sábado, janeiro 31, 2009

Princípio do Prazer vs. Princípio da realidade

Ultimamente tenho sentido uma necessidade de orquestrar uma escrita que pode ser designada como de “auto-ajuda”. Não é uma coisa sentida como propositada. Apenas revela o meu “estado de alma”. Pois a vida é realmente feita de “estados” e de “espíritos passageiros”, mas aquilo que agora digo ser efémero diz respeito a uma duplicidade muito mais global e inconsciente do que possamos à partida pensar: é o binómio “princípio do prazer” vs. “princípio da realidade”.
Este binómio perfaz a primeira “tópica” da psicanálise freudiana. Sem querer “evangelizar” seja quem for, devo dizer que para mim a Psicanálise explica o mundo de uma forma bastante mais plena do que qualquer conceito ou teoria supostamente “científica”. É claro que a Psicanálise, assim como o marxismo e outros grandes Conceitos de fulgor histórico indescritível, não é popperianamente falsificável, portanto não é Ciência. Mas é, a meu ver, uma forma de descrição da Realidade bastante mais sagaz do que aquela que é dada por qualquer ciência.
Mas voltando à tópica de Freud. Para o mesmo, o mundo, e o seu equilíbrio, estaria dividido entre os instintos, o prazer, e as Estruturas sociais, a Realidade. A maturidade advém da equilibração perfeita entre os dois princípios. Pois que nem o homem é só Prazer, senão seria animal, nem é só Realidade, porque senão seria autista, ou, no mínimo, obsessivo!
Mas aquilo que pretendo defender é que nesta duplicidade entre prazer e realidade, coração e razão, ou “Vénus de Milo” e “Binómio de Newton”, todos temos, mais cedo ou mais tarde, independentemente do tipo de ligações bem arredadas existentes entre os dois pólos do “binómio”, que fazer uma escolha: ou somos mais científicos ou somos mais teoréticos. Ou somos mais pela Fisioterapia científica e convencional, género “Evidenced based practice”, ou somos mais pela Fisioterapia conceptual, aquela que é, de certo modo, postular e acientífica. Acientífica se compreendermos por “ciência” aquilo que os “convencionais”, os “positivistas”, concebem como “método científico”. Pois, tradicionalmente, “Ciência” constitui conceito só redutível aos estudos nomotéticos e com amostras de vários sujeitos. Mas, se virmos o “Logos” não tanto como “método” (no sentido convencional do termo) mas mais como “Conhecimento”, então, acabamos por ter de incluir na palavra ‘Ciência’ aquela forma relativista de ver as coisas a que alguns chamam “pós-modernismo”. Tudo isto para dizer que métodos como a Psicanálise ou a Reeducação Postural podem ser vistos nos termos relativos à Ciência pós-moderna. Ciência que para a maioria dos clássicos cientistas não é ciência porque não tem método científico. Método que para os relativistas é tão aceitável como qualquer outro dito “científico” ou não. E nesta circularidade podíamos continuar eternamente até chegarmos à conclusão que a Epistemologia é uma eterna aporia filosófica.
Mas, voltando ao assunto, diria que as pessoas que caem para o lado do meu método, a Reeducação Postural, têm, de certo modo, de se desligar da cientificidade da Fisioterapia tradicional, aquela que é sobrevalorizada nos cursos superiores de Fisioterapia e nos múltiplos mestrados e doutoramentos, e abraçar uma forma de ver a Realidade que tem a ver com uma Integralidade não redutível a um método de “ciência positiva”.
É uma escolha a fazer na duplicidade “prazer-teoria” vs. “realidade-ciência clássica”. Eu fiz a minha escolha! E, portanto, abandono os métodos científicos dos cursos para arreigar uma escrita meio “método” meio “literatura”. Que os outros profissionais façam também a sua escolha. Raramente nas licenciaturas é possível fazer tal escolha. Estão tão agarradas ao método científico clássico que a Teoria quase que só aparece nos temas mais sensíveis. Claro que o Conceito também faz parte da linha mental dos fisioterapeutas. Qual de vós não ouviu falar do método Bobath? Qual de vós não viu já alguém defender esse método com veemência e até algum “fanatismo”?... Quando estava na licenciatura no Alcoitão, criticava aqueles que se destituíam de “Ciência” para defender um método com tão pouca base científica quanto o método Bobath. Agora, que eu próprio caí num Conceito, compreendo a visão daqueles que defendiam Bobath. E até concordo que os diversos métodos de Reeducação Postural (que incluem a componente neurológica) e os vários métodos de Intervenção Neurológica (que incluem métodos de intervenção postural) podem ser unidos numa só “substância”, num só conceito... um conceito de Visão de corpo enquanto “matéria global” que deve ser tratada sem fortalecimentos e compensações, e deve ser vista sempre pela via da “inibição dos excessos tónico-músculo-fasciais”. Esta construção teorética pode e deve ser feita por alguém. Esta compreensão nominalista, que já citei algures num texto intitulado “Navalha de Ockham”, tem de ser realizada. Se não, o fisioterapeuta não passará de um investigador limitado ao método positivo, sem a capacidade para ver a Pessoa na sua integralidade, que denomino, de uma vez por todas, de “Morfo-psico-análise”.
Qualquer semelhança entre esta conversa e a distinção entre método biomédico/biomecânico vs. método holístico/bio-psico-social é pura coincidência... sempre a duplicidade Prazer vs. Realidade. Sempre essa lição tão liminar de Freud, um homem que muito admiro pela sua grandeza teorética.
Fica, agora, um desafio: existe um livro pequenino mas obrigatório para se ler, para quem se interessa por Epistemologia, Ciência, e Pós-modernismo. É uma espécie de manifesto pós-modernista relativamente ao qual temos a liberdade para concordar ou não concordar. Apesar de nem sequer gostar de Boaventura de Sousa Santos (autor do livro), a obra, que se lê num dia, intitulada “Discurso sobre as ciências” (Edições Almedina), pode modificar as nossas vidas. A mim tirou-me o sono, pela perplexidade do seu conteúdo. É que a obra defende um método que se afasta da Tradição e, portanto, complica a nossa mente “disciplinada”. Leiam o livro, peço-vos! Pois, nos cursos científicos de Fisioterapia, nos mestrados e outras “tretices”, este livro é muitas vezes propositadamente negligenciado!...

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Morfoanálise e outras (des)loucuras

É difícil explicar às pessoas a verdadeira natureza da Reeducação Postural. Hoje mesmo, quando tratava um rapaz “normal”, com uma escoliose e com “traços” de hipertonicidade muscular, quando via o quanto ele tremia com o meu contacto manual, e o quanto o corpo dele compensava com as tentativas de alongamento global, vi, melhor do que nunca, o poder da visão “Global” e nominalista que importa à teoria das Cadeias musculares. Um bom terapeuta de Reeducação Postural, um bom terapeuta capaz de lidar com aquela situação que denuncia uma destruturação muito mais global do que meramente “física” implica uma PESSOA, um ser humano integral. E, hoje mesmo, perante aquele rapaz que possui uma relação conflituosa com o seu corpo e consigo mesmo (psiquicamente), apercebi-me o quanto o trabalho do terapeuta é de um nível de Globalidade psicofísica só verdadeiramente “entendível” por quem consiga olhar o seu próprio interior. Portanto, o bom terapeuta de Reeducação Postural não é propriamente aquele que possui cursos atrás de cursos ligados à área. É aquele que é capaz de escapar ao “engate” ou à “ilusão” desses tantos cursos e/ou formações que existem (percebendo que, por trás disso tudo, há uma máquina comercial de exploração do terapeuta recém-licenciado... e, portanto, metodologicamente inseguro), conseguindo tornar-se uma extensão do corpo do doente. O corpo do doente passa a ser uma parte de nós e nós tentamos compreender esse corpo como um TODO. Se compreendermos a mecânica fundamental da “coisa”, então passamos a entender que não há cursos ou formações que substituam a experiência in vivo. Não há “RPGs” ou “Cadeias musculares” que me possam ensinar a ver e a “sentir” (porque é de “sentir” que verdadeiramente se trata) como vi e senti a extensão corporal deste meu doente único e singular.
Em última análise, o método “morfoanalítico” chegou à mais correcta designação possível para o trabalho em “Cadeias musculares”. Porque o nosso trabalho é mesmo o de uma análise constante, um ajuste de compensações constante, aliado à compreensão das “sensações” do doente. A Reeducação Postural, incluindo o sistema de defesas e reflexos do corpo, é uma morfoanálise! Está, portanto, para a Fisioterapia convencional e científica como a Psicanálise está para a Psiquiatria convencional e científica.
O trabalho em Reeducação Postural releva de uma Teoria de tal forma postular e quase tautológica, que não há qualquer tipo de Ciência que possa infirmar as observações paradigmáticas de Mézières e os princípios fundamentais subjacentes à “teoria das Cadeias musculares”. Portanto, defendo que este género de terapeutas morfoanalistas será sempre um género “outsider”, “estrangeiro” relativamente à Fisioterapia “científica”, aquela que é supostamente a Verdadeira.
Também a Psicanálise é pouco compreendida pela maioria dos psicólogos e psiquiatras. E ela criou as suas próprias revistas e formas de afirmação, quando as revistas científicas não davam aos psicanalistas chances de se exprimirem.
Também eu, enquanto mézièrista, tenho dificuldades em passar a fragrância do método Mézières para artigos científicos. Este tipo de Teoria ou Conceito só pode ser exprimido em artigos ditos de “Opinião”, que são, na realidade, os que mais adoro fazer.
O livro que publiquei teve como principal fundamento isso mesmo: publicar algo impublicável na maioria das revistas “técnicas”. E sei que somente uma parte das pessoas que o lerem compreenderão em que consiste o conceito de Anti-Fitness. Diria que o conceito de Anti-Fitness se aproxima muito do conceito de “Traição do Eu” de Arno Gruen. Para este psicanalista, quase todos nos traímos diariamente nesta nossa sociedade da ilusão e da alienação. Todos tentamos chegar lá “acima” por meio do sucesso profissional e académico, quando no fundo o que interessa é o grau de cisão com o nosso interior. Daí Gruen falar da “Loucura da normalidade”.
Também a Reeducação Postural é uma forma de loucura, pois sai fora dos cânones de academismo. E o verdadeiro terapeuta não é, de facto, o que tem as melhores notas ou o que tem mestrados e mil doutoramentos, mas sim aquele que concebe o doente como um Todo, e que concebe a Totalidade das coisas como uma Totalidade que o envolve a ele mesmo física e psiquicamente.
Como falar do inexprimível? Como explicar este conceito ao fisioterapeuta que diz “faz natação” ou ao médico que diz “ele precisa de um reforço muscular”? Como explicar que a Verdade parece, na realidade, estar mais numa minoria, a qual não possui voz suficientemente audível? Como fazer frente a esta injustiça global de que a Verdade esteja nas minorias? Como fazer relativamente ao facto de, à semelhança do que acontece com Nietzsche ou, mais modernamente, Woody Allen, que nada podemos fazer face à realidade da ausência de Justiça Divina, uma justiça que torne tudo “Justo e real”?...
Para o alienista de Machado de Assis, as minhas afirmações seriam loucura num tempo e a maior desloucura noutro tempo. Pois o que é a Verdade? Ou as Verdades?...
E podia continuar a escrever eternamente...
Exprimam-se agora vocês leitores, mostrando a vossa força.

sábado, janeiro 24, 2009

Podemos confiar na Ciência?... A importância da epistemologia e a especificidade das ciências da saúde

Desde os antigos gregos que o poder do ‘Logos’ tem sido relevado enquanto matéria quase mítica. A filosofia, e em particular a teoria do conhecimento, tem-se interessado pela Verdade, sendo que, mais tardiamente, no tempo de Galileu, ter-se-á inventado o conceito de “ciência moderna”. E, a partir daí, desde o século XVI, até à actualidade, a Ciência tem-se afirmado enquanto sinónimo de Verdade, assim como tem permitido a transformação – tanto tecnológica, quanto ideológica – do mundo. Mas será a Ciência aquela “Pedra filosofal” em que todos parecem confiar? Será que podemos realmente confiar no “método científico” enquanto meio de encontro da Verdade? Será que a Ciência actualmente realizada no mundo moderno possui a validade que a maioria das pessoas tão robustamente lhe atribuem?... É disso que falarei a seguir, enquanto investigador na área da Saúde e articulista de diversas revistas científicas.
Na realidade, muito pode ou poderia ser dito sobre Ciência e o método que a consubstancia, mas, a meu ver, são três as fases fundamentais de construção de um método dito expressamente “científico”. A ciência moderna foi primacialmente substanciada pelas descobertas de Copérnico e Galileu, e epistemologicamente teorizada pelo positivismo lógico. Segundo o “clássico” método científico, a observação norteia as hipóteses científicas, as quais poderão ou não ser confirmadas pela experimentação. Esta é a ciência mais “típica”, baseada na observação e no processo de generalização indutiva, e é a força motriz das ciências ditas “exactas”. Foi preciso aparecer um homem de nome Karl Popper (1902-1994) para que esta ciência “indutiva” fosse questionada, assim como a tendência inequívoca dos investigadores para quererem forçosamente “confirmar” as suas teorias. Segundo Popper, e o seu método do “Racionalismo crítico”, um investigador nunca deveria fazer por “confirmar” as suas próprias teorias, pois acabará, mesmo que inconscientemente, por concluir aquilo que deseja efectivamente concluir. Assim sendo, a ciência deveria basear-se na “refutação”, na “falsificabilidade”, na tentativa de detectar erros nas teorias aceites como “certas e irrefutáveis”. A ciência de Popper é dedutiva e, apesar de o filósofo admitir a existência de uma Realidade exterior única inolvidável, toda a teoria não passa de mera conjectura, e portanto, toda a ciência possui uma categoria de efemeridade. Finalmente, no final do século XX, surge, a partir do conceito de “paradigmas” de Thomas Kuhn, uma ciência dita “pós-moderna” – representada, em Portugal, por Boaventura de Sousa Santos – a qual admite que a Verdade está totalmente dependente das idiossincrasias socioculturais e pessoais adstritas ao próprio cientista. Para os pós-modernistas, existe um relativismo absoluto e não existe uma Ciência no verdadeiro e axiológico sentido do termo.
Esta última modalidade epistemológica de ciência é comum essencialmente às ciências sociais e humanas. Nas ciências exactas, tal paradigma epistemológico aparece consubstanciado pelo “princípio da incerteza” de Heisenberg e pelo teoria do Caos.
Estas diferenças epistemológicas não são, infelizmente, do conhecimento da maioria dos cientistas portugueses. Aliás, pessoalmente conheci doutorados em química e física que nunca ouviram falar, por exemplo, de Popper ou do “Discurso sobre as ciências” de Boaventura de Sousa Santos. Para muitos deles a ciência continua a gerir-se pelo paradigma “positivista”. E assim sendo, o processo científico continua a realizar-se através de confirmações de hipóteses de cientistas nem sempre “inocentes”. Isto é o mesmo que dizer que, com uma ciência feita de “confirmações”, e que desvaloriza a importância do erro e da infirmação de hipóteses, os cientistas acabarão muitas vezes, mesmo que inconscientemente, por concluir aquilo que efectivamente desejam concluir. Este processo é semelhante ao efeito Pigmaleão dos professores relativamente aos seus alunos, o qual diz que os professores tendem a tratar os alunos de acordo com as expectativas pré-realizadas dos mesmos.
Que todos os problemas da Ciência fossem estes!... Mas, para além da ignorância relativamente à Epistemologia, é comum os investigadores possuírem grande ignorância metodológica. Por outro lado, é um facto de que muitos dos estudos publicados em revistas científicas são baseados nos estudos de licenciatura ou de mestrado de indivíduos pouco experimentados. E isso limita a “força” do processo científico.
Quanto às revistas científicas, em particular as revistas médicas, muitas são aquelas as que publicam artigos com erros crassos de estatística. Como se já não bastasse os estudos basearem-se em generalizações com poder meramente probabilístico!... (por exemplo, as ciências da Fisioterapia estão fortemente dependentes da Estatística, sendo que esta pode ser falaciosa nas suas médias e significâncias). É claro que a qualidade das diferentes revistas é notória! Há revistas que possuem fortes compromissos éticos e bons revisores. Mas há outras que são sensíveis a lóbis, ou então possuem revisores menos conscienciosos (ética e/ou metodologicamente). Depois, temos os critérios de publicação nas revistas. A grande maioria das revistas médicas aceita artigos referentes a estudos sem pedir simultaneamente um comprovativo de que o estudo em específico foi realmente efectuado, ou sem pedir comprovativos referentes ao cumprimento de regras de deontologia da investigação. E não conheço nenhuma revista científica que peça, por exemplo, as bases de dados do tratamento estatístico dos dados publicados. Não seria importante demonstrar que um tratamento estatístico foi realmente efectuado?... Pois a invenção, a falcatrua, existe verdadeiramente entre os cientistas.
Para além disso, temos o próprio processo de revisão e aceitação dos artigos. Um artigo enviado para uma revista em determinada data, chega a estar um ano a ser revisto, até que, finalmente, quando ele é aceite para publicação, tende a estar mais uns tempos “no caldo” até ser publicado. O tempo que medeia entre a escrita do artigo e a sua efectiva publicação faz com que o artigo publicado esteja inequivocamente desactualizado.
Claro que não podemos imputar todas as culpas às próprias revistas. Por exemplo, as revistas não têm forma de saber se existe ou não plágio de estudos. Ou se o estudo já não terá sido publicado numa outra revista... coisa muito comum na investigação em saúde. As revistas também não podem ter garantias de que os autores do estudo estiveram realmente integrados na investigação. Quantas vezes uma investigação de um doutorado não foi maioritariamente feita pelos seus alunos... Também é difícil para uma revista controlar os estudos ditos de “revisão bibliográfica”. Nestes estudos é muito comum defendermos determinado conceito citando estudos e autores proponentes do mesmo, e negligenciando todos os estudos que infirmam esse conceito. Como controlar este processo? Que não deixa de ser uma forma de “fraude”!...
Mas o que é certo é que a “pressão” para publicar, segundo o princípio académico americano “To publish or to perish” é tanta que muitas das coisas que são feitas tornam-se quase compreensíveis... (mas mesmo assim não perdoáveis!).
Tendo em conta a “subjectividade”, determinada pela existência de todo o tipo de “linhas de estudos” muitas vezes contraditórios, existente nas ciências sociais e humanas, acabo mesmo por defender a aceitação, sem vergonha, de um certo “relativismo” para as investigações de teor humanístico. E, contrariando estas novas ciências “humanas” (como as ciências da saúde), sugiro que continue a louvar-se como verdadeira ciência, apenas aquela que, prosseguindo uma Ética e uma Metodologia inquestionavelmente autênticas, se liga à exactidão de uma Física, Química, Biologia, Matemática, entre outras, popperianamente falsificáveis. É só preciso que os tais “verdadeiros” cientistas comecem a estudar epistemologia e a saber quem afinal de contas foi Karl Popper.
Resta somente falar da relação entre a Comunicação Social e a Ciência. Sendo que a ciência é, no fundo, pelas vicissitudes inerentes ao seu método e processos, algo subjectivista, não deixa de ser criticável a forma como tantos jornalistas tratam o processo científico. Refiro-me, essencialmente, à forma, muitas vezes arbitrária, com que os jornalistas seleccionam determinados estudos, empolando aqueles que servem a um certo conteúdo feérico (e, portanto, mais vendável) da notícia. Todos os jornalistas, à semelhança dos próprios investigadores, deveriam estar bem familiarizados com a epistemologia e metodologia da investigação científica, em particular com a “falência” e/ou a fragilidade inerente a “um estudo científico”. É certo que, como já vimos, a Ciência possui limitações de várias naturezas, e nem sempre a Imprensa o tem em conta. É muito comum vermos um determinado estudo, o qual contraria centenas de outros estudos e/ou possui diversas limitações metodológicas, ser categoricamente valorizado por um jornalista de determinado Jornal ou Noticiário televisivo, ao ponto de se induzir o carácter de Verdade absoluta desse mesmo estudo. E, no fundo, o que é a Verdade, se já vimos que até a Epistemologia se funda num conjunto prolífico de contextos, num conjunto de experiências multidimensionais...
No campo específico da Saúde, e em especial na área da Fisioterapia, vemos, correntemente, métodos de tratamento de natureza antagónica ser “comprovados” por estudos, assim como assistimos à credibilização de investigações cuja “validade de conteúdo” é bastante questionável. As “ciências da saúde”, e até a ciência farmacológica, possui todos os inconvenientes das ciências “sociais”, as quais não assentam numa Certeza, mas somente numa realidade probabilística, a qual assenta na existência de margens de erro. É certo que a “ciência com base na estatística” não é uma ciência exacta! Por exemplo, os “desvios à norma” são simplesmente “eliminados” de qualquer tipo de interpretação, considerados como “desvios-padrão” pela estatística. As médias poderão eventualmente escamotear duas tendências contraditórias e desviantes. E assim por diante... poderíamos continuar eternamente a criticar as ciências ditas “não exactas”, nas quais um “facto” nunca é verdadeiramente um “facto”. A Fisioterapia está, de facto, muito afastada da biologia, mais do que gostaríamos. E assim, quando algo é “comprovado”, tal baseia-se apenas numa significância estatística, o que significa que nada foi efectivamente comprovado. E, relembrando Popper, qualquer “realidade” é totalmente temporária, podendo ser substituída mais tarde por uma realidade menos falsificável.
No domínio da Fisioterapia, penso que seria bom começar a valorizar uma outra forma de estudo científico, baseado na observação rigorosa de casos-problema. Para além do mais o rigor é fundamental. E não deixa de ser importante ter sempre em mente a publicação dos resultados, com a consciência das limitações do estudo efectuado. Se o estudo é de carácter estatístico ele é já limitado por natureza, pois basear-se-á na realidade utilitarista (das maiorias) e não na realidade “total”. Aceitemos, portanto, o processo científico como algo cuja falibilidade é pura realidade! E tentemos ser progressivamente mais rigorosos, assim como honestos em todo o processo de busca e/ou aproximação da Verdade!...

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Fisiozone

Este post é sobretudo um Obrigado. Um grande obrigado a um site, a um fórum, que é o Fisiozone.com. Confesso que não tenho dado suficiente importância ao Fisiozone, mas agora, por ocorrência da publicação do meu livro o fórum Fisiozone foi de grande utilidade. Desconheço as relações entre a Associação Portuguesa de Fisioterapeutas e a Fisiozone. Sei que tanto a Associação quanto o fórum Fisiozone.com têm dado grandes contributos à Fisioterapia de Portugal. O meu blog tem sido um contributo à "Reeducação Postural", mas, curiosamente, tem sido mais descoberto pelos fisioterapeutas brasileiros do que pelos portugueses. Aproveitaria para dizer que os nossos colegas do Brasil são, a meu ver, "mentes abertas". Nem tudo é perfeito por lá, mas tenho recebido as mensagens e os contributos mais simpáticos do Brasil. Tenho tido, também, as conversas mais construtivas e apaixonadas com colegas do "país irmão".
Espero que agora que há um link para o meu blog no Fisiozone muitos mais portugueses me descubram a mim, que nem sou pessoa fácil, ao meu blog e à Reeducação Postural em geral. Apesar de ser um pouco belicoso, e isso nota-se naquilo que escrevo, tenho, bem lá no fundo, fé. Fé nos fisioterapeutas e na Fisioterapia. Esta "fé" é, por mais incrível que pareça, simultânea com uma sensação cabal de "angústia" e "desesperança" relativamente ao meu trabalho. Acredito nos fisioterapeutas, mas tenho cada vez mais dúvidas quanto ao nosso futuro. Mas, e aqui regresso ao Fisiozone.com, certas associações, blogs e fóruns tem feito aquilo que podem. A meu ver, o Fisiozone tem feito mais pelo emprego dos fisioterapeutas do que qualquer associação ou sindicato. E no Fisiozone.com encontramos informações, notas, artigos, opiniões, tudo um pouco, tudo o que expressa o mundo dos fisioterapeutas portugueses.
Tenho esperanças que mais fisioterapeutas portugueses visitem o meu blog, assim como tenho esperanças que muitos dos brasileiros que visitam o meu blog deitem uma vista de olhos ao www.fisiozone.com.
Por fim, nos meus dias de menor depressividade, ainda acredito que devemos continuar a lutar por uma maior autonomia e qualidade de trabalho, a todos os níveis. Por vezes saio da Clínica onde trabalho com a sensação de que "o meu trabalho não produz verdadeiras diferenças nos doentes", mas há outros dias em que os próprios doentes me vêm dizer qualquer coisa que modifica a minha percepção das coisas. É na nossa relação com os doentes que reside a salvação. Imagem ou Conteúdo, não interessa o modelo de trabalho, pois o mais importante é o "toque na alma".

domingo, janeiro 18, 2009

Livro "O Anti-Fitness ou o manifesto anti-desportivo. Introdução ao conceito de Reeducação Postural" nas FNACs

Devo dizer que já é possível, desde a semana passada, encontrar o meu livro nas FNACs e, em breve, noutras livrarias. Uma versão impressa é sempre interessante e tenho a certeza que será preferível ter este tipo de publicação. Por outro lado, coloquei uma versão online tanto na Fisiozone como no Site (Link: http://www.reeducacaopostural.com/index.php?sid=110). Ao dispôr a versão on-line, aguardo a vossa ajuda para a divulgação da obra. Entretanto, já estou envolvido noutros projectos. Em breve darei mais pormenores.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Alienação

Como já aparece expresso no meu livro “O anti-fitness ou o manifesto anti-desportivo. Introdução ao conceito de Reeducação Postural”, nem sempre o que as “maiorias” expressam corresponde à Verdade. Assumindo que existe uma só Realidade dominante, e que uns estão mais próximos dela do que outros (Karl Popper), não podemos deixar de reparar no conjunto de ilusões que revestem o mundo em que vivemos. De facto, vivemos todos num mundo construído enquanto “Superestrutura”, na qual acabamos por mergulhar à força de um poderoso esforço de disciplinação e/ou educação obtida no início das nossas vidas. O mergulho cabal na idiossincrasia da Cultura em que vivemos tende a ser de tal forma estrénuo e acerbo que poucos de nós conseguem “vir à superfície”, tentando ver as coisas como elas realmente são.
O mundo é um jogo. É um complexo reduto de ilusões. E, na nossa vida de terapeutas e professores, deparamo-nos diariamente com a força tonitruante da Farsa da vida. Por vários motivos que Arno Grau denominaria de “Traição do Eu”, e que o mesmo autor tão bem escalpeliza na obra com o mesmo nome, existe uma forte tendência para que as pessoas sucumbam ao poder da ideia geral e utilitarista. Assim sendo, no contexto particular do Fitness, é comum alegar que o alongamento muscular feito a frio é perigoso e gesto a evitar. E no contexto particular das ciências médicas, é comum propugnar que a hipercifose torácica carece de um reforço muscular posterior. São, de facto, ideias intuitivas, que cedem facilmente ao facilitismo da interpretação mentalista da globalidade dos profissionais. Mas, na realidade, as coisas não são assim tão simples, e, pela minha experiência, raramente encontro um correlato entre as Maiorias e a Verdade. Precisamente porque todos tendemos ao fácil desgaste mental, e portanto à necessária conservação das forças do raciocínio, existe uma grande tendência para concordarmos com o que nos ensinaram, sem realizar qualquer tipo de crítico questionamento. E assim, o sentido do mundo esboça-se na orientação tendenciosa do que as Maiorias concebem. Este é o mundo hiper-racional e destrutivo em que vivemos. Ou, dizendo de uma forma mais simples, este é o mundo em que os milhões de CDs vendidos pela Céline Dion se atrevem a conceber tal como música, muito mais do que as liturgias de Bach. É também o mundo em que se um rapaz saudável for acusado de ser esquizofrénico por um psiquiatra de renome esse mesmo rapaz passa realmente a ser “esquizofrénico”. Ou, como é visível no fantástico novo filme de Clint Eastwood “A troca”, a realidade passa a ser o que as Instituições referem que seja. Se os factos que aparecem no filme viriam a dar origem a um movimento histórico denominado de “Anti-psiquiatria”, a alienação global referente ao mundo do Desporto é denominada por mim, de maneira limítrofe, de “Anti-fitness”.
O que pretendo dizer é, no fundo, que muito me angustia o facto de não existir uma correlação entre a Verdade e o número de pessoas que a conhecem. Ainda hoje tratei um adolescente com uma escoliose, o qual tem ouvido de médicos, fisioterapeutas e professores de Educação Física, que “as suas costas possuem pouca massa muscular e, portanto, necessitam de ser fortalecidas”. Não sei se hei-de considerar tal embrutecimento opinativo mera negligência. Mas sei que esta ideia geral de que as deformidades e/ou raquialgias estão associadas à falta de força muscular, apesar de partilhada por mais de 99% dos profissionais, não é verdadeira, sendo aliás anti-científica. E pena tenho eu de que a “mensagem” que venho propugnando há anos não tenha passado convenientemente. Mas, no fundo, é como tentar convencer os tais fãs da Céline ou da Shakira a considerarem como Música digna de ser ouvida o adágio de Albinoni ou o Requiem de Mozart.
Claro que não podemos esquecer toda aquela conversa de existirem “várias verdades”. Relativistas e pós-modernistas têm sido veementes a demonstrarem que há tantas verdades quantos os contextos pessoais e socioculturais. Eu diria que estas ideias são tão aceitáveis como a ideia de Hume de que não existe mundo exterior e que toda a realidade é produto da nossa mente. Certas Filosofias são um atentado à Filosofia propriamente dita! Devemos, portanto, assumir um relativismo relativo e nunca absoluto. Assim como devemos assumir que há pessoas mais próximas da Verdade do que outras, independentemente do peso numérico das opiniões.
Assim sendo, um dia destes gostaria que se atrevessem a pensar na validade da maioria dos estudos científicos realizados, ou na realidade de ideias feitas “mitos”. E mitos há muitos. Tantos quantas as “verdades” dos profissionais. E é realmente difícil provar, por meio dos resultados obtidos junto dos doentes, a veracidade de determinado método ou paradigma. Por exemplo, um doente melhora na sua raquialgia com exercícios de alongamento, mas também de força ou de mobilidade. No fundo praticamente quase tudo dá resultado. E um dos motivos pelos quais isso acontece é que a maioria dos exercícios são um complexo de várias qualidades físicas. Ou seja, um exercício dito “de mobilidade” é quase sempre também um exercício que exige força (e vice-versa); um alongamento é quase sempre um trabalho de força, se feito activamente. Portanto, posso dizer que o “princípio da especificidade”, tão propugnado pelos académicos do Desporto, é absolutamente absurdo. Pois na prática qualquer exercício, por mais específico que seja, envolve sempre muitos músculos, e várias qualidades físicas. Isto só por si dificulta a obtenção de estudos científicos verdadeiramente válidos e correctamente operacionalizados, pois o isolamento das variáveis é, na prática, impossível de se obter.
E como a conversa já vai longa, acabo dizendo que a Realidade é realmente complexa. E faz-me muita pena que as pessoas sejam tão banais e tão tipicamente acríticas em relação a tudo o que as envolve. Pois tudo é criticável: ciência, modelos de intervenção, métodos de trabalho. Mas são poucos os que se dão ao trabalho de efectuar o esforço necessário à crítica.

quinta-feira, janeiro 08, 2009

Ciática de origem no músculo piramidal

Já há algum tempo que tenho estado para falar um pouco de uma situação clínica muito comum que é a existência de dor ciática sem causalidade raquidiana. Segundo alguns estudos, a ciatalgia é provocada, em mais de 90% dos casos, por compressão radicular, com origem em hérnia discal. O facto de as ciatalgias terem origem, na sua grande maioria, em hérnias discais de maior ou menor gravidade, tem, de facto, levado a alguns erros de diagnóstico. Passo a explicar. Uma situação extremamente comum: um doente dirige-se ao fisioterapeuta ou ao médico queixando-se de dor na região posterior da coxa e área do membro inferior. Eventualmente poderá ou não ter outras manifestações clínicas como parestesias, hipostesia ou hiperalgesia no membro inferior. Tendo em conta os dados epidemiológicos, e percebendo que a dor em questão é uma ciática, esse mesmo profissional de saúde possui alguma tendência para perguntar ao doente se possui dores a nível da coluna lombar, ao que o doente muitas vezes responde que sim. Ora, nestes casos, muitas vezes, até sem TAC ou RM, diagnostica-se uma hérnia discal. Mas vamos atender ao facto de que o doente possui realmente exames complementares de diagnóstico que comprovam a existência de uma hérnia discal. Portanto: temos a comprovação da hérnia, as dores lombares e a ciática: um quadro característico.
Perante este quadro possuo alguma tendência para tratar com tracções, eventualmente alongamento e/ou massagem lombar, terapias manuais de diferentes espécies, como por exemplo Maitland, se a situação o permitir, e, eventualmente, trabalho do core ou Pilates, se a situação for no mínimo sub-aguda. Mas, e agora é que vem o ponto onde quero chegar, há vários casos em que todas as terapias usadas ao nível da coluna parecem não produzir efeitos na ciática (apesar de melhorarem a lombalgia). Ora, perante estas situações, tenho observado que a grande maioria dos fisioterapeutas tende a manter o trabalho na coluna de forma recalcitrante. Mas não seria mais louvável repensar a situação clínica???... Pois a realidade é que em muitos desses casos, apesar de existir hérnia discal lombar, a ciática pode não ser provocada por essa hérnia, pode ser provocada, por exemplo, por uma contratura do piramidal. Vou dizer o mesmo por outras palavras: o facto de um doente possuir simultaneamente sinais relativos à coluna e ciatalgia, tal demonstra a existência de um correlato, mas este correlato não é uma relação de causa-efeito, ou seja, apesar de as manifestações estarem presentes no mesmo doente, não devemos logo concluir que os sintomas estejam relacionados. Ou seja, a ciática desse doente pode ter uma outra origem, apesar de o doente possuir manifestações raquidianas. Daí que sempre digo que, perante estas situações clínicas, em termos de avaliação inicial, devemos tentar sempre produzir os sintomas da ciática manipulando a coluna lombar, de modo a termos a certeza que a tal ciática é efectivamente produzida pela coluna. Se suspeitarmos que a ciática não é produzida pela coluna vertebral, então realizamos a rotação externa do membro inferior com sintomas de modo a alongarmos o piramidal. Se os sintomas aumentarem temos como hipótese muito louvável a existência de uma contratura do piramidal. Assim temos um doente que tem dois quadros clínicos independentes, apesar de tudo parecer inicialmente pertencer a um só quadro clínico. Depois disso há que intervir de modo a operar sobre os dois quadros clínicos diferentes, sem que o tratamento de um acarrete o agravamento do outro.
A reeducação postural, com alongamento da cadeia muscular posterior, da qual os músculos piramidais fazem parte, pode ajudar em ambos os quadros clínicos, desde que seja feito algum trabalho local de massagem no músculo piramidal envolvido.
Por outro lado, os testes de tensão neural adversa, como o “Straight Leg Raising” ou sinal de Laségue devem ser utilizados sobretudo para orientar a terapêutica de modo a ver o antes – depois do tratamento (ou seja, não tenho por hábito utilizar a Tensão Neural Adversa como modo de tratamento, apenas como modo de avaliação).
Os conteúdos deste Post são, a meu ver, de grande importância e pertinência, pois é muito comum “o caso da ciática provocada pelo piramidal mas diagnosticada como sendo de origem raquidiana” ser tratado enquanto problema lombálgico por muitos profissionais como médicos e terapeutas. Juro por minha honra que já tive doentes que foram diagnosticados por dezenas de médicos e terapeutas sempre com base no mesmo erro. Alguns desses doentes continuavam sempre a tratar a coluna sem alívio da ciatalgia, e conheço inclusive um ou dois casos que chegaram à cirurgia à hérnia. E escuso de dizer que estes mesmos sujeitos não conheceram melhoria da sua ciática. Lembro-me particularmente bem de um doente que viveu esta situação durante anos a fio até chegar a um ponto de grande incapacidade. Este doente de pouco mais de vinte anos apareceu-me toldado de dores, a andar de canadiana, e já possuía, com a sua tenra idade, um atestado de incapacidade física, para além de uma história de grande sofrimento. Por mais incrível que possa parecer, depois de ter passado por tantas e tantas consultas médicas e clínicas de fisioterapia, nunca ninguém pensou que poderia ser mais uma daquelas relações falaciosas hérnia discal – ciática. Neste mesmo doente, quando coloquei o polegar no ventre na nádega do lado da dor, o doente soltou um grito de dor, seguido de um alívio que nunca tinha sentido. Depois de muito ter massajado a região do piramidal o doente, naquele mesmo dia, saiu sem auxílio da canadiana. No dia seguinte telefonou-me agradecendo profundamente o alívio que não sentia há anos e acrescentou que... ora esta!... não ia continuar os tratamentos comigo pois não tinha forma de os pagar. Depois de lhe dizer que poderia pagar quando fosse – e seria – capaz de trabalhar, agradeceu mas negou-se, pois, supostamente a condição de “inválido” era mais confortável!... E esta hein?...