ ].
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A Reconstrução Postural constitui um método de fisioterapia único que emergiu em 1992. Foi desenvolvido a partir do trabalho de Françoise Mézières, a famosa fisioterapeuta francesa que morreu em 1991. Este método consiste num sistema de técnicas desenhadas para normalizar a tonicidade muscular inerente às mudanças musculares. As modificações musculares e de alinhamento biomecânico são tratadas por um método baseado na evidência...
Similarmente a qualquer outra forma de reabilitação, o objectivo da Reconstrução Postural consiste no alívio da dor do sistema músculo-esquelético e na restauração da função. Desde 1992, a Reconstrução Postural tem tido um longo percurso de trabalho teorético e clínico/prático. O famoso método Mézières, um método fundamentalmente empírico e marginal, tornou-se num trabalho de utilização corrente. O trabalho de Mézières, os seus fundamentos da teoria biomecânica e a sua personalidade carismática contribuíram para atrair milhares de fisioterapeutas de todo o mundo interessados em aprender sobre o método controverso e ousado a partir da própria criadora (Françoise Mézières).
Dez anos depois da morte de Mézières, um observador/estudioso do método da Reconstrução Postural só pode encontrar nele nada mais do que alguns traços do método Mézières. A Reconstrução Postural é actualmente um método autónomo, com técnicas e tácticas próprias, para além de possuir uma independente identidade conceptual.
A Reconstrução Postural: O que é?
Há vários séculos que os “terapeutas” têm tentado entender a origem e o mecanismo das deformações do corpo humano e do seu sofrimento. Os métodos de tratamento costumam ser escolhidos a partir da orientação do terapeuta e da forma como este avalia o alinhamento biomecânico do doente. Assim como algumas pessoas olham para “as montanhas e picos” que naturalmente atraem o olhar, é também verdade que o terapeuta olha de maneira análoga para o conjunto do corpo humano. Ou seja, os terapeutas [e outros profissionais de saúde] têm uma maior tendência para perspectivar os escarpins e as cifoses do corpo antes de olharem para as lordoses. Consequentemente, qualquer tentativa para imaginar o mecanismo responsável pela deformação mecânica presente no corpo do paciente leva a que o observador tenha em consideração o factor gravítico e a inabilidade dos músculos de se contraírem para contrariar a força da gravidade. De facto, todas as técnicas e terapias que se baseiam nesta interpretação das deformações [ou seja, as deformidades com causa em músculos fracos que não conseguem contrariar a força gravítica] tendem a valorizar o papel do “fortalecimento” de certos músculos, como o ‘erector da espinha’. Estas técnicas, todas elas promovem o fortalecimento muscular enquanto estratégia de tratamento da dor e disfunção.
A partir do momento em que os terapeutas passam a concentrar-se no papel das ‘lordoses’ ou concavidades do corpo, o aspecto dominante do corpo que acaba por sobressair consiste num encurtamento muscular que provoca o achatamento destas depressões. O conjunto das lordoses cervical e lombar estão na origem de uma outra zona – dita de transição – que possui o aspecto de uma cifose (dorsal).
Existem inúmeras técnicas de stretching muscular que estão já de acordo com esta forma de ver as deformidades mecânicas. Ainda que muitas dessas técnicas sejam realizadas de uma forma “global”, elas não permitem a correcção manual e individual do terapeuta [portanto, não permitem a correcção das compensações] e o trabalho num sistema neuro-músculo-esquelético visto como um todo. O trabalho de reeducação postural não pode ser feito como se o corpo fosse meramente um elástico gigante.
É preciso entender que os músculos que estão envolvidos nas deformidades posturais possuem uma organização em “cadeias musculares”, o que quer dizer que estão unidos entre si como se fossem “trilhos”. Há quatro cadeias musculares no corpo humano: a longa cadeia posterior, a cadeia anterior da coluna cervical, a cadeia anterior da zona lombar e a cadeia braquial.
Desde há uns tempos para cá que diversos estudos electromiográficos têm demonstrado que o equilíbrio é mantido por contracções musculares constantes e mínimas. Consequentemente, pode perceber-se que as deformidades biomecânicas não são provocadas por fraqueza muscular, assim como as técnicas de reeducação postural não podem partir do fortalecimento muscular.
Nos seres humanos, a posição de pé é controlada pelo tónus muscular, resultando de um controle central inconsciente e involuntário. A Reconstrução Postural baseia-se no pressuposto de que as deformidades biomecânicas e posturais têm origem em desequilíbrios do tónus muscular. Assim sendo, uma terapia, para ser bem sucedida na correcção das deformidades posturais, tem de se basear em técnicas de normalização do tónus muscular postural.
Outros métodos que seguem um modelo semelhante, diferentes da Reconstrução Postural, como o PNF, visam a correcção de desequilíbrios tónicos posturais. Nestes métodos, são utilizadas técnicas de evocação e/ou facilitação da função de modo a induzir respostas distais evocadas. Apesar de a “resposta evocada” ser produzida por uma “indução” específica, ela pode ser generalizada a outros locais...
Em termos de tratamento, as respostas evocadas mais interessantes são aquelas que estão relacionadas com o exacerbar de uma hipertonicidade preexistente, respostas que podem surgir num ponto muito distante do estímulo inicial. Por exemplo, num determinado movimento dos tornozelos do doente [na postura de alongamento da cadeia posterior com o doente deitado em decúbito dorsal e com os membros inferiores elevados, contacto manual do terapeuta nos pés do doente], o terapeuta pode estar a influenciar a posição da cabeça [através do jogo de compensações próprias do corpo], procurando “forçar” a reacção compensatória, agravando-a de propósito, até que surja um novo estímulo capaz de produzir uma resposta correctiva final. Nas imagens [do vídeo], pode ser verificada uma primeira reacção de rotação e flexão lateral da cabeça [como resposta a um estímulo dado no tornozelo]. Este primeiro “estádio” consiste na indução de uma resposta evocada que resulta no exacerbar da deformidade. O segundo estádio consiste na provocação de um estado de exaustão da resposta de hipertonicidade [a tal resposta na forma do acréscimo da deformidade], sendo que se pode observar o regresso da cabeça a uma posição neutra; a manutenção desta posição de neutralidade por vários minutos ira esgotar a reacção patológica de hipertonicidade, assegurando a estabilidade da nova reacção correctora. À semelhança do que acontece com a “terminologia biomecânica”, a distância entre o ponto onde o terapeuta induz a resposta [que podíamos muito bem de apelidar de “ponto-chave de controle”... por motivos lógicos de quem conhece minimamente o método Bobath] e o ponto onde a resposta surge corresponde ao “braço da potência”. Quanto maior o braço de alavanca referido, ou seja, quanto maior a distância entre o ponto de evocação da resposta e o ponto onde esta surge, mais efectivo é o processo de congestão da hipertonicidade e, portanto, de produção de uma resposta correctiva.
O tratamento pela Reconstrução Postural
Depois de ter sido obtido o historial médico do doente, o tratamento pela Reconstrução Postural inicia-se com um sistema completo de avaliação. A avaliação inclui a análise da dinâmica dos desequilíbrios tónicos musculares existentes, assim como se estende à estratificação de estratégias de tratamento com o doente em causa. Por razões que estão relacionadas com a “fiabilidade da avaliação”, esta é realizada sempre com o doente na mesma posição, ou seja, com o doente completamente encostado a uma parede; de resto, toda a avaliação tende a ser feita em posições “naturais”. Nenhumas instruções são dadas, nenhumas correcções são realizadas. O reconstrutor avalia meticulosamente todas as deformações, sendo que o doente é avaliado em quatro posições: anterior, posterior, direita e esquerda. E depois, numa posição especificamente determinada, o doente é avaliado com a posição de flexão à frente com as mãos a tocarem no chão. E, finalmente, o doente é avaliado na posição de decúbito dorsal.
Posteriormente, é realizada a avaliação dinâmica das compensações. Para isso, o reconstrutor faz uso de um conjunto de movimentos fisiológicos estereotipados na mais “fechada” das amplitudes. Estes movimentos exacerbem as deformidades existentes, permitindo a avaliação dos problemas da Estática. Por exemplo, durante a elevação da perna esticada [semelhante ao Straight Leg Raising], a cadeia posterior vai estirar até ao nível da pélvis, comportando-se como uma polia. Isto vai aumentar a tensão e respectiva deformidade na parte superior da cadeia posterior [cervical], permitindo confirmar a existência de um problema de retraimento muscular.
Continuando com a avaliação dinâmica, o reconstrutor conduz o doente através de movimentos fisiológicos específicos, avaliando a intensidade das respostas e a simetria corporal. Estas respostas irão variar de indivíduo para indivíduo. Um exemplo: a flexão lateral esquerda da cervical produz, no doente, a elevação do hemi-tórax direito. Já a flexão lateral direita da cervical produz, para além da elevação do hemi-tórax esquerdo, uma reacção mais distal (uma resposta evocada distal) – a abdução do membro inferior direito. O mesmo movimento de base poderá levar a respostas diferentes em diferentes doentes. Por exemplo, numa outra doente, a “mesma” flexão lateral da cabeça para a direita produz movimentos involuntários no membro superior esquerdo. Já a rotação da cabeça para a esquerda produz, nesta doente, uma elevação do hemi-tórax direito e uma elevação da hemi-pélvis esquerda. Seria de esperar que, nesta doente, a rotação da cervical para a direita produzisse os mesmos efeitos mas em espelho que os produzidos no caso anterior (ou seja, a elevação do hemi-tórax esquerdo e da hemi-pélvis direita). Mas não é exactamente isso que acontece. Com a rotação cervical direita surge uma elevação do hemi-tórax esquerdo maior do que a que se tinha produzido no outro lado, e uma concavidade na zona lateral esquerda baixa do tronco (não se produzindo qualquer reacção na bacia ou membro inferior à direita) [significando isto, portanto, que o corpo tem realmente um comportamento assimétrico].
A avaliação inclui igualmente a palpação. Pode ser utilizada para avaliar as deformidades cervicais, assim como os resultados de determinada manobra terapêutica.
As deformidades surgem nos doentes com diferentes intensidades, dependendo em muito da posição de manifestação das mesmas. Toda a deformidade irá partir da dupla lordose cervical – lombar, como se tudo dependesse de duas forças: uma que passa de trás para a frente e de baixo para cima na lombar, e outra que passa na cervical de trás para a frente e de cima para baixo. A progressão destas curvaturas pode dar a impressão de existir uma curvatura de natureza dorsal aumentada [a cifose é portanto uma mera aparência]. A aparência da hipercifose tem dado azo a que muitos terapeutas tentem tratar as deformidades com o fortalecimento da musculatura dorsal [tratamento tradicional]... Ora, para o reconstrutor [e para qualquer mézièrista] a zona de transição dorsal é consequente de uma outra zona (lordose).
É preciso também acrescentar que a zona de “protuberância posterior” é quase sempre maior à direita da linha média [está associado à nossa escoliose “natural”], na região dorsal, havendo uma zona de concavidade direita lombar; as forças passam nesta zona “lordótica”, assim como numa zona de lordose acima da dorsal (outra concavidade direita), e vão remeter para a zona do hemi-tórax esquerdo, fazendo com que exista tendência para a sua elevação [o que explica a grande prevalência da citada deformidade nas pessoas hiperlordóticas e escolióticas]. A citada deformidade pode remeter para o aumento da lordose global posterior e para a elevação do tórax, sempre com assimetria; todas estas observações são fundamentais para a intervenção do reconstrutor.
Como já foi dito, a manobra do reconstrutor tende a agravar inicialmente a deformidade, pelo que a deformidade tem de ser bem conhecida. A escolha das posturas e dos movimentos a realizar depende muito da natureza das deformidades existentes. A manobra será considerada mais efectiva se produzir mais facilmente a deformidade a um nível distal. O trabalho deve também ser acompanhado de um treino respiratório constante. O reconstrutor adapta o trabalho de respiração a cada doente e insiste nesse trabalho ao longo das sessões.
[Como já foi dito], a fase de agravamento da deformidade tem de ser seguida de uma fase de exaustão da tonicidade, de modo a haver correcção. A correcção marca o fim da manobra. Para além da “capacidade deformante” do movimento ou postura correctora, é preciso também atender ao tamanho do braço de alavanca, sendo que será tanto mais eficiente a correcção quanto maior o citado, razão pela qual o reconstrutor sistematicamente trabalha à maior distância possível da zona a corrigir. O sucesso da sessão de tratamento depende também da capacidade que o doente tem para manter a indução pelo tempo suficiente até que surja uma resposta protectora de co-contração.
[Explicação da importância da avaliação por fotografia e radiografia]
Por vezes, a intensidade das respostas induzidas pelos estímulos do tratamento levam a que existam respostas tónicas excessivas como o clónus. Quanto maior a quantidade de reacções de tonicidade excessiva maior é a necessidade de realizar mais sessões de tratamento. Inclusivamente, um programa de exercícios para casa é normalmente necessário. O prosseguimento de um programa de trabalho de Reconstrução Postural implica um estado imprescindível de motivação.
As contra-indicações da Reconstrução Postural incluem: infecção, caso recente de cancro, e gravidez de alto risco.
De muitas maneiras, a Reconstrução Postural pode ser considerada uma quebra da tradição do trabalho de Mézières. Mas, à semelhança de muitos outros métodos, a Reconstrução Postural pode ser considerada como uma evolução do original.
[Informações sobre a formação em Reconstrução Postural na Universidade Louis Pasteur].
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A Reconstrução Postural constitui um método de fisioterapia único que emergiu em 1992. Foi desenvolvido a partir do trabalho de Françoise Mézières, a famosa fisioterapeuta francesa que morreu em 1991. Este método consiste num sistema de técnicas desenhadas para normalizar a tonicidade muscular inerente às mudanças musculares. As modificações musculares e de alinhamento biomecânico são tratadas por um método baseado na evidência...
Similarmente a qualquer outra forma de reabilitação, o objectivo da Reconstrução Postural consiste no alívio da dor do sistema músculo-esquelético e na restauração da função. Desde 1992, a Reconstrução Postural tem tido um longo percurso de trabalho teorético e clínico/prático. O famoso método Mézières, um método fundamentalmente empírico e marginal, tornou-se num trabalho de utilização corrente. O trabalho de Mézières, os seus fundamentos da teoria biomecânica e a sua personalidade carismática contribuíram para atrair milhares de fisioterapeutas de todo o mundo interessados em aprender sobre o método controverso e ousado a partir da própria criadora (Françoise Mézières).
Dez anos depois da morte de Mézières, um observador/estudioso do método da Reconstrução Postural só pode encontrar nele nada mais do que alguns traços do método Mézières. A Reconstrução Postural é actualmente um método autónomo, com técnicas e tácticas próprias, para além de possuir uma independente identidade conceptual.
A Reconstrução Postural: O que é?
Há vários séculos que os “terapeutas” têm tentado entender a origem e o mecanismo das deformações do corpo humano e do seu sofrimento. Os métodos de tratamento costumam ser escolhidos a partir da orientação do terapeuta e da forma como este avalia o alinhamento biomecânico do doente. Assim como algumas pessoas olham para “as montanhas e picos” que naturalmente atraem o olhar, é também verdade que o terapeuta olha de maneira análoga para o conjunto do corpo humano. Ou seja, os terapeutas [e outros profissionais de saúde] têm uma maior tendência para perspectivar os escarpins e as cifoses do corpo antes de olharem para as lordoses. Consequentemente, qualquer tentativa para imaginar o mecanismo responsável pela deformação mecânica presente no corpo do paciente leva a que o observador tenha em consideração o factor gravítico e a inabilidade dos músculos de se contraírem para contrariar a força da gravidade. De facto, todas as técnicas e terapias que se baseiam nesta interpretação das deformações [ou seja, as deformidades com causa em músculos fracos que não conseguem contrariar a força gravítica] tendem a valorizar o papel do “fortalecimento” de certos músculos, como o ‘erector da espinha’. Estas técnicas, todas elas promovem o fortalecimento muscular enquanto estratégia de tratamento da dor e disfunção.
A partir do momento em que os terapeutas passam a concentrar-se no papel das ‘lordoses’ ou concavidades do corpo, o aspecto dominante do corpo que acaba por sobressair consiste num encurtamento muscular que provoca o achatamento destas depressões. O conjunto das lordoses cervical e lombar estão na origem de uma outra zona – dita de transição – que possui o aspecto de uma cifose (dorsal).
Existem inúmeras técnicas de stretching muscular que estão já de acordo com esta forma de ver as deformidades mecânicas. Ainda que muitas dessas técnicas sejam realizadas de uma forma “global”, elas não permitem a correcção manual e individual do terapeuta [portanto, não permitem a correcção das compensações] e o trabalho num sistema neuro-músculo-esquelético visto como um todo. O trabalho de reeducação postural não pode ser feito como se o corpo fosse meramente um elástico gigante.
É preciso entender que os músculos que estão envolvidos nas deformidades posturais possuem uma organização em “cadeias musculares”, o que quer dizer que estão unidos entre si como se fossem “trilhos”. Há quatro cadeias musculares no corpo humano: a longa cadeia posterior, a cadeia anterior da coluna cervical, a cadeia anterior da zona lombar e a cadeia braquial.
Desde há uns tempos para cá que diversos estudos electromiográficos têm demonstrado que o equilíbrio é mantido por contracções musculares constantes e mínimas. Consequentemente, pode perceber-se que as deformidades biomecânicas não são provocadas por fraqueza muscular, assim como as técnicas de reeducação postural não podem partir do fortalecimento muscular.
Nos seres humanos, a posição de pé é controlada pelo tónus muscular, resultando de um controle central inconsciente e involuntário. A Reconstrução Postural baseia-se no pressuposto de que as deformidades biomecânicas e posturais têm origem em desequilíbrios do tónus muscular. Assim sendo, uma terapia, para ser bem sucedida na correcção das deformidades posturais, tem de se basear em técnicas de normalização do tónus muscular postural.
Outros métodos que seguem um modelo semelhante, diferentes da Reconstrução Postural, como o PNF, visam a correcção de desequilíbrios tónicos posturais. Nestes métodos, são utilizadas técnicas de evocação e/ou facilitação da função de modo a induzir respostas distais evocadas. Apesar de a “resposta evocada” ser produzida por uma “indução” específica, ela pode ser generalizada a outros locais...
Em termos de tratamento, as respostas evocadas mais interessantes são aquelas que estão relacionadas com o exacerbar de uma hipertonicidade preexistente, respostas que podem surgir num ponto muito distante do estímulo inicial. Por exemplo, num determinado movimento dos tornozelos do doente [na postura de alongamento da cadeia posterior com o doente deitado em decúbito dorsal e com os membros inferiores elevados, contacto manual do terapeuta nos pés do doente], o terapeuta pode estar a influenciar a posição da cabeça [através do jogo de compensações próprias do corpo], procurando “forçar” a reacção compensatória, agravando-a de propósito, até que surja um novo estímulo capaz de produzir uma resposta correctiva final. Nas imagens [do vídeo], pode ser verificada uma primeira reacção de rotação e flexão lateral da cabeça [como resposta a um estímulo dado no tornozelo]. Este primeiro “estádio” consiste na indução de uma resposta evocada que resulta no exacerbar da deformidade. O segundo estádio consiste na provocação de um estado de exaustão da resposta de hipertonicidade [a tal resposta na forma do acréscimo da deformidade], sendo que se pode observar o regresso da cabeça a uma posição neutra; a manutenção desta posição de neutralidade por vários minutos ira esgotar a reacção patológica de hipertonicidade, assegurando a estabilidade da nova reacção correctora. À semelhança do que acontece com a “terminologia biomecânica”, a distância entre o ponto onde o terapeuta induz a resposta [que podíamos muito bem de apelidar de “ponto-chave de controle”... por motivos lógicos de quem conhece minimamente o método Bobath] e o ponto onde a resposta surge corresponde ao “braço da potência”. Quanto maior o braço de alavanca referido, ou seja, quanto maior a distância entre o ponto de evocação da resposta e o ponto onde esta surge, mais efectivo é o processo de congestão da hipertonicidade e, portanto, de produção de uma resposta correctiva.
O tratamento pela Reconstrução Postural
Depois de ter sido obtido o historial médico do doente, o tratamento pela Reconstrução Postural inicia-se com um sistema completo de avaliação. A avaliação inclui a análise da dinâmica dos desequilíbrios tónicos musculares existentes, assim como se estende à estratificação de estratégias de tratamento com o doente em causa. Por razões que estão relacionadas com a “fiabilidade da avaliação”, esta é realizada sempre com o doente na mesma posição, ou seja, com o doente completamente encostado a uma parede; de resto, toda a avaliação tende a ser feita em posições “naturais”. Nenhumas instruções são dadas, nenhumas correcções são realizadas. O reconstrutor avalia meticulosamente todas as deformações, sendo que o doente é avaliado em quatro posições: anterior, posterior, direita e esquerda. E depois, numa posição especificamente determinada, o doente é avaliado com a posição de flexão à frente com as mãos a tocarem no chão. E, finalmente, o doente é avaliado na posição de decúbito dorsal.
Posteriormente, é realizada a avaliação dinâmica das compensações. Para isso, o reconstrutor faz uso de um conjunto de movimentos fisiológicos estereotipados na mais “fechada” das amplitudes. Estes movimentos exacerbem as deformidades existentes, permitindo a avaliação dos problemas da Estática. Por exemplo, durante a elevação da perna esticada [semelhante ao Straight Leg Raising], a cadeia posterior vai estirar até ao nível da pélvis, comportando-se como uma polia. Isto vai aumentar a tensão e respectiva deformidade na parte superior da cadeia posterior [cervical], permitindo confirmar a existência de um problema de retraimento muscular.
Continuando com a avaliação dinâmica, o reconstrutor conduz o doente através de movimentos fisiológicos específicos, avaliando a intensidade das respostas e a simetria corporal. Estas respostas irão variar de indivíduo para indivíduo. Um exemplo: a flexão lateral esquerda da cervical produz, no doente, a elevação do hemi-tórax direito. Já a flexão lateral direita da cervical produz, para além da elevação do hemi-tórax esquerdo, uma reacção mais distal (uma resposta evocada distal) – a abdução do membro inferior direito. O mesmo movimento de base poderá levar a respostas diferentes em diferentes doentes. Por exemplo, numa outra doente, a “mesma” flexão lateral da cabeça para a direita produz movimentos involuntários no membro superior esquerdo. Já a rotação da cabeça para a esquerda produz, nesta doente, uma elevação do hemi-tórax direito e uma elevação da hemi-pélvis esquerda. Seria de esperar que, nesta doente, a rotação da cervical para a direita produzisse os mesmos efeitos mas em espelho que os produzidos no caso anterior (ou seja, a elevação do hemi-tórax esquerdo e da hemi-pélvis direita). Mas não é exactamente isso que acontece. Com a rotação cervical direita surge uma elevação do hemi-tórax esquerdo maior do que a que se tinha produzido no outro lado, e uma concavidade na zona lateral esquerda baixa do tronco (não se produzindo qualquer reacção na bacia ou membro inferior à direita) [significando isto, portanto, que o corpo tem realmente um comportamento assimétrico].
A avaliação inclui igualmente a palpação. Pode ser utilizada para avaliar as deformidades cervicais, assim como os resultados de determinada manobra terapêutica.
As deformidades surgem nos doentes com diferentes intensidades, dependendo em muito da posição de manifestação das mesmas. Toda a deformidade irá partir da dupla lordose cervical – lombar, como se tudo dependesse de duas forças: uma que passa de trás para a frente e de baixo para cima na lombar, e outra que passa na cervical de trás para a frente e de cima para baixo. A progressão destas curvaturas pode dar a impressão de existir uma curvatura de natureza dorsal aumentada [a cifose é portanto uma mera aparência]. A aparência da hipercifose tem dado azo a que muitos terapeutas tentem tratar as deformidades com o fortalecimento da musculatura dorsal [tratamento tradicional]... Ora, para o reconstrutor [e para qualquer mézièrista] a zona de transição dorsal é consequente de uma outra zona (lordose).
É preciso também acrescentar que a zona de “protuberância posterior” é quase sempre maior à direita da linha média [está associado à nossa escoliose “natural”], na região dorsal, havendo uma zona de concavidade direita lombar; as forças passam nesta zona “lordótica”, assim como numa zona de lordose acima da dorsal (outra concavidade direita), e vão remeter para a zona do hemi-tórax esquerdo, fazendo com que exista tendência para a sua elevação [o que explica a grande prevalência da citada deformidade nas pessoas hiperlordóticas e escolióticas]. A citada deformidade pode remeter para o aumento da lordose global posterior e para a elevação do tórax, sempre com assimetria; todas estas observações são fundamentais para a intervenção do reconstrutor.
Como já foi dito, a manobra do reconstrutor tende a agravar inicialmente a deformidade, pelo que a deformidade tem de ser bem conhecida. A escolha das posturas e dos movimentos a realizar depende muito da natureza das deformidades existentes. A manobra será considerada mais efectiva se produzir mais facilmente a deformidade a um nível distal. O trabalho deve também ser acompanhado de um treino respiratório constante. O reconstrutor adapta o trabalho de respiração a cada doente e insiste nesse trabalho ao longo das sessões.
[Como já foi dito], a fase de agravamento da deformidade tem de ser seguida de uma fase de exaustão da tonicidade, de modo a haver correcção. A correcção marca o fim da manobra. Para além da “capacidade deformante” do movimento ou postura correctora, é preciso também atender ao tamanho do braço de alavanca, sendo que será tanto mais eficiente a correcção quanto maior o citado, razão pela qual o reconstrutor sistematicamente trabalha à maior distância possível da zona a corrigir. O sucesso da sessão de tratamento depende também da capacidade que o doente tem para manter a indução pelo tempo suficiente até que surja uma resposta protectora de co-contração.
[Explicação da importância da avaliação por fotografia e radiografia]
Por vezes, a intensidade das respostas induzidas pelos estímulos do tratamento levam a que existam respostas tónicas excessivas como o clónus. Quanto maior a quantidade de reacções de tonicidade excessiva maior é a necessidade de realizar mais sessões de tratamento. Inclusivamente, um programa de exercícios para casa é normalmente necessário. O prosseguimento de um programa de trabalho de Reconstrução Postural implica um estado imprescindível de motivação.
As contra-indicações da Reconstrução Postural incluem: infecção, caso recente de cancro, e gravidez de alto risco.
De muitas maneiras, a Reconstrução Postural pode ser considerada uma quebra da tradição do trabalho de Mézières. Mas, à semelhança de muitos outros métodos, a Reconstrução Postural pode ser considerada como uma evolução do original.
[Informações sobre a formação em Reconstrução Postural na Universidade Louis Pasteur].
3 comentários:
Oi, Luis
Vim aqui tirar uma dúvida. Vc que tem formação em pilates, poderia me dizer se o pilates aumenta o tônus muscular e se esse tônus se mantém, mesmo a pessoa parando de fazer????? Ou se apenas uma ginástica tradicional aumentaria este tonus e se manteria mesmo parando a atividade?
O Pilates básico, feito sem compensações, poderá ajudar no aumento do tónus do transverso e soalho pélvico. Esse aumento poderá manter-se parcialmente por algum tempo, dependendo do estilo de vida e hábitos posturais das pessoas.
Se feito com demasiada intensidade, o Pilates, assim como qualquer outra ginástica, tende a aumentar o tónus global, e muito provavelmente da musculatura tónica com tendência para o encurtamento. Sendo esta musculatura de natureza hipertónica, o aumento do seu tónus é desaconselhado e, infelizmente, tende a perdurar...
Obrigada por sua resposta, Luis.
A dúvida surgiu, pois um médico que me consultei, devido a dores fortes na cervical, disse que deveria fazer apenas ginática, pois o RX não revelou nada na cervical e apenas uma pequena escoliose dorsolombar e que apenas a ginástica melhoria minha postura. Sugeriu até uma hidroginástica, mas qdo disse que faria pilates tb, me respondeu que o pilates ajudaria muito,mas não tonificaria meus músculos e que eu precisava de ginástica clássica com enfase na coluna. Não creio que só a ginástica irá dominuir minhas dores na cervical, uma vez que já pratiquei atividades fisicas, como a natação, por alguns anos seguidos e neste periodo nunca tive melhora da dor. Muito pelo contrario, sentia até mais dores na cervical e nas costas nos dias que nadava. Concordo com o médico da necessidade de se praticar uma atividade fisica, mas pelo simples fato do resultado do exame não ter dado nada e mesmo assim eu relatar dores fortes, acompamhadas de cefaleia, acho que ele poderia ter me indicado um especialista em outra área, para tentar descobrir a causa. Não é pq os resultados do RX foram bons que não siginifique que não tenha algum problema que cause dor, ele pode apenas não estar no mesmo local dos sintomas. Bom o que sei é que vou mesmo fazer pilates, pois não sou fã de academias, onde grande parte das pessoas só frequentam pensando no no culto ao corpo e não na saúde.
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